Depois que a aula acaba, Gabriel e Peter vão conversando
pelo corredor sobre o quadro “O Grito”.
Gabriel comenta que a sessão que ele gosta de ver está em Oslo’s. Eles
param entre a escada que leva ao segundo andar e uma janela. Da janela pode se
ver um pouco da parte da escola onde ocorre a educação física.
- Quando você observa por muito tempo o quadro, você não se
sente angustiado, Gabriel? – pergunta Peter – Perturbado, inseguro...?
- Acho que eu fico inquieto. Mas o mundo me deixa ansioso.
Essas emoções estão claramente ilustradas na pintura, por isso eu gosto tanto
dela.
- Você gosta desse sentimento?
- É inútil você fingir que você não sabe que algo de
estranho está acontecendo. Eu acho que todos pensam assim.
Nesse momento, alguém toca no ombro de Peter. É Miguel. Ele está animado como sempre.
- Por acaso vocês estão fazendo fofoca sobre a professora
Júlia? Tô dentro
- Na verdade – disse Peter – estamos falando de algo muito
mais sombrio.
Miguel ficou muito sério. As nuvens lá fora tamparam o sol,
e o interior da escola ficou mais escuro. Ele olhou ainda muito sério para
Peter e para Gabriel:
- Como assim? “Sombria”
-A ansiedade que sufoca o mundo – respondeu Peter.
-O que raios vocês estavam falando? – perguntou Miguel
-Miguel, você nunca se sentiu assim? – perguntou Peter.
- Claro que sim, quem nunca sentiu? – responde ele –
sinto-me assim desde que comecei a quinta série, mas acabei caindo na
amaldiçoada classe B...
Nesse momento, Miguel cobre a boca. Ele percebe que falou
algo que não deveria, ou pelo menos falou algo com quem não deveria. Peter nota
o susto de seu colega, e olha para seus dois amigos. Eles parecem estar
embaraçados com a situação. Miguel passa a mão em seus cabelos para pensar um
pouco no que vai dizer em seguida, enquanto Gabriel fica olhando para o chão,
com uma cara triste. Uma leve brisa entra por uma fresta da janela, e
passou pelos três ali parados. As nuvens continuavam a encobrir o sol, e o
tempo começava a ficar mais frio.
-Ah, olha, Peter – começou Miguel, escolhendo bem as
palavras – há uma coisa que eu desejo te contar desde ontem...
-Miguel – interrompeu Gabriel – não acha essa uma péssima
ideia? Não acha nossa situação atual terrível o suficiente?
-Terrível? – Peter parece confuso – o que vocês querem
dizer?
Peter se vira para olhar no rosto de Miguel, e vê uma porta
que antes não tinha sido notada. Ela estava entreaberta. Ele vê Miki sentada em
uma cadeira dentro da sala que a porta leva.
Ela está com a mesma prancheta que no dia da aula de educação física.
Peter só consegue ver Miki porque ela está sendo iluminada pela luz fraca que
vem da janela que está atrás dela. Ele caminha calmamente para frente, em
direção à porta, com o olhar fixo no interior da sala.
-O que houve? – pergunta Miguel.
- Não é nada, esperem um momento. Ali tem uma pessoa com
quem eu preciso falar.
Miguel e Gabriel se olharam sem entender nada, quando
olharam para a mesma direção na qual Peter olhava, se desesperaram e tentaram
impedir sua entrada naquela sala.
- Peter, espere! – gritaram os dois.