sábado, 18 de setembro de 2021

Ray - Sábado

- ... e agora a Emma esta dormindo no outro quarto.

Olhei para Phill, esperando sua reação. Ele começou a rir.

- Pára Ray! Você não é de brincadeiras. O Rich aparecer na festa eu acredito, mas a Emma estar aqui? Desculpa cara, mas vai ter que se esforçar mais para eu acreditar nessa.

Permaneci sério, olhando para Phill. Em um segundo seu sorriso se desfez. 

- Acho que você está falando sério sobre a Emma - ele disse passando uma mão na testa - mas cara, como isso foi acontecer?

Levantei do sofá e comecei a andar pela sala, tomando cuidado para não falar muito alto e acordar a Emma.

- Já falei Phill. Aconteceu. Não estava nos planos trazê-la para cá para transar - eu não sabia mais o que dizer. 

Phill se levantou do sofá, apertou meus ombros e perguntou:

- Quer beber alguma coisa? Cerveja?

-Não, obrigado. Acho que vou tomar um banho e tentar dormir. 

Phill continuou na sala. Ele claramente estava ainda animado, o que era bem estranho devido à hora e eu estava cansado demais para tentar entender seu entusiasmo. Amanhã eu levaria Emma para casa e passaria o resto do dia com Phill. Aí sim a gente poderia conversar direito e eu entenderia porque ele estava tão animado e feliz. 

Passei na frente do quarto de Emma, prendi a respiração e andei devagar, tomando cuidado para não fazer nenhum barulho. Não queria acordá-la e também temia um pouco que ela resolvesse tentar uma segunda transa naquela noite. Claro, eu não me importaria, desde que estivesse tudo bem para ela, mas não com Phill na sala. Ela estava dormindo. Respirei aliviado e fui para o banheiro. 

Enquanto deixava a água quente caindo na cabeça, percebi, meio que da primeira vez, de onde vinha o cheiro cítrico que senti em Emma depois que ela tomou o banho. O cheiro do meu shampoo não era assim tão forte, então por que será que o cheiro ficou tão marcante nela? Conforme a água ia levando o estresse embora, me lembrei de nosso momento no quarto. Seu cheiro, sua pele macia, seus toques, sua... intensidade. O tanto que liberdade a descreveria bem, ser intensa era algo que fazia parte dela também. Ri da ironia que eu me encontrava enquanto finalizava meu banho e coloquei meu pijama. Tudo que eu queria naquele momento era afundar a cabeça no meu travesseiro e dormir. Então lembrei de Phill no sofá.

Phill aparentemente já tinha se arrumado no sofá. Ele era praticamente de casa, então sabia onde pegar as coisas que precisava. Fui até ele. 

- Ei Phill, quer jogar video-game ou alguma coisa assim? Comer algo?

- Precisa não Ray. Você tá com uma cara bem acabada aí. Acho que o estresse de ter encontrado o Rich e não ter dado um soco nele foi maior que ter a Emma aqui na sua casa, não é?

Sentei novamente perto de Phill. Apesar do sono, era bom ter o amigo que me entendia e não me julgava. Qualquer outra pessoa iria embora para me deixar a sós com a Emma, dizer para aproveitar o momento e tudo mais, ou então me zoar por eu ter ficado conturbado de tê-la trazido para cá, mas não Phill. E sim, ele estava certo. Em parte, o encontro com Rich me desestabilizou muito mais do que ter Emma em casa. Mas não me afetou tanto quanto ver Emma sendo levada por aquele idiota do Lucas. Minhas mãos começaram a suar com a lembrança.

- Preocupa não Ray - disse Phil apertando meus ombros de leve - se a gente ver aqueles babacas de novo, a gente se arrebenta com eles. Podemos os dois ir para o hospital, mas pelo menos levamos eles também. 

Phill conseguia me fazer rir dessas coisas. Imaginar a gente tentar bater no armário ambulante que é o Rich era insano, mas imaginar a cara roxa dele era ótimo. 

- Vai lá dormir Ray. Amanhã a gente leva a Emma em casa, depois podemos esquecer as coisas com os jogos, se você quiser - Como eu disse, um amigo que me entende. 

Meus sonhos não foram muito diferentes dos que eu tive ao longo da semana, a diferença é que agora eu sabia exatamente como era o corpo de Emma por baixo das roupas. Acordei no dia seguinte com um humor melhor. 

Emma já estava de pé e, meio sem jeito, tentava preparar o café da manhã na cozinha. Ela abandonou os moletons velhos da minha mãe e voltou a usar o vestido de ontem. Phill ainda dormia no sofá. 

- Que ajuda, senhorita Emma? 

- Bom dia Ray - ela sorriu - er.. tentei preparar algo, mas não consegui encontrar o que eu precisava. Onde você guarda farinha e ovos?

- Não precisava se incomodar Emma, eu ia preparar o café da manhã. 

- Ah, eu já estava ficando com fome - ela disse, soprando uma mecha da testa - desculpa se invadi sua cozinha. 

- Não tem problema. Quer deixar que eu assumo daqui? Ou quer finalizar o que você estava preparando?

- Ovos e farinha, por favor - ela disse, com os olhos brilhando. 

