segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Toque

25 de julho.
Peter liga para seu pai. Seu pai atende o telefone reclamando do tempo, como era de se esperar.
-Não mudou nada por aqui. Sim, estão todos bem. Pai, posso perguntar uma coisa da mamãe?
-Ela era muito linda – começou o pai – e tinha um ótimo gosto para homens.
-Não, não é isso pai. Você chegou a ver alguma foto escolar dela?
-Foto? A foto sobrenatural – o pai deixou escapar – tenho certeza que eu vi alguma foto dela durante nosso noivado.
-Você viu a foto de graduação dela?
-Não, só ouvi falar. Sua mãe não gostava dela, ela dizia que era “sinistra”. Deve estar na antiga casa.
-Antiga casa? Aqui?
-Acho que sim. Escuta, está acontecendo alguma coisa?
-Não, só estou procurando alguma coisa para me distrair.
Peter desliga o telefone e vai tomar seu café. O telefone da casa toca. É Miguel.
-Vamos naquela lanchonete que eu te falei outro dia no intervalo? Temos que discutir uma coisa importante.
-Naquela esquina com a loja de vídeos? Hoje?
-Sim. Ou será que você marcou um encontro com a Miki? Enfim, leve quem você marcou de encontrar para lá, é um assunto que envolve toda a nossa turma.
Peter está parado na porta da lanchonete, vasculhando seu interior com os olhos, procurando por Miguel ou Gabriel. É um não muito grande, com paredes de tijolos, poucas janelas e portas com vidros azulados. Ele então vê Bruna.
-Sente aqui – chamou Bruna.
Ela estava com usando um vestido claro e prendia os cabelos com fitas rosas. A mesa na qual ela estava sentada estava encostada na parede, perto da maquina de refrescos. Peter se aproxima, e vai em direção à cadeira em frente à Bruna.
-Miguel te ligou também? – perguntou ele.
-Sim – disse ela, franzindo a testa – eu só vim por que ele disse “é um assunto do interesse da turma inteira”. Ele me irrita – disse ela emburrada.
Ela solta um suspiro e Peter senta na cadeira.
-Miguel me contou sobre o que aconteceu com sua mãe – disse bruna, fitando a mesa.
-Seja bem vindo – disse uma moça que entregava uma xícara a bruna – seu amigo? – ela pergunta à Bruna
-Sim, meu colega de sala, Peter.
-Ah, você deve ser o amigo do Gabriel. Obrigado por cuidar do meu irmão, eu sou a irmã mais velha dele, Daniela. Prazer em conhece-lo.
-Prazer conhecer você também – respondeu ele.
-Ele fala muito de você. Qual será o pedido?
-Vejamos... – disse Peter, pegando o cardápio.
-Traga o mesmo que eu pedi – disse Bruna.
-Ah, claro – disse Daniela, virando-se.
-Bruna, o que você pediu?
-Café.
-Eu não gosto de café. Tem gosto ruim – disse Peter, fazendo uma careta.
-Bem, o café daqui é diferente.
-Obrigada por esperar – disse Daniela, colocando a xícara na frente de Peter.
-Confie em mim – disse Bruna.
Peter olha com desconfiança para a xícara de café, segura e toma um gole.
-Que coisa – diz ele – é amargo e doce ao mesmo tempo. E é muito bom. Bruna, você é a responsável pelas contramedidas, não é? Como você foi escolhida para esse papel?
-O responsável pelas contramedidas é sempre escolhido pelo professor. Não é algo que todos querem, pois podemos dizer que quem está nesse cargo na sala é responsável pelas vidas dos estudantes.
-Então você foi nomeada?
-Eu me voluntariei. Eu acho que os outros estudantes não acreditavam na maldição, ao contrário de mim. Não quero que isso continue a existir, eu quero arrumar um jeito de pará-lo.
Ela sorri. Depois torna a ficar séria.
-Peter, por que você não voltou para Londres?
-Porque seria a mesma coisa que fugir. Também porque comecei a pensar que poderia ser a pessoa morta.
-Eu cheguei a considerar isso – disse Bruna – entretanto – ela estende a mão dela por sob a mesa, na direção dele – aperte a minha mão.
Ele estende a mão e aperta a mão dela. Ela sorri.
-Eu ainda tenho a sensação de que já nos conhecemos. Não, na verdade, a sensação de que eu já apertei a sua mão em alguma ocasião.
-Verdade? – pergunta Peter.
-Sim, só não consigo me lembrar quando, mas minha mão lembra do toque da sua.
Eles soltam as mãos e Bruna olha atentamente para a palma de sua mão.
-Agora que você mencionou, você apertou minha mão no hospital. Algum motivo?

