quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Angústia


Depois que a aula acaba, Gabriel e Peter vão conversando pelo corredor sobre o quadro “O Grito”.  Gabriel comenta que a sessão que ele gosta de ver está em Oslo’s. Eles param entre a escada que leva ao segundo andar e uma janela. Da janela pode se ver um pouco da parte da escola onde ocorre a educação física.
- Quando você observa por muito tempo o quadro, você não se sente angustiado, Gabriel? – pergunta Peter – Perturbado, inseguro...?
- Acho que eu fico inquieto. Mas o mundo me deixa ansioso. Essas emoções estão claramente ilustradas na pintura, por isso eu gosto tanto dela.
- Você gosta desse sentimento?
- É inútil você fingir que você não sabe que algo de estranho está acontecendo. Eu acho que todos pensam assim.
Nesse momento, alguém toca no ombro de Peter.  É Miguel. Ele está animado como sempre.
- Por acaso vocês estão fazendo fofoca sobre a professora Júlia? Tô dentro
- Na verdade – disse Peter – estamos falando de algo muito mais sombrio.
Miguel ficou muito sério. As nuvens lá fora tamparam o sol, e o interior da escola ficou mais escuro. Ele olhou ainda muito sério para Peter e para Gabriel:
- Como assim? “Sombria”
-A ansiedade que sufoca o mundo – respondeu Peter.
-O que raios vocês estavam falando? – perguntou Miguel
-Miguel, você nunca se sentiu assim? – perguntou Peter.
- Claro que sim, quem nunca sentiu? – responde ele – sinto-me assim desde que comecei a quinta série, mas acabei caindo na amaldiçoada classe B...
Nesse momento, Miguel cobre a boca. Ele percebe que falou algo que não deveria, ou pelo menos falou algo com quem não deveria. Peter nota o susto de seu colega, e olha para seus dois amigos. Eles parecem estar embaraçados com a situação. Miguel passa a mão em seus cabelos para pensar um pouco no que vai dizer em seguida, enquanto Gabriel fica olhando para o chão, com uma cara triste. Uma leve brisa entra por uma fresta da janela, e passou pelos três ali parados. As nuvens continuavam a encobrir o sol, e o tempo começava a ficar mais frio.
-Ah, olha, Peter – começou Miguel, escolhendo bem as palavras – há uma coisa que eu desejo te contar desde ontem...
-Miguel – interrompeu Gabriel – não acha essa uma péssima ideia? Não acha nossa situação atual terrível o suficiente?
-Terrível? – Peter parece confuso – o que vocês querem dizer?
Peter se vira para olhar no rosto de Miguel, e vê uma porta que antes não tinha sido notada. Ela estava entreaberta. Ele vê Miki sentada em uma cadeira dentro da sala que a porta leva.  Ela está com a mesma prancheta que no dia da aula de educação física. Peter só consegue ver Miki porque ela está sendo iluminada pela luz fraca que vem da janela que está atrás dela. Ele caminha calmamente para frente, em direção à porta, com o olhar fixo no interior da sala.
-O que houve? – pergunta Miguel.
- Não é nada, esperem um momento. Ali tem uma pessoa com quem eu preciso falar.
Miguel e Gabriel se olharam sem entender nada, quando olharam para a mesma direção na qual Peter olhava, se desesperaram e tentaram impedir sua entrada naquela sala.
- Peter, espere! – gritaram os dois.

Nenhum comentário:

Postar um comentário