Após acordar Phill e tomarmos o café da manhã que Emma preparou (que estava muito bom), Phill e eu levamos Emma em casa. Ela morava relativamente perto da faculdade e a rua parecia ser bem tranquila, pois não tinha movimento de carro. Antes de voltar para a minha, Phill perguntou:

- Ray, minha tia tá precisando daquela força com as mercadorias dela. Topa ir lá resolver isso agora antes de ir para sua casa?

- Só se for agora. 

Phill mora com sua tia desde que eu me lembre. Ela trabalha com comércio e acredita que todo mundo deve batalhar para ter dinheiro, assim, Phill faz alguns serviços para ela desde pequeno e recebe seu salário, por isso já tem carro e tudo mais. A minha sorte é que ele sempre divide algumas funções comigo e estou conseguindo juntar uma boa grana. A maioria das coisas que fazemos é descarregamento de mercadoria, colocar em estoque, fazer anúncios no site dela e ficar de olho se alguma promoção aparecer. É tranquilo e muita coisa dá para fazer de casa mesmo. A tia de Phill é bem generosa com a gente e sempre ganhamos alguma comissão quando algo que anunciamos vende. Acontece uma certa competição amigável entre nós dois para saber quem vai vender mais no fim do mês. 

- Ei Phill - peguei uma caixa nos ombros enquanto ele pegava outra - e seu bom humor de ontem mesmo voltando cedo?

Phill riu e a luz do sol iluminou seu rosto, deixando seus olhos mais azuis e ele fez aquela cara de sempre. 

- A Midori quer sair mais vezes comigo. 

Quase deixei a caixa cair no chão. Aquela informação não combinava com o Phill que eu conhecia. 

- E como isso te deixou de bom humor?

- Eu de cara quis desistir - ele respondeu - mas ela falou comigo que não quer nenhum relacionamento, só sair para curtir mesmo. 

- E você, Phill, acreditou nela?

- Não - algo não fazia sentido - mas ela já sabe que eu não quero nada sério, então de todo jeito está avisada. 

Nós continuamos a transportar as caixas para o estoque da loja da tia de Phill em silêncio, cada um digerindo a noite anterior. Phill sabia que naquele momento eu não queria conversar nada a respeito de Emma ou sobre o encontro desagradável com Rich, então ele não comentaria nada até o momento que eu resolvesse falar. O cheiro inebriante do meu shampoo nos cabelos de Emma me desnorteou na noite anterior e ainda estava marcado em minha mente e, além disso, meu corpo ansiava em tê-la mais uma noite. As memórias de Emma em meu quarto, com o moletom largo demais para seu corpo, me olhando daquele jeito sedutor, usando sua voz doce para me persuadir... E agora eu estava aqui, querendo experimentar tudo novamente. Pelo olhar do Phill, imagino que ele esteja pensando no mesmo que eu. 

Terminamos de descarregar todas as caixas depois de duas horas de trabalho. A tia de Phill nos pagou, passou as informações do que teria que ser anunciado na próxima semana e fez um lanche para nós. Phill subiu no seu carro e eu fui logo atrás. Voltamos para minha casa. 

Peguei meu video-game e instalei na TV da sala. Mamãe reclamava que o barulho atrapalhava a concentração dela na hora de montar as provas e corrigir os trabalhos, então eu só tirava do meu quarto nas férias ou, no caso, quando ela não estava. Após uma tarde inteira jogando com Phill e conversando sobre nada muito relevante, Phill soltou uma:

- Acho que a Midori era virgem e não quis falar. 

Eu morri no jogo. Porra Phill, como você fala uma coisa dessas bem no chefão?

- Como assim Phill? - perguntei enquanto reiniciava o jogo. 

- Sabe quando elas não sabem muito o que fazer? Ou quando fecham os olhos ou se cobrem quando a gente tira a roupa? Então. 

Dessa vez eu não iria morrer. Pausei o jogo, já que Phill continuou apertando o botão de atirar sem notar que seu personagem também estava fora da jogada. 

- Ela não comentou nada mesmo? Mas você não disse que ela estava com camisinha? Geralmente elas carregam quando já esperam por isso, não?

- Não, não comentou. Quando perguntei, ela desconversou - senti o incômodo dele em sua fala. Mesmo animado com a possibilidade de transar com ela de novo, Phill estava apreensivo pela possibilidade dela ter se arrependido. Às vezes isso acontecia e era uma situação chata para as garotas. 

- Ei Phill, tenta relaxar. Ela não estava animada depois e te falou que queria encontrar de novo não é? Ela deve ter curtido, independente se era a primeira vez ou não. 

- É, ela parecia bem animada quando deixei ela no dormitório. Só tem uma coisa que não entrou direito na minha cabeça: por que será que ela não quer que a gente se aproxime da Yuki?

- Sei lá, vai ver é uma amiga ciumenta. 

Phill deu de ombros e voltou a atenção ao jogo. Depois de muito tentar, conseguimos vencer o chefão. Já era muito tarde e, para variar, Phill preferiu passar a noite em minha casa. Enquanto ele foi tomar banho, fui arrumar a cama dele no quarto onde Emma passou a noite. O cheiro dela ainda estava no ar e notei que ela esqueceu a fita que estava nas mechas do seu cabelo em cima da mesa. Levei para meu quarto e guardei cuidadosamente em minha carteira, para entregá-la na segunda-feira. Curiosamente, só notei agora que meu quarto também tinha o cheiro de Emma por todo lugar, em especial meu travesseiro e minha cama. Então é assim quando a gente trás uma garota para o próprio quarto

Senti Phill me cutucando com os pés. 

