sábado, 18 de setembro de 2021

Ray - Sábado

- ... e agora a Emma esta dormindo no outro quarto.

Olhei para Phill, esperando sua reação. Ele começou a rir.

- Pára Ray! Você não é de brincadeiras. O Rich aparecer na festa eu acredito, mas a Emma estar aqui? Desculpa cara, mas vai ter que se esforçar mais para eu acreditar nessa.

Permaneci sério, olhando para Phill. Em um segundo seu sorriso se desfez. 

- Acho que você está falando sério sobre a Emma - ele disse passando uma mão na testa - mas cara, como isso foi acontecer?

Levantei do sofá e comecei a andar pela sala, tomando cuidado para não falar muito alto e acordar a Emma.

- Já falei Phill. Aconteceu. Não estava nos planos trazê-la para cá para transar - eu não sabia mais o que dizer. 

Phill se levantou do sofá, apertou meus ombros e perguntou:

- Quer beber alguma coisa? Cerveja?

-Não, obrigado. Acho que vou tomar um banho e tentar dormir. 

Phill continuou na sala. Ele claramente estava ainda animado, o que era bem estranho devido à hora e eu estava cansado demais para tentar entender seu entusiasmo. Amanhã eu levaria Emma para casa e passaria o resto do dia com Phill. Aí sim a gente poderia conversar direito e eu entenderia porque ele estava tão animado e feliz. 

Passei na frente do quarto de Emma, prendi a respiração e andei devagar, tomando cuidado para não fazer nenhum barulho. Não queria acordá-la e também temia um pouco que ela resolvesse tentar uma segunda transa naquela noite. Claro, eu não me importaria, desde que estivesse tudo bem para ela, mas não com Phill na sala. Ela estava dormindo. Respirei aliviado e fui para o banheiro. 

Enquanto deixava a água quente caindo na cabeça, percebi, meio que da primeira vez, de onde vinha o cheiro cítrico que senti em Emma depois que ela tomou o banho. O cheiro do meu shampoo não era assim tão forte, então por que será que o cheiro ficou tão marcante nela? Conforme a água ia levando o estresse embora, me lembrei de nosso momento no quarto. Seu cheiro, sua pele macia, seus toques, sua... intensidade. O tanto que liberdade a descreveria bem, ser intensa era algo que fazia parte dela também. Ri da ironia que eu me encontrava enquanto finalizava meu banho e coloquei meu pijama. Tudo que eu queria naquele momento era afundar a cabeça no meu travesseiro e dormir. Então lembrei de Phill no sofá.

Phill aparentemente já tinha se arrumado no sofá. Ele era praticamente de casa, então sabia onde pegar as coisas que precisava. Fui até ele. 

- Ei Phill, quer jogar video-game ou alguma coisa assim? Comer algo?

- Precisa não Ray. Você tá com uma cara bem acabada aí. Acho que o estresse de ter encontrado o Rich e não ter dado um soco nele foi maior que ter a Emma aqui na sua casa, não é?

Sentei novamente perto de Phill. Apesar do sono, era bom ter o amigo que me entendia e não me julgava. Qualquer outra pessoa iria embora para me deixar a sós com a Emma, dizer para aproveitar o momento e tudo mais, ou então me zoar por eu ter ficado conturbado de tê-la trazido para cá, mas não Phill. E sim, ele estava certo. Em parte, o encontro com Rich me desestabilizou muito mais do que ter Emma em casa. Mas não me afetou tanto quanto ver Emma sendo levada por aquele idiota do Lucas. Minhas mãos começaram a suar com a lembrança.

- Preocupa não Ray - disse Phil apertando meus ombros de leve - se a gente ver aqueles babacas de novo, a gente se arrebenta com eles. Podemos os dois ir para o hospital, mas pelo menos levamos eles também. 

Phill conseguia me fazer rir dessas coisas. Imaginar a gente tentar bater no armário ambulante que é o Rich era insano, mas imaginar a cara roxa dele era ótimo. 

- Vai lá dormir Ray. Amanhã a gente leva a Emma em casa, depois podemos esquecer as coisas com os jogos, se você quiser - Como eu disse, um amigo que me entende. 

Meus sonhos não foram muito diferentes dos que eu tive ao longo da semana, a diferença é que agora eu sabia exatamente como era o corpo de Emma por baixo das roupas. Acordei no dia seguinte com um humor melhor. 

Emma já estava de pé e, meio sem jeito, tentava preparar o café da manhã na cozinha. Ela abandonou os moletons velhos da minha mãe e voltou a usar o vestido de ontem. Phill ainda dormia no sofá. 

- Que ajuda, senhorita Emma? 

- Bom dia Ray - ela sorriu - er.. tentei preparar algo, mas não consegui encontrar o que eu precisava. Onde você guarda farinha e ovos?

- Não precisava se incomodar Emma, eu ia preparar o café da manhã. 

- Ah, eu já estava ficando com fome - ela disse, soprando uma mecha da testa - desculpa se invadi sua cozinha. 

- Não tem problema. Quer deixar que eu assumo daqui? Ou quer finalizar o que você estava preparando?

- Ovos e farinha, por favor - ela disse, com os olhos brilhando. 

Após acordar Phill e tomarmos o café da manhã que Emma preparou (que estava muito bom), Phill e eu levamos Emma em casa. Ela morava relativamente perto da faculdade e a rua parecia ser bem tranquila, pois não tinha movimento de carro. Antes de voltar para a minha, Phill perguntou:

- Ray, minha tia tá precisando daquela força com as mercadorias dela. Topa ir lá resolver isso agora antes de ir para sua casa?