-Existe um rumor que você pode sentir as mãos dos mortos frias na primeira vez que o conhece. Mas eu duvido que seja verdade. Afinal, se fosse tão fácil descobri-los...

sábado, 28 de dezembro de 2013

Pesadelos

Peter está andando no corredor da sua sala. As paredes estão escuras, mas pode-se ver um tom avermelhado nelas.
Quem está morto? É a voz de Miki. Ela está parada na sua frente.
Ele se vira e vê Gabriel, Lucas e Miguel parados atrás dele.
Quem é a pessoa extra? Dessa vez é outra voz.
Ele então entra na sala. Estão todos os alunos, olhando para ele.
Quem está morto? Perguntam para ele.
Ele sai correndo da sala aflito e se depara com Miki de novo. Quem está morto...
Ele se vira de novo e encontra ele mesmo na sua frente. Quem está morto é você.
Sou eu? Impossível.
A pessoa morta não sabe que está morto, não foi isso que te contaram? Perguntou o outro Peter. no início de abril, o número de cadeiras era o suficiente, mas em maio faltou uma cadeira, já que você foi transferido para a escola. Se você pensar um pouco, nós somos o estudante extra desse ano.
O morto sou eu? AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH
Peter acorda suando e assustado. Ele respira algumas vezes, tentando se acalmar e começa a pensar.

-Todo ano – diz ele para si mesmo – a pessoa extra é alguém que faleceu. E essa maldição atinge apenas colegas e membros da família dentro de duas gerações. Mas nada acontece se você deixar a cidade. Por causa dessa maldição muitas vidas foram perdidas. Por quanto tempo eu morei aqui? – a dúvida começa corroer Peter – os familiares de duas gerações podem ser vítimas. Tia Júlia... eu nasci aqui quando minha tia estava na turma B, mas a relação dela comigo é tia e sobrinho, então acho que isso significa que são 3 gerações. É impossível, é impossível – dizia Peter a si mesmo, tentando se acalmar.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Viagem

17 de julho.
-Pode parecer meio repentino, mas nós vamos fazer uma excursão nos dias 8 ao 10 de agosto. Vocês devem planejar desde agora a participação nesse evento. Peçam permissão aos seus pais e entreguem ao final do mês o formulário preenchido  – anunciou a professora Júlia – não é algo obrigatório.
- Eu tenho uma pergunta – diz Miguel, levantando a mão, em meio a sala meio vazia.
Porém, a professora Júlia não parece ter notado ele. Ela olha para frente, os olhos fixos em alguma coisa.

-E aí, o que deveríamos fazer? Você vai nessa viagem?
-Por que nós vamos ter uma viagem justo no ano que a maldição se manifestou?
-Sei lá. Talvez seja melhor participar.
-Parece que o Miguel ouviu algo do Peter. Espero que isso possa salvar todos nós.
-Existe um templo em Wheterby?
-Sim, ele disse que uma turma que visitou o templo conseguiu parar a maldição.
-Verdade?
-Bruna também vai. E a Jacqueline, e o Tomas.
-De qualquer forma, você se juntou só porque a Bruna vai, não é?
-Aham. O Gabriel também vai, não é?
-É porque a professora Júlia vai.
-Então o Peter realmente...