- Ray? Tá sonhando de novo aí? Vai tomar banho cara. Depois você sonha com a Emma. 

Phill deveria estar muito cansado, porque quando saí do banho já dava para ouvir ele roncando no quarto. Desliguei o video-game, apaguei as luzes da casa e fui dormir, com o cheiro cítrico já fraco, me fazendo lembrar de como perdi feio o jogo para Emma na noite anterior. 

sábado, 11 de setembro de 2021

Yuki - fim de semana

Nós duas acordamos quando o sol já estava alto, indicando que o horário do almoço estava próximo. Fomos para a casa de Midori andando e conversando no caminho. 

- Então Yuki, gostou de aprender a dançar?

-Até que foi divertido. Mas ainda acho que não levo jeito. 

- Ah, leva sim! Você pegou muito rápido os movimentos que a Emma estava mostrando

- E você Midori? Me disse que não sabia dançar, mas sabia sim! Você dançava tão bem quanto a Emma. 

- Se eu tivesse dito que saberia você não iria querer tentar Yuki.

Midori me conhecia muito bem. Eu não gostava quando aparentava que todo mundo sabia de algo e eu não entendia. Me deixava um pouco ansiosa. 

- Você chegou muito tarde? - perguntei a Midori, sem esperar a resposta. 

- Um pouquinho - Ela corou levemente, o que era uma novidade. Dificilmente eu conseguia fazer a Midori ficar sem graça ou com vergonha sobre alguma coisa, geralmente é o contrário - Você já estava dormindo, não queria te acordar. 

- Não é incômodo nenhum qualquer coisa que venha de você Midori - disse a ela. 

Ela mexeu um pouco nos seus cabelos longos, segurando uma mecha de cabelo entre os dedos. Ela estava pensativa sobre algo. Quando éramos mais novas, dificilmente ela ficava submersa em seus pensamentos, mas desde que entramos no ensino médio, seus momentos de silêncio tinham ficado mais frequentes. Problemas de família, na maioria das vezes. Eu não sabia o que era isso. Só sei que quando chegasse a hora certa, ela me contaria o que tanto a preocupava. 

Logo chegamos à casa dela e sua mãe estava à nossa espera, nos recebendo na porta com um sorriso.

- Midori-chan, Yuki-chan, bem vindas de volta! Haru está aqui hoje!

Haru é a irmã mais velha de Midori, mas eu só conhecia por foto e na chamada de vídeo que tivemos no início da semana. Elas eram muito parecidas, com exceção de que os cabelos de Haru batiam em seus ombros, enquanto os de Midori quase chegavam na cintura. Fomos almoçar. Por ser de uma família tradicional, eles seguiam as tradições do Japão mesmo fora do país. O estilo da casa, as regras de etiqueta, a alimentação.... O que eu não sabia fazer Midori me ajudava. 

- Yuki-chan, os sapatos estão servindo bem? Tem certeza que não precisa de mais alguma coisa? - Mãe de Midori me perguntou.

- Estão sim dona Natsuki - respondi corando como sempre - não precisa de se incomodar. 

Ela sorriu discretamente. Midori se parecia muito com ela. 

- Midori - o pai dela falou - leve sua amiga para conhecer a casa depois. Dependendo do que ela quiser cursar na faculdade, podemos arrumar algum cargo para ela na empresa. Aproveite a visita de sua irmã para vocês conversarem a respeito. 

Não entendi o que ele queria dizer. Pensando bem, Midori não costumava falar muito do que seus pais faziam. Acho que ela evitava o assunto. Não entendo os motivos, afinal ela parecia ter uma família bem feliz. Ela tinha uma casa bem grande, uma mãe amorosa e uma irmã companheira. Eu não tive nada disso durante minha vida, únicos afetos que tive foram de poucas irmãs e de Midori. Então para mim era difícil entender o que ali poderia incomodar ela. 

Após o almoço, Midori e sua irmã Haru me mostraram tudo da propriedade. Além da casa principal, havia uma casa menor usada para reuniões de negócios dos pais delas, um espaço para o banho tradicional, e cercando cada espaço da propriedade, um belíssimo jardim. Haviam pedras espalhadas, um pequeno riacho correndo por todo o terreno, uma ponte de pedra, flores, árvores e postes para iluminação à noite. Haru parecia mais à vontade para falar dos negócios de sua família e Midori estava um pouco incomodada, colocava a mão na cabeça algumas vezes para tampar o sol e disse que iria só tomar um remédio e voltava. Fiquei sozinha com Haru. 

- Yuki-chan, imagino que Midori-chan nunca comentou a respeito do que trabalhamos, não é?

- Não, nunca comentou. 

- Sabe o motivo dela ser tão fechada quando o assunto é família?

Aquilo atiçou minha curiosidade. Mesmo conhecendo Midori há pouco mais de 10 anos, nunca me atrevi a perguntar as coisas que ela naturalmente não me contava. Ela era muito fechada em alguns aspectos. 

