segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O terceiro

-Então sinta-se livre para perguntar. Prometo dizer tudo que você quiser. Tudo que sei eu vou te responder.
-Breno, você está certo disso? Você quer mesmo fazer isso? –perguntou Gabriel aflito.
Peter franze a testa. Ele sabe exatamente o que perguntar.
-Então responda. Miki Yuki existe?
-Miki Yuki é... – começa ele.
Porém, ele se curva um pouco para frente e coloca a mão no peito. Sua cara se fecha em uma careta. Ele derruba a mochila no chão, seus joelhos se curvam para frente, fazendo-o ajoelhar. Logo em seguida, ele cai de lado no chão. Ele começa a se contorcer e se encolhe todo. Gabriel solta sua mochila e ajoelha perto de Breno.
-Breno! Breno! – grita.

Peter arregala os olhos e não consegue se mover. Ele está em choque. El se recupera do choque e vai até os dois colegas. Breno está com as duas mãos no peito, segurando sua camiseta. Seus olhos estão arregalados, demonstrando dor. Sua cabeça está virada para o céu. Gabriel está ajoelhado perto de suas costas, ele segura no tronco de Breno, mas não sabe o que fazer. Ele olha chorando para Peter, que presencia a cena ainda de pé. Breno continua se contorcendo. Ele está babando e seus olhos estão se revirando. No canto dos olhos pode se ver nitidamente os vasos sanguíneos.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A verdade

Os três passam próximo ao rio da cidade. Eles estão na parte onde podem encostar na margem, pois essa parte é bem rasa. Há plantas em toda essa margem, a rua não é usada por carros, portanto ela é um pouco estreita. A ponte por onde circulam os carros e as pessoas não está longe, e a margem oposta é bem mais utilizada pelas pessoas.
-Para onde foram todos no 6º horário? – pergunta Peter.
-Fomos ao ginásio resolver alguns assuntos. Peter, desde que você chegou a essa cidade você passou por algumas experiências estranhas, não é?
Peter andava na frente. Nesse momento, ele parou e se virou para Gabriel.
-Você notou. Poderia me contar? – perguntou Peter ansioso.
Gabriel olhou para o lado do rio.
-Infelizmente não. A única coisa que posso dizer é que algo que irá acontecer nos próximos dias te deixará infeliz.
-O que você está dizendo?
-Durante a reunião no ginásio, Bruna disse que deveríamos discutir um assunto importante. Longe de você. Ela disse que coisas desagradáveis começaram a acontecer, e ela espera que possamos lidar com isso. Ela está acostumada a lidar com essas coisas. Entretanto, se odiar o que irá acontecer, eu peço que você seja forte e suporte. Lembre-se que você estará se sacrificando por todos nós.
-“Por todos nós?” – repete Peter. Ele se lembra de Bruna falando sobre algo para o bem de todos – por acaso essa é uma regra da turma?
Gabriel balança a cabeça afirmativamente.
-Eu não estou entendendo nada. – diz Peter, enquanto ele desce uma escada que leva à margem do rio. – posso pedir um favor a você?
-O que? – pergunta Gabriel.
-Eu quero uma cópia da lista de alunos da nossa turma.
-Você não recebeu uma, quando foi transferido?
Breno se aproximou de Gabriel.
-Isso não é justo com ele. Não concordo com os métodos da Bruna. Não é justo que ela decida essa solução. Peter, acredito que há muitas coisas que você não entende ou desconheça.
-Sim, exatamente.

Gabriel arregala um pouco os olhos e se aproxima de Breno.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Decisão

