quarta-feira, 4 de junho de 2014

Insulina (I)

Adoro doces. Mas desde meus 8 anos meu corpo encara o açúcar como veneno. Meu pâncreas não produz insulina.
Já se passaram dez anos. Não aguento mais essa vida de levar uma farmácia para onde vou. Uma vez, por acidente, apliquei uma dose tão alta de insulina que quase foi letal. Hoje comemoro dois aniversários. O dia que nasci, e o outro é quando descobri o diabetes em minha vida.
Meus entes queridos não sabem, mas este aniversário vai ser diferente.
Meu lanche da noite vai ser perfeito. Vou ter um delicioso bolo de nozes, empadas e pão de queijo. A presença de meus amigos me fez um pouco mal. Afinal, a culpa não é deles, mas vão acabar sofrendo.
Apliquei uma dose a mais da insulina, e umas 4 a mais da lenta. Minha glicemia não será suficiente para me manter viva por muito tempo.
Se meus pais não descobrirem o que eu fiz, nunca mais vou vê-los. Nem meus amigos, professores, namorado, nem ninguém. Nunca mais vou verificar a maldita glicemia antes de comer, não vou ficar tonta e desmaiar de repente na aula de biologia ou de matemática, não aplicarei insulina, não terei que ficar levando um monte de coisas. Mas agradeço à essas coisas, pois elas acabarão comigo, e eu não sentirei dor.
Sinto apenas a maciez do meu travesseiro em baixo da minha cabeça. Vou ficando tonta, sinto que não tenho muito tempo. Tudo fica escuro.

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