- Nossa família tem tradição em trabalhar com peças mecânicas para robôs. Babás inteligentes, essas coisas. A maioria são para auxiliar em tarefas pesadas ou perigosas aos seres humanos, mas estamos ampliando também para auxílio doméstico. 

Eu já tinha visto alguma coisa dessas em uma das fotos que Midori me mostrou uma vez. Estava na foto com a Haru e com o marido dela. 

- Dessa forma, cada membro da família fica em algum país para expandir os negócios. Como você pode ver, a empresa do meu pai lucra muito, por isso temos uma vida muito confortável, mas isso requer um preço que para Midori parece ser mais alto. 

- Como assim Haru? - eu não sabia o que era este "preço", mas não me parecia algo muito bom ou justo.

- Nós duas, como herdeiras da empresa, não podemos seguir uma carreira diferente. Não podemos ser exatamente quem nós quisermos. Isso inclui o curso da universidade e, obviamente, os pretendentes para o casamento. Meu casamento foi arranjado quando eu tinha a idade de Midori. Ela não quer ter o mesmo futuro que eu tive, mas temo que ela não conseguirá escapar, afinal de contas, a ideia é que os negócios permaneçam na família, dessa forma casamos com um parente ou no máximo, com algum herdeiro de uma empresa subordinada às nossa.

O almoço começou a embrulhar no meu estômago. Aquilo parecia ser algo muito cruel. Não poder escolher a profissão nem com quem a pessoa passaria o resto da vida? Era algo muito horrível, mesmo com todo o dinheiro e com o sucesso da empresa. 

- Porém - Haru continuou - O que Midori não sabe é que eu e meu marido estamos investindo em um ramo que ninguém da nossa família quer arriscar, e que eu sei que Midori vai gostar. 

- E qual é?

- O de próteses humanas. Eu e meu marido estamos firmando parceria com uma outra empresa para investir na construção e no desenvolvimento de próteses humanas. Tenho certeza que quando Midori souber, ficará extremamente feliz. Quando pequena ela dizia que queria ser mecânica de gente. Mesmo que ela não possa ser médica, ela ficará feliz em saber que poderá desenvolver próteses. 

Lembrei de Midori pequena, tentando reconstruir meu baú quebrado e chorando porque ela não conseguia. Lembrei das irmãs brigando com as garotas do quarto que quebraram o meu baú, mas nada fizeram para substituí-lo. Ele continuou quebrado e Midori continuou chateada por não poder fazer nada. Desde pequena ela tinha influência da família do que faria no futuro.

- Por favor não conte à Midori sobre essa novidade, Yuki. Estamos providenciando um estágio com um dos engenheiros da empresa parceira, mas só contarei ao papai e a ela quando estiver tudo acordado. 

Assenti com a cabeça. Ela logo mudou o assunto, pois Midori se aproximava:

- As roupas couberam bem em você, Yuki-chan?

- Er, sim, couberam, obrigada Haru - eu corei.

Midori chegou com uma bolsa de gelo na cabeça. 

- Bati minha cabeça na mesa do meu quarto - ela disse, olhando para o chão. Mas eu conhecia Midori e sabia que aquilo era mentira.

Fomos para o quarto de Midori. Ele era grande, espaçoso, porém relativamente vazio. Tinha uma cama grande demais, uma mesa, uma estante com muitos livros e uma pequena estante com protótipos. Enquanto ela procurava algo pelo quarto, observei de perto as peças montadas, cada uma marcada com um ano diferente. Fiz as contas e a mais antiga batia quando Midori fez 7 anos e era uma peça simples comparada com a datada mais atual, do ano passado. Eram todas peças que pareciam ser parte do corpo humano. Um dedo, um joelho, um pé, uma mão.... As mais novas possuíam muitos detalhes, eram mais trabalhosas e eram mais parecidas com uma prótese real. Comecei a entender o que Haru disse que aquele ramo animaria Midori. Ela parecia gostar disso desde pequena. Pensando bem, mesmo com mais de 10 anos como sua amiga, percebi que conhecia muito pouco da Midori além da escola. Isso me entristeceu um pouco.

- Yuki! Ah, está vendo minhas montagens? Legais, não? - ela se aproximou de mim, ainda segurando a bolsa de gelo na cabeça, um pouco melancólica - Esse dedo eu fiz quando tinha 7 anos - disse ela apontando para a peça mais antiga - esse aqui era para ser um joelho, mas não consegui finalizar direito. Essa última que eu montei foi o pé e eu tentei modelar como se fosse um pé de verdade, com todos os ossos - ela apontou para o pé, que realmente era um modelo muito perfeito. 

Apesar de estar falando com entusiasmo de seus modelos, senti que sua voz estava um pouco triste. Imaginei se a questão do que Haru comentou sobre o casamento arranjado seria uma realidade próxima para Midori e fiquei com um aperto no coração por ela. 

- Yuki, posso te perguntar umas coisas?

- Claro Midori, você sabe que não precisa pedir permissão para perguntar nada para mim, sou sua amiga. 

Ela me levou até sua cama e nós duas sentamos de pernas cruzadas. 

- Como são as aulas nas áreas biológicas? Quais matérias você tem?

