nº 456 segurava a nº 222 no colo e olhava com ódio para o vidro....
E assim nos despedimos de Round 6. Uma série que poderia ter terminado na 1ª temporada, da forma que terminou. O nº 456 foi o vencedor do jogo, mantendo sua humanidade, tendo chorado pela perda dos companheiros que fez naqueles 6 dias. Ajudou os familiares daqueles que pôde e iria encontrar sua filha.
A série continuou por mais duas temporadas. Ele retorna ao jogo, tentando avisar os participantes do quão mortais eram os riscos, mas nos deparamos novamente com a ganância humana sendo prevalente, afinal de contas, o mundo real não era tão diferente quanto àqueles jogos infantis mortais que eles enfrentariam, mesmo que custassem suas vidas. A maioria ali devia muito mais do que poderia pagar mesmo que vivessem 100 vidas. Se agarrar à esperança que seriam sobreviventes ao final do jogo, cedendo mais ainda à ganância, à "inumanidade" era a solução plausível. Mas não para o nº 456.
Comecei a temporada 2 com um pé atrás, já que para mim, a temporada 1 tinha fechado tudo de forma perfeita. Minhas hipóteses eram duas: ou ele ganhava novamente o jogo, sendo o primeiro bicampeão, ou ele morria. Em ambas opções, o restante do desenvolvimento não importava muito. O detetive provavelmente não conseguiria chegar na ilha, já que o capitão era do esquema, os VIPS nunca seriam descobertos, os jogos continuariam existindo. Se não naquele lugar, em outro. Assim a série finalizaria e estava tudo bem. É para isso que ela se propõe.
Como esperado, o que eu achei aconteceu. Fiquei triste com a morte do nº 456? Claro. Eu gostava dele como personagem. Eu gosto muito quando há um personagem que nos faz ter fé na humanidade quando você acaba torcendo (que ironia, não é mesmo) que os outros frutos podres morram. Por isso que Seong Gi-hun (o nº456) e personagens como Tanjiro, Deku e até mesmo em partes, O Ed Elric me cativam tanto e tendem a ser os meus favoritos. Não é porque eles são os mais fortes (podem até ser) os mais fodões, com o melhor desenvolvimento de personagem na obra. É pq eles conseguem enxergar a bondade, as feridas que transformaram as pessoas no que elas são atualmente e tentam fazê-las enxergar outro caminho, o caminho que não é o mais fácil, mas o caminho que faz você pensar "ainda existem pessoas boas, fé na humanidade restaurada"
No fim, nº456 teve contato com dois jogadores nº 001 envolvidos diretamente com os jogos (um VIP e o líder que gerencia os jogos), tornou-se próximo e amigo de ambos e mesmo tendo experenciado que no primeiro jogo o nº 001 fosse um VIP, jamais desconfiou que o novo nº 001 também tivesse envolvido. Quando então vemos o conflito interno que o nº456 se depara em matar seus colegas para ser vencedor junto do bebê nº 222, ele tem a visão de Kang Sae-Byeok, jogadora anterior nº067 pedindo para ele não matar, pois não é do feitio dele. Quem sabe se o Líder não tivesse conhecido alguém como ela quando era jogador, não teria tido um futuro diferente? Tanto que, podemos ver mesmo por detrás da máscara, sua incredulidade diante da escolha de Seong Gi-hun em não matar seus colegas e seu sacrifício final, para proteger a bebê, conforme prometido tanto à jogadora nº 222 quanto à nº 149 (a idosa simpática). Vemos ainda que, à maneira dele, frente às atrocidades vivenciadas, ele tem sua humanidade. entrega a bebê nº222 com o cartão de crédito ao seu irmão, pois sabia que ela seria bem cuidada e protegida, assim como Seong Gi-hun prometeu. Vai até a casa da filha e entrega os últimos pertences de seu pai, a jaqueta ainda ensaguentada com o nº456 e o cartão de crédito dourado, informando que Seong Gi-hun faleceu.
No fim, os VIPS não ficaram tocados com o sacrifício do nº 456 nem foram pegos, como era de se esperar. Os jogos continuaram. Como esperado. Cate Blanchett arrasando no ddakji e no tapa em LA. Pequenas pontas que já estavam amarradas na primeira temporada encontraram suas iguais para fechar em nós. Outras pontas que estavam pairando na temporada 2 foram amarradas, fechando-se um ciclo.
Um final bom, fechado, satisfatório. Entregou tudo que a série se propõe e manteve seus personagens fiéis ao desenvolvimento apresentado e às personalidades. Seong continuou sendo o "mais humano" (se é que podemos usar essse termo), nº 149 defendeu o que ela acreditava ser o certo e não conseguiu viver uma vida sem seu filho. os personagens filhos da puta continuaram sendo filhos da puta e detestáveis e a gente continuou sofrendo pelos personagens amáveis.
E a crítica de que somos reféns da nossa ganância e palco dos que têm poder continua forte (ainda bem).