-O que será que a Miki vai fazer?

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Sally's Song

É... exatamente um ano atrás eu fiz uma crítica sobre o The Nightmare Before Christmas. Acho que qualquer pessoa que acompanhe meu blog deve ter notado que eu sou "só um pouquinho" apaixonada por contos (a idéia inicial do blog era só contos e crônicas, mas acabei não conseguindo resistir) e filmes do Tim Burton. Nesse lindo dia, revivo mais um pouco a magia de Burton na minha memória, mas agora, uma música que amo muito.





Sally's Song

I sense there's something in the wind
That feels like tragedy's at hand
And though I'd like to stand by him
Can't shake this feeling that I have
The worst is just around the bend

And does he notice my feelings for him?
And will he see how much he means to me?
I think it's not to be

What will become of my dear friend?
Where will his actions leaves us then?
Although I'd like to join the crowd
In their enthusiastic cloud
Try as I may, it doesn't last

And will we ever end up together?
Oh, oh

And will we ever end up together?
No I think not, it's never to become
For I am not the one





Uma versão da Amy Lee <3 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Interrupção

Peter e Miki vão até a biblioteca onde Luís está. Peter abre a porta e entra, seguido de Miki. Bruna passa por eles e sai sem dizer uma palavra. Eles então se dirigem até o ex professor.
-Você parece estar bem – diz Luís, levantando os olhos para Peter.
-Obrigado. Luis, o que Bruna estava fazendo aqui?
-Como ela é a responsável pelas contramedidas, me pede alguns conselhos. Ela é uma garota determinada e autoconfiante, mas essa situação que ela está enfrentando é muito delicada. Mas o que os trás aqui?
-Viemos perguntar a respeito de 15 anos atrás, quando o ciclo de mortes foi interrompido.
Luis se levanta e pega o livro onde estão a lista de todos os anos da turma B e abre na página onde está a lista de 1980.
-Em todos esses 24 anos, somente no ano de 1980 que a maldição parou no meio do ano.  – diz ele, estendendo o livro aberto a Peter e Miki – tirando a morte de Bárbara, que eu não sabia, houveram somente 7 mortes naquele ano. Quando Bárbara morreu?
-Ela morreu em julho.
-Se você notar bem, o registro da ultima morte ocorreu em agosto. Ocorreram duas mortes no mesmo dia, 9 de agosto. Dia 8 de agosto foi...
-Quando eles fizeram uma excursão – completou Peter. – então as ultimas mortes ocorreram durante a excursão. Alguma coisa que vocês fizeram durante a excursão que interrompeu o ciclo de mortes?
-É o que parece. E olhe bem, no final da página, não há o nome do aluno extra, nós nunca descobrimos quem era.
-Por que o ciclo foi interrompido? – perguntou Miki.
-Eu não sei. Eu sei que os estudantes visitaram o templo de wetherby, que fica no meio do morro. O alojamento dos estudantes fica ao pé do morro.
-Então, a gente pode voltar ao templo.
-Muitos estudantes visitaram o templo novamente nos anos em que a maldição se manifestou. Porém, não funcionou.
-Então a visita foi inútil. – disse Miki.

-Talvez funcione se voltarmos na mesma época do ano, com um grupo grande de pessoas. Mas também não podemos deixar de lado a possibilidade de que a interrupção do ciclo não esteja relacionada ao templo.  Por falar nisso, conversei com a professora Júlia hoje sobre esse assunto.  Ela deve ser a professora responsável pela classe a partir de agora. Apesar de ela ter tido problemas ano passado, esse ano deverá ter outra excursão em agosto.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Lembranças