- Ainda estão relativamente fáceis comparadas com as que a gente tinha no colégio - respondi, surpresa com a pergunta. Ela não precisava pedir para perguntar aquilo - ainda não tive todas as aulas, mas temos morfologia, química 1, bioquímica, parasitologia geral, genética e biologia molecular. Estou tentando estudar todos os dias após as aulas para não deixar nenhuma matéria acumular. Na maioria das vezes, Emma estuda comigo. E as suas aulas?

- São muito mais difíceis que as do colégio. Temos cálculo 1, algoritmo 1, geometria 1 e física e química fundamental. Mesmo sendo menos disciplinas, a gente sai da aula com a sensação que o cérebro desistiu de pensar. - Ri da expressão que Midori usou. Era exatamente assim que eu me sentia após genética e parasitologia - e seus professores?

- São bem diferentes dos que davam aula no colégio... a maioria só fica falando sem parar. O professor Carlos de bioquímica é o melhor, na minha opinião. E o de biologia molecular dá pouca aula e prefere liberar a gente para estudar por conta própria. O de química ainda não conheci porque as aulas só começam semana que vem. E os seus?

- São iguais. Falam, falam, falam e depois passam uma lista de exercícios enorme para a aula seguinte. Acabo madrugando para terminar as listas ou acordo antes das 6h para dar conta de fazer tudo. 

Eu sabia que Midori não gostava de acordar cedo, ouvi-la dizer quer acorda às 6h para fazer as atividades da faculdade mostra o quanto ela é comprometida, mesmo os que ela não goste de fazer. 

- E sua cabeça Midori? Está melhor?

Ela segurou o gelo com uma das mãos e o colocou sob o travesseiro. 

- Está - ela riu um pouco - acho que eu tomei mais bebida na festa do que pretendia - ela deu um sorriso sem graça.

- Aquela bebida horrível? Como você consegue? - ainda tinha resquícios na minha memória daquele álcool queimando minha garganta.

- Eu bebia um pouco escondido do copo da Haru quando tem as reuniões aqui em casa. Acho que ela já notou, mas finge que não vê. Meus pais se souberem, não vão me deixar sair mais. Só poderia tomar quando... - ela se silenciou, fazendo uma careta. Imaginei que poderia ser algo relacionado ao que Haru comentou mais cedo nos jardins a respeito do futuro de Midori. Dei esse espaço a ela. 

- E seus colegas Midori? A gente ficou mais perto dos meus colegas na festa. Não conheci muitos dos seus. 

- Ah, ainda não tivemos muitas oportunidades de nos conhecer. A gente sai meio atordoado da sala e as listas de exercícios são todas individuais. Achei que conseguiria conversar mais com eles na festa, mas o som estava muito alto para isso. E os seus?

- Já consigo identificar quais eu devo seguir para não me perder pelos corredores e quais não devo seguir - Midori fez uma cara engraçada nesse momento - ah, esses últimos costumam faltar nas aulas. E também tem a Emma, que foi a pessoa com quem mais conversei durante a semana e estudei junto. 

- Sei... e aqueles dois bonitos que estavam com ela? 

Eu corei à menção de Ray e de Phill. Nunca parei para conversar com eles, mas a beleza deles era de me desconcentrar. 

- São do grupo de alunos que eu posso seguir para achar as salas, nunca nem atrasam. - Midori fez uma cara de surpresa e continuou esperando por mais informações. Preferi esperar ela dizer o que queria que eu dissesse.

- E o que você acha deles Yuki? - ela perguntou, levantando uma sobrancelha.

- São bonitos né? Me lembram daquele mangá que você levava para eu ler, o que a gente não sabe como termina - não consegui impedir minha pele de ficar mais vermelha do que estava. Tenho certeza que se fosse Emma, ela continuaria fazendo mais perguntas para ver até que tom eu ficaria. 

- É, são bonitos mesmo... Andou pensando em algum deles?

Senti minha pele esquentar com a pergunta de Midori. 

- Não.... Estava muito preocupada com as minhas matérias. Acho que vou ter que estudar mais genética e talvez parasitologia. 

Midori suspirou, o que eu pensei que foi de alívio. Nós continuamos a conversar sobre as diferenças entre o colégio e a faculdade, sobre a liberdade que é estar fora do colégio e Midori disse que ouviu de algumas pessoas que estavam na festa de ontem que os alunos estavam entusiasmados para fazer outra. 

Quando assustei, já estava escuro. Haru trouxe um lanche para nós e falou para eu dormir na casa naquela noite. Antes mesmo que eu pudesse protestar, Midori já tinha buscado uma toalha e uma muda de roupas de sua irmã para mim. 

Após o jantar, Midori queria dançar um pouco mais daquelas músicas que tocaram na festa. Eu protestei, mas ela me convenceu a dançar com ela. Com muita paciência, ela me ensinou um pouco mais de como me mover como ela e Emma faziam e depois de mais de 2 horas, ela disse que eu estava muito melhor do que no dia anterior. 

- Amanhã vamos treinar mais Yuki! Assim você vai poder aproveitar mais da próxima festa que tiver!

Eu já estava bem cansada quando fomos dormir, portanto nem conversamos até o dia raiar. 

No domingo nós andamos pelos arredores da casa e dentro da propriedade da família de Midori e ela insistiu para a gente dançar de novo. Até Haru se juntou na brincadeira na parte da tarde. À noite, Haru voltou para sua casa e me deixou no dormitório no caminho. Até que tirar o final de semana para divertir com Midori foi muito bom, eu estava morrendo de saudades dela. 

