sábado, 24 de março de 2012

Alma marcada

Você agora deveria estar na escola assistindo a uma maçante aula de geografia, mas está no pequeno parque de diversões que abriu nos arredores de Northamptonshire, onde você mora. O dia está ventoso e nublado. O parque está quase vazio, é claro, está em horário de aula. A sua esquerda você vê a tão anunciada Montanha-Russa. De perto, a bamba estrutura de madeira não era tão convidativa quanto lhe parecera na televisão. Decepcionado, você vai em direção ao brinquedo que o fascina desde a infância: o trem-fantasma.

O brinquedo dá a primeira volta no circuito. Já não era mais tão assustador quanto era quando você era criança. De repente, o carro dá uma súbita guinada para a esquerda em uma parte do circuito que você não havia visto da última vez. O ar fica frio de repente. Você lamenta não ter levado um casaco.

Após um ofuscante lampejo de luz branca, você não está mais no labirinto do trem-fantasma, mas em um campo vazio um escuro e frio anoitecer. Não havia árvores, apenas um mato baixo que chega à altura de seus joelhos. A gélida brisa sugere que a noite provavelmente será ainda mais fria. Você se arrepende mais uma vez de não ter levado um casaco. Sente também uma ponta de medo, mas se lembra de não incluir esse sentimento quando fosse contar o que aconteceu aos seus amigos.

Você se vira para trás e não vê mais de onde saiu o carro do trem-fantasma. Ao longe, avista um cinzento castelo medieval. sem opção, você caminha até ele por mais ou menos uma hora. Ao se aproximar do imponente castelo você sente um calafrio, mas mesmo assim toca a estranha campainha em forma de cabeça de serpente.

A pesada porta de madeira de lei se abre com um rangido. Atrás dela, um ser raquítico faz uma desajeitada reverência para você. Antes que o medo pudesse te dominar por completo, você sente uma forte pancada na nuca e tudo fica escuro.

Você acorda um tempo depois. Minutos, horas, dias. Você não tem noção do tempo. Vê-se em um quarto escuro, mas ricamente ornamentado em ouro e prata, formando lindos mosaicos. Subitamente você se lembra de tudo, e o medo te toma por completo. Você um pouco o quarto e nota que há uma porta. Mas você só nota a porta por causa de uma luz mortiça que pouco ilumina a sala à qual a porta o leva. Você caminha em direção à porta, mas hesita antes de entrar na sala. Não há outra porta, não há outra opção. Você entra. Suas mãos suam, seus músculos se contraem, você sente a boca seca.

Vê uma luz fraca, quase sumindo, bem no fundo da sala. Amendontrado, você caminha em direção à luz. Se você tivesse noção do tempo, jurari ter andando trinta minutos. Quando chega finalmente na fonte de luz, nota que ela ilumina um quadro. A imagem do quadro lhe é familiar. Você se lembra de tê-lo visto em algum algum filme ou livro. Lembra-se de todos o associarem a um vampiro. Mas vampiros não existem, você diz para si mesmo. Sabe que o famoso Conde Drácula devia ter sido um humano normal. Você se despera ao lembrar que tanto a sala anterior quanto a que você se encontra têm somente uma porta. Pensa em uma passagem secreta, mas não lembra de ter visto uma lareira, uma estante ou algo que poderia levá-lo para fora do castelo, e o único quadro que existe é o que está na sua frente. A moldura de ouro sugere que o quadro é muito pesado para ser movido.

Você escuta um telefone tocar. O telefone não estava lá antes. Você chega perto, mas ele desaparece como fumaça. O quadro, o chão e as paredes também somem. Você sente que está caindo. Você perde os sentidos.

Acorda um sua própria cama. Acha que foi tudo um sonho, mas ainda sente a dor da pancada na nuca. Você percebe que o telefone está tocando. Atende. logo após uma risada aguda e fria, uma voz diz:

- Aguardo sua volta...

Uma súbita e dilacerante dor recai sobre a região direita de seu pescoço. Uma ideia chega como um clarão em sua cabeça. ''Mas isso não é possível'', você pensa, ''isso não existe''.

Com a mão trêmula, você a aproxima do pescoço. A corrente de ouro que você costumava usar não está mais lá. No lugar dela, duas pequenas fendas no formato de presas se abriam. Você compreende tudo. Sua vida está amaldiçoada para sempre.



PS: Não somente de minha autoria o texto, mas em parceria com uma grande amiga

sábado, 17 de março de 2012

O salão

A porta pela qual passei dava a um salão. Havia mármore negro por todo o chão. Esqueletos em trajes militares de todas épocas encostados à parede seguravam fusíveis. Um grande trono era ocupado por uma figura masculina. Um homem de aproximadamente 30 anos, pele muito branca, cabelos negros amarrados em um rabo de cavalo. Em seu pescoço, pendiam pingentes de caveira e guitarras e uma corrente de prata. Uma roupa toda preta, jaqueta de couro, uma calça, cortumes grandes cheios de alfintes.

Você é o recém-chegado? Perguntou-me Que liberdade você acha que tem para entrar em meu salão sem ser convidado?

Estremeci, pois o Rei dos Mortos, Hades, falava comigo