Em casa, Peter ainda não consegue tirar o assunto da maldição da turma B de sua cabeça. Ele encontra sua tia Júlia na cozinha, e lembra-se de algo importante.
-Jú, você se lembra do que aconteceu 15 anos atrás? Você fazia parte da turma B no ano que a calamidade parou – ele deu uma pausa, enquanto sua tia o fitava – você deve ter alguma ideia de como parou naquele ano. Tente se lembrar. Você disse que aconteceu algo nas férias de verão, o que aconteceu naquele dia?
Ela olhou para o chão, os olhos cheios de tristeza.
-Na época de verão, minha irmã Bárbara morreu. E eu me lembro que nós fomos acampar em Wetherby.
-Acampar? Houve um acampamento? Toda a escola? – perguntou Peter, ansioso.
-Não, foi só a nossa turma. E eu estou me referindo ao morro que tem ao norte da cidade. Na base do morro, havia um templo, eu acho. O professor recrutou alguns... desculpe, não consigo me lembrar de mais nada. Eu só lembro que algo aconteceu.
Júlia se aproxima de Peter e segura em sua blusa. Ela olha para ele com desespero, os olhos enchendo de lágrimas.
-Você está bem, Peter?
-Eu estou bem, não precisa se esforçar. Não se preocupe, eu estou bem.

Júlia abraça Peter e começa a chorar.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

No telhado

A sala da turma B da nona série se tornou inacessível por causa do acidente, então a turma foi movida para uma sala de aula vazia no andar de baixo do prédio. A professora Júlia foi eleita a professora responsável pela turma B. Porém, muitas pessoas começaram a faltar às aulas.
Peter, Miki e Miguel estão no telhado da escola, conversando.
-Não havia nada a ser feito. Não se deprima tanto, Peter – disse Miguel, tentando anima-lo – culpar-se não irá resolver a situação.
-Há pouco tempo atrás você... – começou Peter.
-Ignorar a sua existência partia meu coração. Mas agora você está a parte dos fatos, não é? Agora entende nosso motivos?
-entendo.
Parece que ignorar a existência de dois alunos não resolveu o problema. Então nós voltamos a ser alunos existentes. Pensou Peter. Agora Miki conversa com as pessoas da sala. Eu tenho um mal pressentimento sobre isso.
-E você Miki, sente-se aliviada? – perguntou Peter.
-Sei lá – respondeu ela, inexpressiva – nunca achei que essa situação fosse um fardo.
-Você realmente é muito estranha – disse Miguel, sorrindo.
 Bruna aparece com a mesma cara de brava. Ela dá uma cotovelada com força na barriga de Miguel e se aproxima de Peter.
-Vocês dois – disse ela, referindo-se a Peter e Miki – podem voltar a serem alunos existentes. Mas já vou avisando que é melhor vocês estarem preparados. Vocês são os culpados.
Peter e Miguel se assustaram com o que Bruna acaba de dizer. Miki não parece se importar.
-Espera Bruna, como assim? – Miguel perguntou.
-Isso é o que as pessoas dirão – respondeu ela – vocês serão responsabilizados pelos próximos incidentes que virão. E eu sei que minha competência será questionada.
-E qual é a sua opinião? – perguntou Miguel.
-Eu não acredito que o Peter seja o responsável, apesar do que dizem – disse Bruna, debruçada sobre o parapeito do telhado – ainda não acabou. O ciclo de mortes e meu trabalho como responsável pelas contramedidas apenas começou.
-É possível que alguns alunos se escondam nas férias de verão? – perguntou Peter.
-Tenho certeza que sim – respondeu Miguel.
-Algumas pessoas já saíram da cidade – disse Miki.
-É mesmo? – pergunta Miguel, se inclinando para frente para poder ver Miki.
-Sim – continua ela – muitas pessoas saem de Wetherby e vão passar as férias em outra cidade.
-Ahh, é tudo tão estranho – diz Miguel, olhando para frente – mas Miki, você é a mais estranha daqui. Você fala como se não ligasse muito para a sua vida.
-Falo? – pergunta Miki, desinteressada.
-Sim. Será que você não é o extra desse ano não?
Miguel disse num tom meio debochado, mas todos sentiram tensão em sua voz.
-Eu... acho que isso não é verdade – disse ela, baixando a cabeça.
Peter então se lembrou do que Miki disse alguns dias atrás, sobre ela ter certeza que não era a morta.
-Hum, nós sabemos que nem mesmo o extra sabe que está morto – disse Miguel.
-Miguel, você pode ser o aluno morto.
Miguel ficou tenso e começou a andar de um lado para o outro.
-Eu? Não fale isso nem de brincadeira. Eu não quero me gabar, mas eu lembro de todos os detalhes da minha infância.