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Ray - Quarto

Emma estava me fitando enquanto brincava com a fita que estava amarrada em uma mecha dos seus cabelos úmidos. O cheiro cítrico vindo dela invadia minhas narinas e foi chegando ao meu cérebro, causando uma leve entorpecência. O moletom velho da minha mãe, grande demais para o corpo mais magro e baixo de Emma pendia de lado nos seus ombros, me convidando a abaixar a blusa de uma vez. Eu pisquei um pouco sonolento e me afastei um pouco dela. Em resposta, ela avançou novamente em minha direção, sentando-se ao meu lado. 

- Cadê seus pais, Ray? - ela perguntou em um tom de voz doce, me olhando nos olhos, ainda enrolando a fita do cabelo nos dedos. 

Minta, diga que foram jantar e já estão voltando.

- Minha mãe está viajando - respondi bobamente. Ela estava usando alguma coisa para me afetar? O que era aquilo, algum tipo de droga?

- E o Phill? Ele não era seu carona? - ela abaixou o tom de voz e se aproximou do meu ouvido ao fazer a pergunta. 

Não caia na dela Ray, ela deve estar assustada ainda com os babacas. Não faça nada que irá se arrepender depois. Diga que o Phill vai dormir aqui. 

- Ele deve ter saído com a caloura da exatas amiga da Yuki. Não acredito que venha para cá depois - ok, essa Emma deve ter me drogado. Ela deve ter espalhado alguma porcaria no meu banheiro, só pode. 

Me esforcei para levantar do sofá e fui para a cozinha para tomar um copo de água. Emma veio saltitando em minha direção e pude ver seus peitos mexendo por baixo do moletom enquanto ela se aproximava de mim. 

- Posso? - ela pegou um copo. Enchi o copo com água e dei para ela.

Ela bebeu da água e lavou nossos copos. Coloquei as mãos no bolso e voltei para o sofá. Ela continuou a me seguir. 

- Emma, acho melhor você ir dormir. Hoje foi um dia cheio, aulas, preparativos da festa, aqueles idiotas aparecendo... Vamos lá, vou te levar para o quarto. 

Ela fez um beicinho mas não protestou além disso. Mostrei para ela o quarto, e caso ela sentisse frio poderia pegar uma coberta que deixei em cima da cadeira. Se sentisse calor era só ligar o ventilador. Ela fez que sim e então fui para meu quarto para pegar o travesseiro para ir para o sofá. Ótimo. 

O cheiro cítrico ficou forte novamente. Me virei e vi Emma parada atrás de mim. Ela olhava para mim com seus olhos verdes, mais especificamente para minha boca. Não ia adiantar, era melhor falar com ela. 

- Emma - comecei e ela se sentou na minha cama, ajeitando o moletom caído no ombro - olha, não quero que a gente faça sexo para você se sentir acolhida, se você tiver com medo ou qualquer coisa assim. Eu também não estou querendo nada sério atualmente, acredito que você também não - ela assentiu - só quero deixar bem claro que não quero me aproveitar de você se você estiver se sentindo..... vulnerável. Não quero aproveitar dos seus sentimentos. Se for para transar, quero que seja bom para mim e para você. 

- Ray então além de galanteador é um cavalheiro - ela disse com a voz mais doce que antes, acho que zombando de mim - Eu percebi Ray. Eu percebi que você não tentaria nada comigo desde que nos escondemos no banheiro. Você poderia ter dito qualquer coisa para me confortar e aproveitar da situação, mas ficou calado, não fez perguntas, não tentou "encostar" em mim. Então não se preocupe, não estou atrás de você agora por qualquer motivo além da minha vontade. 

Eu fiquei surpreso com a sua objetividade ao falar. Novamente o cheiro cítrico subiu para minhas narinas e a sensação voltou. 

- Emma, você tá tentando me drogar? - perguntei com receio. Acho que era melhor trancar ela no outro quarto e deixar ela lá até amanhã se ela estivesse tentando me drogar. Além disso, se minha mãe achasse qualquer indício de drogas, eu era um filho morto. 

- Drogas? Tá doido? - ela me perguntou com surpresa - só usei os produtos que estavam no seu banheiro mesmo. 

Lembrei que meu shampoo tinha alguma coisa de laranja ou limão ou sei lá o que. Por que então o cheiro nela era tão diferente? Enquanto eu estava processando o cheiro dela em meu cérebro, ela se aproximou de mim, rebolando um pouco. A blusa continuava caindo dos seus ombros. Ela se colocou nas pontas dos pés e se aproximou do meu ouvido:

- Vem Ray - disse com uma voz calma, baixa e doce, enquanto me puxava de leve para a cama.

Olha, geralmente eu quem começo seduzindo as garotas. Poucas que iniciam o jogo da sedução e então costuma ser bem interessante quando parte delas o primeiro passo. Porém o cheiro do shampoo no cabelo de Emma estava me desconectando dos meus sentidos. 

Sentei na minha cama e Emma sentou-se de frente para mim. Ela voltou aos meus ouvidos e sussurrou: 

- Vem Ray, vamos continuar com o beijo que estávamos dando.