Peter saiu da sala e fechou a porta atrás de si. Ele volta a se lembrar dela e começa a  lacrimejar. O incontestável vazio que a morte trouxe está me matando, pensou ele. Ele anda silenciosa e pesarosamente pelo corredor, que parece mais escuro. Ele finalmente chega em sua sala e abre a porta. Porém, a sala está completamente vazia. Os alunos não estão na sala de aula, porém as mochilas e os cadernos estão nas carteiras. O nome de Bruna está escrito no quadro. Ele se lembra dela, de como sua personalidade é tão diferente da de Miki. Ela sempre está rodeada de pessoas, mas consegue assustar Peter, com seu jeito sério e quando fala de forma ameaçadora. Peter vai andando pela sala e para em frente à mesa de Miki. Ele passa os dedos pelas rachaduras e pelos traços que deixam a mesa dela ser tão velha. Por que só a mesa dela é velha? Pensa ele. Ele então desliza os dedos e sente um pouco de grafite. Ele retira a mão do lugar e vê uma escrita. “Quem será o morto?”. Ele arregala os olhos quanto às palavras que estão juntas, formando a frase.
-Peter – chama o professor, um pouco sério – os oficiais da polícia já terminaram o interrogatório?
-Sim
-Entendo. Bom, você está livre para ir para casa.
-Por favor, onde estão todos?
-A nova representante de classe foi eleita durante a chamada. Bruna foi a escolhida.
-Mas, onde estão todos?
-Eu sei que a notícia sobre a morte da irmã do João foi um choque, mas você não pode ficar deprimido. Tudo vai ficar bem – disse ele, abrindo um sorriso, um pouco forçado – se trabalharmos duro, nada será impossível. Então por favor, não se esqueça de cumprir as regras da classe.
Peter pega suas coisas no seu armário, mas espera o término das aulas para ir embora. Enquanto os alunos pegam as suas coisas na sala de aula e vão até a saída, Peter espera perto da porta, encostado em uma parede próxima aos armários. Gabriel e Breno passam conversando e Peter dá olá para eles. Eles o olham com uma expressão um pouco espantada. O silêncio passa a reinar neles, assim que Peter fala com eles.
-Vamos voltar juntos? – pergunta Peter.

Gabriel olha para baixo, um pouco triste.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Investigações

Dito isso, Bruna se virou e foi andando até o fim do corredor. Peter observa ela se afastar e em seguida vai até a sala do diretor. Lá, há dois homens vestidos de terno, com expressões sérias, porém cansativas. Um tem os cabelos cortados bem curtos e o outro tem um cabelo um pouco mais longo.
-Você é Peter, certo? – perguntou o de cabelos curtos – nós dois somos do departamento de polícia de Wetherby. Temos algumas perguntas para você. Você está ciente que Débora faleceu ontem num acidente no hospital?
-Sim – respondeu Peter, olhando para os dois – por acaso eu sou suspeito de algo?
-Não, não se preocupe. Temos absoluta certeza que foi um acidente.
-O celular dela foi encontrado nos destroços do elevador. Nós checamos e descobrimos que a ultima pessoa com quem ela conversou foi você. – disse o outro homem.
-Ah sim. Ela me ligou. No meu intervalo de almoço.
-E ela estava no telhado? – perguntou o de cabelos curtos.
-Sim, estava. É onde tem sinal melhor.
-E ela entrou no elevador?
-Sim.
-Qual foi a causa do acidente? – perguntou Peter, ansioso.
-Isso está sendo investigado. Mas temos certeza que os cabos que seguravam o elevador se soltaram. Isso ocasionou a queda do mesmo. O elevado atingiu o chão com tanta força que o teto começou a ceder. O prédio é muito antigo e passou por várias modificações ao longo do tempo.
Peter lembrou-se de quando ele e Débora almoçaram juntos e ela falou para eles tomarem cuidado, pois havia incidentes estranhos acontecendo.
-Eu tinha falado com o irmão dela logo depois do acidente. Mas...
Peter lembra-se do ocorrido e fala com eles.
Ele chega perto do irmão de Débora, perguntando como ela está.
-Do que você está falando? – pergunta ele, revoltado – como vou saber como minha irmã está?
-Mas... – começa Peter.
-Olha aqui – começa o irmão dela – não encha a cabeça de minha irmã com baboseiras.  Isso me incomoda. Ela é um pouco...
Mas ele não chegou a terminar a frase. Virou-se e foi embora.