Isso foi algo engraçado, pois Peter e Bruna riram.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Culpa

-A culpa é sua – veio a voz na cabeça de Peter.
Ao redor dele está tudo escuro. Ele não consegue enxergar as coisas com nitidez.
-A culpa é toda sua – a voz de novo.
Peter vira-se e vê o professor Tetsuo. Somente metade do professor está iluminado, de modo que Peter consegue ver que sua camisa está manchada de vermelho, e o rosto, salpicado de vermelho.
-A culpa é sua – outra voz aparece.
Peter vira-se para o outro lado e ele vê Laura. Apenas metade do seu corpo está iluminado també. Ela está com a cabeça abaixada, mas Peter consegue ver que seu pescoço está totalmente vermelho.
-Não, não é culpa minha – diz Peter, na defensiva – isso não é verdade.
-Sim Peter, é tudo culpa sua.
Ele se vira para o lado e vê Débora estendida no chão, tentando se levantar.
-Não, não é culpa minha!
Ele sente que dois braços o abraçam e ele não consegue ver quem é.
-A culpa é sua sim.
-AAAAAAAAAAAA!
Peter acorda assustado e olha uma foto de Miki que está na sua mesa, junto com seu material.

É tudo culpa minha, pensa ele,  só porque eu comecei a falar com aquela que era inexistente?

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A maldição

Luis relata o acontecimento antes de entrar no prédio da escola. A forma como Tetsuo falou com ele o deixou preocupado.
-Mesmo a polícia e a ambulância tendo chegado, o professor Tetsuo já havia parado de respirar a muito tempo. – disse Luis – o professor Tetsuo era solteiro e morava com a mãe. A polícia foi até a casa dele para fazer algumas investigações, mas eles encontraram uma cena perturbadora lá. A mãe dele já era bem velha e estava doente há algum tempo. Quando a polícia chegou lá, ela estava morta na cama, com um travesseiro sobre sua cabeça. O fenômeno da turma B, a pressão, a maldição... Acredito que isso o enlouqueceu e o fez matar a mãe. Arrependido, ele cometeu o suicídio na frente dos seus alunos.
-Acha que a atitude dele foi resultado da maldição? – perguntou Peter.
-Sim – respondeu Luis.
-Resumindo, você acha que ele foi levado a se suicidar por causa do fenômeno – concluiu Miki.
-Não vejo outra explicação.
Peter abaixa a cabeça.

-Então o ciclo de mortes não foi interrompido. Mais pessoas irão morrer.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O Quarto