Antes mesmo de eu ter qualquer reação ela me beijou, com uma urgência ainda maior do que antes. Suas mãos apertaram minha nuca e meus cabelos úmidos. Sua língua parecia estar faminta de mim. Afastei-a do beijo um pouco. 

- Só para confirmar, você não está bêbada não é?

Ela riu da minha pergunta. 

- Não, estou não. Eu não posso beber muito senão prejudica meu desempenho nos treinos. Relaxa Ray, amanhã eu ainda vou me lembrar de como você é um cavalheiro galanteador e pegador. 

Ela voltou a me beijar, dessa vez me puxando para mais perto do seu corpo. É, game over. Perdi o jogo para a Emma. Me entreguei ao seus beijos. Minhas mãos procuraram seus peitos sob a blusa de moletom. Ao segurá-los, Emma me beijou com mais urgência e vontade. Ela começou a tirar minha blusa. Minhas mãos buscaram sua pele embaixo do moletom largo. Ela tinha uma pele macia e seus peitos eram firmes. Tirei sua blusa. Enquanto nos beijamos, ela desamarrou meu short e o abaixou. Ela beija meu pescoço e me dá leve mordidas. Arrepio com seus beijos e o toque de sua língua na minha pele. Seguro de leve seus cabelos úmidos entre meus dedos para sentir seu cheiro mais de perto. 

Deito Emma na cama, embaixo de mim. Começo a beijar próximo ao seu ouvido. Ela espalma uma das mãos nos meus cabelos e a outra nas costas. Uma das minhas mãos aperta de leve seu peito e ela responde ao toque, arfando. Volto a beijá-la e vou descendo os beijos pelo pescoço e para seu peito. Continuo apertando-a de leve e ela reage a cada toque meu. Sinto um arrepio na pele. Ela começa a fazer desenhos em minhas costas com as pontas do dedo. 

Emma se inclina para frente, me fazendo sentar na cama e em seguida, indo para cima de mim. Ela beija a ponta do meu nariz e meu rosto. Ela então me beija e mordisca meus lábios, em seguida meu queixo. Suas mãos tocam meu tórax e ela me abraça. Sinto seus peitos se pressionarem contra os meus, seu coração acelerado. Sinto seu cheiro cítrico e a sensação de torpor no cérebro. Viro ela de volta para a cama e volto a beijar seu colo e seus peitos. A pele macia e cheirosa do banho recém tomado me anestesiavam. Minha mão busca o cordão de sua calça e percebo que o nó está frouxo. Tiro sua calça e me surpreendo por vê-la com calcinha. 

- Que foi? Achou que eu estaria sem calcinha também? - Ela ri da minha surpresa.

Desço meus beijos dos seus peitos para sua barriga. Assim como pensei, sua barriga era bonita e firme, assim como todo o resto do seu corpo. Continuo descendo os beijos em direção à calcinha Ela se contorce sob minha língua. Beijo sua virilha e suas coxas. Ela arfa aos meus beijos e aperta com força meus braços. Seguro suas coxas com minhas mãos enquanto beijo vagarosamente ali. Suas coxas, que tanto me enlouqueceram sob as roupas, era minha vez de enlouquecê-la com meus beijos. Deslizo minha mão pelas suas coxas até sua bunda, bem firme. Aperto. 

- Ah Ray. - Ela suspira. 

Meus beijos retornam à sua calcinha. Tiro sua calcinha e Emma auxilia. Ela me puxa pela cueca e começa a tirá-la também. Emma volta a beijar meu tórax, sobe para meu pescoço e volta para meus lábios. O cheiro cítrico de seus cabelos já me entorpeceu totalmente. Ela aperta minha bunda e sua outra mão desce em direção à minha virilha. 

Meu celular emite sons de mensagens. Continuamente. Droga, por que não deixei essa porcaria no silencioso? Só faltava ser o Phill agora. Ou reclamando que não aconteceu nada e que vai voltar para cá. Espero que não, fique longe da minha casa agora Phill

Emma notou minha inquietação com as notificações do celular. 

- Quer olhar o que é? - ela perguntou em uma pausa entre os beijos. 

- Agora não - respondi - meu compromisso agora é com a senhorita Emma. 

Voltei a beijá-la. Não aguentava mais me segurar. Fui até a escrivaninha e peguei uma camisinha. Enquanto abria o pacote, ela beijou minhas costas, me arrepiando novamente. Ela riu e voltou a beijar ali, me desconcentrando da tarefa de colocar a camisinha direito. Me virei, peguei-a no colo e levei-a de volta para a cama. Deitei Emma na cama e fiquei em cima dela. Ela me olhou e sorriu. Mas era um sorriso de quem aprontou. Tipo o sorriso que eu costumo dar para cima das meninas. Então Emma me derrubou na cama com um movimento e foi para cima de mim. 

Ela se encaixou em mim e começou a se movimentar devagar. Apoiou suas mãos em meu tórax, prendeu as pernas ao lado do meu corpo e continuou os movimentos, aumentando a intensidade aos poucos. 

Minhas mãos apertam seus peitos. Ela me suspende pelos braços e me trás para mais perto dela. Nossos lábios se encontram em mais um beijo, mais faminto, mais urgente. Ela continua se movimentando e eu ajudo.

- Ahhh Ray. Ahhh - ela geme. 

