Ao abrir a porta, ele recebe um “Bem vindo” de uma senhora
que está sentada atrás de um balcão. A senhora tem idade para ser avó, mas não
parece tão velha quanto os avós de Peter. Ela usa um par de óculos, que é a
única coisa que realmente Peter vê bem. Com a pouca luz que entra pela janela
oval, todo o interior fica escuro e somente os óculos da velhinha eram
iluminados, o que lhe dava um aspecto meio aterrorizante. Atrás da velha, há
muitas bonecas, sentadas, deitadas, com as mais diferentes roupas.
-É estranho ver um rapaz dessa idade entrar na loja. Você é
um cliente?
-Boa tarde. Na verdade, eu estava passando do lado de fora e
fiquei curioso. Essa é uma loja de marionetes?
-Loja de marionetes? – repetiu ela – você está meio correto.
Aqui há um ateliê também.
-Você vende bonecas? – perguntou ele.
-Mais ou menos – respondeu ela, sem se mover um centímetro –
eu as vendo, mas não por um preço que um estudante como você possa pagar. No
entanto, fique a vontade para olhar a loja. Eu não tenho outros clientes mesmo.
Se você quiser, farei um chá para você.
-Obrigado, mas irei recusar o chá.
Peter olhou as bonecas da loja. Havia uma boneca loira
dentro de uma redoma de vidro, com rosas ao seu redor e um cabo de rosa
brotando do seu olho e ela usava um vestido branco. Havia outra boneca de
cabelos azuis dentro de uma caixa de vidro, com um vestido rosa e asas de
borboleta em suas costas. Havia outra boneca que se assemelhava a uma dama da
idade média. Uma boneca com roupas pequenas. Também havia em outro lugar,
bonecas inacabadas, com apenas o tronco feito, mas elas estavam vestidas.
Peter nota uma placa e uma escada ao lado, que o levava ao
andar de baixo, em um porão. Peter segue a indicação da placa e desce as
escadas. No porão, havia muitos corpos de bonecas, mas eles estavam sem roupas,
sem cabelo, sem o rosto. Algumas estavam terminadas, mas não estava no
mostruário da loja. Ele então notou que muitas bonecas tinham feições tristes
ou desesperadas, aflitas. As partes que iriam compor as futuras bonecas estavam
espalhadas, braços e pernas articulados estavam em cima de uma mesa aos montes.
Ele nota um caixão, ao fundo da sala. Ele se aproxima. A boneca está vestida um
vestido solto e há flores em suas mãos. Ele tem a impressão que a morte está
ali. Mas, ao olhar a boneca de perto, ele nota que a boneca possuía feições
tristes, porém parecia estar em paz. Seus olhos estavam abertos e o cabelo era
curto, preto e repicado. A boneca era muito semelhante.
-Por que é tão parecida? – perguntou ele.