O professor Tetsuo então segura a faca com as duas mãos. Seus olhos ainda estão muito arregalados. Ele murmura algumas palavras e seu rosto está brilhando com o suor. Ele aponta a faca em direção ao seu pescoço. Os alunos, sobressaltados, olham horrorizados para o professor, e tentam não prever as ações dele. O professor abaixa a mão com dificuldade, ainda falando palavras sem nexo. Uma de suas mãos solta a faca e a outra mão dá golpes no ar. A gravata dele saí do lugar e balança um pouco com o movimento. Ele torna a segurar a faca com as duas mãos e então crava com força em seu pescoço.
Ele afundou a faca um pouco mais e mexeu ela. Sangue esguichou na mesa e nos alunos que sentavam na frente. a camisa branca do professor adquire a mesma cor vermelha de seu sangue. A mochila e a mesa estão totalmente sujos também. Ele parece engasgar. Peter não consegue acreditar no que os olhos lhe mostram. O professor Tetsuo continua apertando a faca contra sua garganta e encosta no quadro. Ele afunda ainda mais a faca, de modo que ela atravessou seu pescoço. Ele parece perder as forças e retira a faca de seu pescoço. Muito sangue esguicha de sua garganta, respingando em todos os alunos, carteiras e chão. Os joelhos do professor cedem e seu corpo desaba no chão, a faca escapa-lhe das mãos e cai ao lado do corpo ensanguentado. O sangue que jorra da garganta do professor começa a espalhar pelo chão. Todos os alunos começam a gritar ao mesmo tempo, levantam-se de suas carteiras e saem da sala correndo, sujos de sangue e atordoados. Algumas meninas desabam das carteiras em estado de choque. Peter se levanta e se aproxima do corpo do professor Tetsuo, com uma mão na garganta. A mão de Peter desce e pára no peito, como se ele estivesse com dificuldades de respirar.
Luís vem correndo pelo corredor, atraído pelos gritos. Ele encontra uma aluna com o rosto coberto de sangue, encolhida no meio do corredor.
-O professor Tetsuo. Ele...
Ela não consegue falar mais nada. Luis corre e chega à sala. Todos os alunos estão do lado de fora, chorando, gritando. Ele entra na sala e manda o restante da turma sair daquela sala. A professora Júlia está parada na porta, com uma cara aterrorizada.
-Rápido Júlia. Ligue para a polícia e para o hospital.
Ela sai correndo, segurando o choro.
-Alguém ficou ferido? – pergunta o professor a Peter – você está bem?
Miki está em pé, perto de Peter. Ela não parece estar preocupada.
-Peter, vamos embora. Aparentemente, ignorar a existência de dois alunos não funcionou.
Os dois saem da sala e se deparam com Bruna consolando uma garota, com uma expressão muito dura. Ao lado dela, estão Jacque e Tomas. Os três levantam um olhar sério para os dois. Jacque e Bruna estão, particularmente, com um olhar de ódio.

-É tudo culpa sua – disse Bruna, olhando para Miki e Peter  – Miki Yuki, se você estivesse seguido as regras, ninguém teria morrido. Por causa de Peter, Miki desfez seu papel. Por você, Peter, andar com ela, a morte de Laura, foi culpa de vocês!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A decisão

13 de julho
O professor Tetsuo encontra-se com o Luís na porta da escola.
-Tetsuo! Veja como as árvores estão carregando de frutos.
-Luís, o que eu faço? Eu estou cansado.
-Tetsuo..? – Luís pareceu espantado e preocupado.
-Você deve entender, certo Luís? Eu vou deixar o restante com você – disse Tetsuo, encaminhado para o prédio da escola.
Ele anda lentamente pelo corredor, com sua mochila nas mãos. Seus alunos estão conversando um pouco enquanto ele não aparece. Ele entra na sala, mas eles não notam a presença do professor. Ele solta com força a mochila em cima da mesa, fazendo muito barulho. Os alunos silenciam e viram-se para frente.
-Bom dia, classe. Hoje venho aqui humildemente implorar pelo perdão de vocês. Vim para me desculpar a todos. Eu planejei ficar com vocês e fiz todo o possível para que vocês graduassem em março. Dei o meu melhor para que isso fosse possível.
Ele abre o zíper da mochila.
-Mas a tragédia de maio e a possibilidade de algo assim acontecer novamente... uma vez iniciada, não há como impedi-la. Não creio que a classe Será capaz de sobreviver.
Ele enfia a mão na mochila e parece procurar por algo. Peter e Miki não estão interessados no que o professor está falando.
-Entretanto, vocês terão que ser fortes para sobreviverem aos eventos que virão. Não devíamos fazer algo relacionado a isso?
Ele olha para dentro da mochila.
-Eu não sei. Não sei... não esperem que eu saiba. E eu nem irei saber. Acredito que seja inútil falar a respeito.
Ele olha novamente para dentro de sua mochila e parece ter encontrado o que procurava.
-Mas eu ainda desejo ser o professor dessa turma e não fugir do problema. Eu ainda desejo que vocês formem com sucesso, eu ainda desej...
O rosto do professor se fechou em uma careta. Um de seus olhos se fechou e o outro arregalou. Ele começou a gritar.
-AAAAAAHH
Isso atraiu a atenção de Miki e Peter. Os outros alunos da turma começaram a ficar com medo do professor. Ele tirou uma faca de cozinha enorme de dentro da mochila.