Arrepio com sua voz em êxtase. Aperto seu peito com mais força e sua bunda. Ela arfa e não pára de se mover.

- Isso Ray, isso, ahhhh.

Ela inclina a cabeça para trás enquanto goza. Ver ela assim me excita mais ainda. Beijo seu pescoço enquanto continuo os movimentos. Ela continua gemendo. 

- Ah Emma, ahhh. 

Ela me aperta com força e eu gozo. 

Emma está arfando muito mais do que quando corremos da festa. Seu coração batia rapidamente e dava para ver sua pele vibrando com as pulsações. Tiro ela de cima de mim com cuidado e me livro da camisinha. Ela receia se aproximar de mim, então eu puxo ela para mim e a abraço. Ela retribui o abraço e seus cabelos fazem cócegas no meu nariz. Aguardo nossas respirações normalizarem. 

- Ei ei Ray, seu celular - ela me lembrou. 

Aff, ainda tinha a droga das notificações. Coloquei minha cueca e meu short. Fui olhar o celular. Oh droga, hoje não....

- Que foi Ray?

Phill mandou um monte de mensagens, todas confusas. O que eu entendi é que ele iria levar a Midori de volta ao dormitório e voltaria para dormir na minha casa. Mas que isso ainda iria demorar um pouco. 

- Phill vai vir para cá daqui a pouco. Merda

- Quer que eu me escondo? - ela riu debochando. 

E agora, como explicar para Emma que eu nunca trago nenhuma garota para meu quarto? E como explicar para o Phill que eu fiz exatamente o que eu digo que nunca faria, pelo menos não tão cedo? Se minha mãe tivesse aqui, ela só iria rir de mim e fazer amizade com a Emma, ela seria o pior dos meus problemas. 

-Err, não precisa, eu me viro com o Phill. Está com fome? Quer beber algo? Tomar um banho de novo, talvez?

- Acho que preciso de um pouco de água. 

Emma começou a se vestir e eu fui à cozinha. Enchi um copo com água e levei para ela. Ela tomou a água e começou a ficar sonolenta. Não a culpo, a maioria das meninas ficam assim depois. Emma foi para o outro quarto, mas antes de entrar, debochou de mim:

-Ray, o cavalheiro pegador - soprou um beijo em minha direção e foi dormir.

Vesti minha blusa, limpei a bagunça da cama e voltei para sofá, mas só fiquei deitado, olhando para o teto, esperando o Phill chegar. O que será que Emma tinha de especial que me permiti trazê-la para casa? E ainda mais, transar com ela no meu quarto. Isso era novidade até mesmo para mim. 

Phill chegou e pediu para eu abrir a porta. Ele entrou e sentou no sofá, rindo. Aquilo era novidade para mim. Phill chegando cedo, depois de levar uma garota de volta para a festa mas estava de bom humor? 

- Ok, vamos às explicações - ele começou - Cheguei na Midori. Tudo certo. Ela tava doida comigo. Fomos para o motel. Foi mal cara, sei que você tava na cola da Emma e queria levar ela também, mas Midori me puxou para o banheiro. Aí sabe como é né? Banheiro, aquele canto apertado, a adrenalina de alguém bater na porta porque quer usar.... Ela só me mandou ficar calado por um tempo e depois voltamos a nos pegar. Não deu para esperar vocês dois. 

Eu ri. Não só da situação muito mais cômica e feliz do Phill, mas porque eu também estive dentro do banheiro com a garota que eu queria pegar, mas sob circunstâncias diferentes. 

- Aí tá, transamos, esqueci de levar camisinha, mas parece que ela tinha, o que foi um alívio. Aí depois ela me avisa "Ah Phill" - ele imitou uma voz feminina, mas sem debochar - "não posso voltar para casa tarde sozinha, tem como você me levar de volta para o dormitório? Vou dormir no quarto da Yuki".Tá, ok, levo a garota de volta para a festa. Ficamos um pouco na festa, te procurei e não achei mais ninguém conhecido. Só ouvi uns boatos que teve uma briga na festa. Já que não te encontrei, presumi que você tinha voltado para casa. 

Ouvi a versão resumida da história do Phill. Ri novamente da ironia da minha situação e da situação dele. 

- Ah, e tem outra coisa - ele adicionou - quando eu fui levar a Midori para a festa, ela reclamou comigo. 

- Reclamou? Como assim? Você fez algo errado ou não deu conta?

Phill me deu um soco.

- Não cara, não é isso. Ela disse "não se aproxime da minha amiga Yuki, nem você, nem seu amigo moreno bonito. Fiquem vocês dois longe dela". Bom, eu não tô com muito interesse na nossa coleguinha nerd que vive isolada. Você tá?

Lembrei da Yuki na sala. As roupas normais, sem mostrar muito seu corpo. Nada chamativa, a não ser pela cor dos cabelos e da pele e por ser um pouco mais alta que a maioria das meninas. Mas nada que me atraísse. Fiz que não com a cabeça. 

- E aí cara, fico te devendo uma por furar seu programa com a Emma, te compenso depois - Phill disse, apertando meus ombros e mexendo no meu cabelo - Posso beber um gole d'água?

- Errr, sobre a Emma, você não vai acreditar Phill - disse para ele quando ele voltava da cozinha com o copo de água - é melhor você sentar.