- Só se for agora. 

Phill mora com sua tia desde que eu me lembre. Ela trabalha com comércio e acredita que todo mundo deve batalhar para ter dinheiro, assim, Phill faz alguns serviços para ela desde pequeno e recebe seu salário, por isso já tem carro e tudo mais. A minha sorte é que ele sempre divide algumas funções comigo e estou conseguindo juntar uma boa grana. A maioria das coisas que fazemos é descarregamento de mercadoria, colocar em estoque, fazer anúncios no site dela e ficar de olho se alguma promoção aparecer. É tranquilo e muita coisa dá para fazer de casa mesmo. A tia de Phill é bem generosa com a gente e sempre ganhamos alguma comissão quando algo que anunciamos vende. Acontece uma certa competição amigável entre nós dois para saber quem vai vender mais no fim do mês. 

- Ei Phill - peguei uma caixa nos ombros enquanto ele pegava outra - e seu bom humor de ontem mesmo voltando cedo?

Phill riu e a luz do sol iluminou seu rosto, deixando seus olhos mais azuis e ele fez aquela cara de sempre. 

- A Midori quer sair mais vezes comigo. 

Quase deixei a caixa cair no chão. Aquela informação não combinava com o Phill que eu conhecia. 

- E como isso te deixou de bom humor?

- Eu de cara quis desistir - ele respondeu - mas ela falou comigo que não quer nenhum relacionamento, só sair para curtir mesmo. 

- E você, Phill, acreditou nela?

- Não - algo não fazia sentido - mas ela já sabe que eu não quero nada sério, então de todo jeito está avisada. 

Nós continuamos a transportar as caixas para o estoque da loja da tia de Phill em silêncio, cada um digerindo a noite anterior. Phill sabia que naquele momento eu não queria conversar nada a respeito de Emma ou sobre o encontro desagradável com Rich, então ele não comentaria nada até o momento que eu resolvesse falar. O cheiro inebriante do meu shampoo nos cabelos de Emma me desnorteou na noite anterior e ainda estava marcado em minha mente e, além disso, meu corpo ansiava em tê-la mais uma noite. As memórias de Emma em meu quarto, com o moletom largo demais para seu corpo, me olhando daquele jeito sedutor, usando sua voz doce para me persuadir... E agora eu estava aqui, querendo experimentar tudo novamente. Pelo olhar do Phill, imagino que ele esteja pensando no mesmo que eu. 

Terminamos de descarregar todas as caixas depois de duas horas de trabalho. A tia de Phill nos pagou, passou as informações do que teria que ser anunciado na próxima semana e fez um lanche para nós. Phill subiu no seu carro e eu fui logo atrás. Voltamos para minha casa. 

Peguei meu video-game e instalei na TV da sala. Mamãe reclamava que o barulho atrapalhava a concentração dela na hora de montar as provas e corrigir os trabalhos, então eu só tirava do meu quarto nas férias ou, no caso, quando ela não estava. Após uma tarde inteira jogando com Phill e conversando sobre nada muito relevante, Phill soltou uma:

- Acho que a Midori era virgem e não quis falar. 

Eu morri no jogo. Porra Phill, como você fala uma coisa dessas bem no chefão?

- Como assim Phill? - perguntei enquanto reiniciava o jogo. 

- Sabe quando elas não sabem muito o que fazer? Ou quando fecham os olhos ou se cobrem quando a gente tira a roupa? Então. 

Dessa vez eu não iria morrer. Pausei o jogo, já que Phill continuou apertando o botão de atirar sem notar que seu personagem também estava fora da jogada. 

- Ela não comentou nada mesmo? Mas você não disse que ela estava com camisinha? Geralmente elas carregam quando já esperam por isso, não?

- Não, não comentou. Quando perguntei, ela desconversou - senti o incômodo dele em sua fala. Mesmo animado com a possibilidade de transar com ela de novo, Phill estava apreensivo pela possibilidade dela ter se arrependido. Às vezes isso acontecia e era uma situação chata para as garotas. 

- Ei Phill, tenta relaxar. Ela não estava animada depois e te falou que queria encontrar de novo não é? Ela deve ter curtido, independente se era a primeira vez ou não. 

- É, ela parecia bem animada quando deixei ela no dormitório. Só tem uma coisa que não entrou direito na minha cabeça: por que será que ela não quer que a gente se aproxime da Yuki?

- Sei lá, vai ver é uma amiga ciumenta. 

Phill deu de ombros e voltou a atenção ao jogo. Depois de muito tentar, conseguimos vencer o chefão. Já era muito tarde e, para variar, Phill preferiu passar a noite em minha casa. Enquanto ele foi tomar banho, fui arrumar a cama dele no quarto onde Emma passou a noite. O cheiro dela ainda estava no ar e notei que ela esqueceu a fita que estava nas mechas do seu cabelo em cima da mesa. Levei para meu quarto e guardei cuidadosamente em minha carteira, para entregá-la na segunda-feira. Curiosamente, só notei agora que meu quarto também tinha o cheiro de Emma por todo lugar, em especial meu travesseiro e minha cama. Então é assim quando a gente trás uma garota para o próprio quarto

Senti Phill me cutucando com os pés. 

- Ray? Tá sonhando de novo aí? Vai tomar banho cara. Depois você sonha com a Emma. 

Phill deveria estar muito cansado, porque quando saí do banho já dava para ouvir ele roncando no quarto. Desliguei o video-game, apaguei as luzes da casa e fui dormir, com o cheiro cítrico já fraco, me fazendo lembrar de como perdi feio o jogo para Emma na noite anterior. 

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