-O que acontecer a seguir, será problema de vocês – disse o professor Tetsuo.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Passado

Depois disso, Peter foi buscar alguma coisa em seu armário e Miki voltou ao clube de artes. Quando os dois estavam voltando para casa, Miki contou que encontrou com uma colega no clube de arte que havia sido da turma B no ano de 2003. Miki contou a Peter que perguntou algumas coisas para ela, pois ela escutou alguns rumores dos inexistentes, vindo do Gabriel. Ela contou que se lembrava de pouca coisa de 2003. Miki perguntou sobre Luara, mas a garota não conseguia lembra-se desse nome. Miki então pergunta do inexistente, e a garota conta o caso, de quando ele exigiu que fosse reconhecido, e depois de sua morte.
 No jantar, Júlia é a primeira a terminar. Ela começa a se levantar da mesa, mas Peter chama por ela.
-Ah, espere tia Ju. Eu gostaria de perguntar uma coisa.
Ela senta-se novamente à mesa.
-Pode perguntar, Peter. – disse ela sorrindo.
-Você disse que gostaria de ter sido estudante de artes, não é?
-Sim, eu costumava falar com minha irmã sobre essas coisas assim.
-Sua irmã, minha mãe?
-Isso mesmo. Ela era minha melhor amiga. Quando eu tinha a sua idade, eu queria entrar numa universidade de artes, porém meu pai foi contra.
-O vovô? – perguntou Peter, olhando para o avô.
-Sim, eu briguei com ele e somente Bárbara ficou do meu lado. Eu estava feliz por isso.
-Ahn, tia. No ano que você estudou na 9ª série, na turma B, foi um ano que aconteceu um desastre, certo? Eu ouvi do Luís. Você sabe que havia um aluno extra naquele ano, certo, tia.
-Sim, eu sei.
-Eu quero confirmar se 15 anos atrás, a morte de minha mãe nessa cidade foi considerada parte da maldição.
-Peter... – começou Júlia, colocando as mãos no rosto, cobrindo-o totalmente – perdoe-me Peter. Eu sinto muito.
Ela começou a chorar. A avó de Peter sentou-se ao lado do avô.
-Eu sinto muito Peter. Eu não pude fazer nada.
-Minha pobre Bárbara. – lamentou-se o avô – minha pobre Bárbara, minha pobre Júlia.
-Pare de dizer coisas assim – disse a avó – venha, vamos descansar.
-Eu não tenho certeza sobre minha irmã – começou Júlia – mas creio que o ciclo de mortes foi interrompido naquele ano.
-“Impedido”? Espera. Impedido naquele ano? Como – Peter começou a perguntar desesperado para Júlia.
-Eu não me lembro.
-Tente se lembrar, de alguma coisa, por favor.

-Bom, não tenho certeza, mas parece que aconteceu alguma coisa durante a excursão no verão.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Registros

Luis procura numa prateleira algo. Ele encontra um livro que está encadernado com uma grossa capa marrom. Ele o entrega a Peter.
-Aqui estão as cópias de todas as listas da turma B. Aí tem as listas desde 1980 até os dias de hoje. As pessoas com um “X” no nome são as pessoas que morreram no decorrer do ano.
Peter senta à mesa e Miki senta ao seu lado. Ele abre o livro, e percebe q na verdade é uma pasta. Todas as folhas estão presas como num fichário. A primeira folha é possui alguns “x”
-Vá à lista do ano de 2003. Está vendo o nome no fim da página, abaixo da lista de chamada?
Lá havia um nome. Luara.
-Sim.
-Esse era o nome da pessoa morta daquele ano.
-Então 7 pessoas morreram no ano de 2003? Poucas pessoas morreram, não é?
-Foi porque a contramedida de ignorar a existência de alguém funcionou. Depois que ela foi implementada, o ciclo de mortes foi interrompido. Entretanto, logo após o segundo trimestre, o estudante cuja existência foi ignorada começou a revogar seu direito. Mentalmente abalado pelo isolamento, ele exigiu que sua existência fosse reconhecida pelos outros estudantes. Então o ciclo de mortes se iniciou.
-O que aconteceu depois?
-Ele cometeu suicídio no fim do mês. Talvez ele seria a vítima daquele mês. A pessoa morta do ano de 2003 foi Luara. Ela foi uma estudante da turma B no ano de 2000. Entretanto, entre abril e junho de 2003 esse não era o caso.
-“Não era o caso”?
-Sim. Se me lembro bem, o nome dela estava na lista de chamada de 2003. Mas não na lista de 2000. Ele havia desaparecido.
-Tanto o nome quanto o “x”?
-Sim. Quando o fenômeno manifesta, os registros deixam de ser confiáveis.
-As memórias dos humanos também são alteradas, certo?
-Sim.  – disse Luis, mexendo num livro em outra estante. – por fim, no fim do ano, quando a pessoa morta desaparece após a graduação, os registros voltam ao normal, mostrando a identidade da pessoa morta. Além disso, as memórias relacionadas a pessoa morta também desaparece. Tudo desaparece – ele termina, puxando uma cadeira e senta nela.
-Os registros e as memórias voltam ao normal. – repete Peter.
-Não entendo a lógica desse fenômeno. Já desisti de tentar compreende-lo. Somente uma contramedida é eficiente para impedir que o ciclo comece. Essa medida é a de negar a existência de um estudante.
-Qual é a taxa de eficiência dela?
-Eu diria que 50%. Há anos que ela funcione, e há anos que ela falha. Há anos que se descobre o motivo do fracasso, mas alguns não.
A luz que vem da janela está iluminando boa parte da mesa. A sombra de Peter e Miki é projetada sobre a mesa, e a de Luis, na parede.
-Então, ignorar a existência de dois estudantes tornará a medida mais eficiente?
-Não sei dizer. Foram raras as vezes que o ciclo de mortes foi interrompido no meio do ano.
-É mesmo? – Peter parecia decepcionado.
-Júlia não foi a professora responsável pela turma B em 2003? – perguntou Miki, olhando a lista de chamada.
-É verdade – disse Peter, espantado.
-Ela já passou por muitos problemas. Força-la a assumir a turma B por mais um ano...
O sinal tocou. Os dois se despediram de Luis e saíram da biblioteca.
-Isso é tudo por hoje.
-Tenho mais uma pergunta – disse Peter – no ano de 1990, 15 anos atrás, a maldição de manifestou na turma B?
-1990? Foi o 4º ano que eu era bibliotecário. Sim, a turma foi vítima da maldição
-Ah, como imaginei – disse Peter.
-Esse foi o ano que Júlia estudo na turma. Por acaso foi o ano da morte de Bárbara?
-Sim. Ela veio realizar o parto aqui e ficar com a família.

-Então ela morreu nessa cidade. Compreendo.