-Bem, então isso é tudo. – disse um dos dois homens – você pode ir agora.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

1980

Aula de artes. Peter está com um lápis nas mãos, mas não consegue se concentrar em desenhar o busto que está a sua frente. Ele está encucado, porque Miki desapareceu novamente.
-Ah, por que a Júlia tirou o dia de folga? – lamenta Gabriel – ela não parecia tão bem hoje. Ei, Peter, você acha que a professora Júlia está com alguma doença muito grave?
-Não, tenho certeza que ela está bem. – responde.
-Ah, você deve estar certo.  – responde Gabriel, voltando a se concentrar em seu desenho.
-Mas por que você está tão preocupado? – pergunta Peter.
-Depois do ocorrido com a Laura, e ontem, o que aconteceu com Débora, a irmã do João, eu apenas...
Peter se aproxima de Gabriel.
-As mortes delas estão relacionadas? Supondo que se acontecesse algo com a professora Júlia, haveria algum tipo de relação?
-Er, bem, sobre isso... – começa a gaguejar Gabriel.
Peter deu um suspiro. Ele afasta seu papel em branco e se levanta. Basta. Ele está escondendo alguma coisa. Ele sai andando em direção à porta.
-Peter, onde você está indo? – pergunta Gabriel.
-Vou investigar uma coisa.
Peter vai até a biblioteca auxiliar. Ela continua com o mesmo aspecto de antes. Ela continua pouco iluminada, com as luzes apagadas. A pouca luz vem das janelas, que agora estão fechadas. Porém, a luz é suficiente para que ele consiga achar o livro que procurava e olhar o que esperava.
Ele põe o livro que contém o anuário de 1980 em cima de uma das mesas da pequena biblioteca. Ele senta na cadeira e abre o livro. A primeira foto é uma foto da escola. A segunda página tem várias fotos das aulas de educação física, e outras fotos do ano. Do lado, na 3ª página, tem uma foto da equipe de professores. Na próxima página, há uma foto da turma A. Ele observa um pouco.
-É mesmo. Eu não vou encontrar o nome de Yuki no livro. Antes de ele ser terminado, ela morreu.
Ele passa a página e olha as fotos da turma B. Ele encontra sua mãe. Ela era muito mais nova, é lógico, mas dava para reconhecê-la.
-Mãe... – ele acaba falando um pouco alto.
-Está vendo sua mãe? – perguntou uma voz. Era Luis – eu já o vi aqui antes. Quer dizer que o estudante transferido está matando aula na minha biblioteca? – perguntou ele, abrindo um sorriso amigável.
-Agora estou tendo uma aula que já tinha feito no meu antigo colégio. Então vim investigar algo. Minha mãe se graduou aqui em 1980. – disse Peter.
-Em qual turma sua mãe estudou?
-Minha mãe estudou na turma B.
Luis se aproximou do livro.
-Qual das alunas é sua mãe?
Peter aponta para uma garota com uma franja longa repartida ao meio.
-Sua mãe é Bárbara? – perguntou Luis.
-Conheceu minha mãe? – perguntou Peter sobressaltado com as palavras de Luis.
-Ah, sim. Mas diga-me. Fiquei sabendo que ela morreu. Quando exatamente ela morreu? – perguntou ele, virando-se para a janela e olhando para o lado de fora.
-Ah 15 anos atrás, pouco depois de eu nascer.
-Ah, entendo. Então foi assim...
A porta da biblioteca se abriu. Bruna estava parada na porta, com uma expressão bem séria. Peter estava com a cabeça baixa e não notou.
-Peter – chamou bruna.
Ele levantou a cabeça e avistou-a. Ele saiu de seu lugar e foi até Bruna.
-O professor pediu para você se dirigir à sala do diretor.
-Muito obrigado.
Ela se vira para ir embora, mas volta a olhar para ele.

-Permita-me pedir desculpas a você com antecedência. Perdoe todos nós. É pelo nosso bem. Peço que nos perdoe.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Improvável

Ao fundo da sala, Bruna, Miguel, e outros alunos estão conversando. Bruna olha com uma cara de desprezo para a direção onde Peter e Miki estão, e Miguel está com um sorriso sem graça no rosto.

Não pode ser, pensa Peter. Eles estão olhando para cá enquanto conversam. Será que aos olhos deles, eu estou falando sozinho, sem ninguém ao meu lado? Pensa, olhando para os colegas e pensando em Miki.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O dia seguinte

Peter tenta dormir, mas tudo que ele consegue e rolar na cama por um longo tempo. Quando ele consegue tirar um cochilo, várias imagens e palavras vêm a sua cabeça. As palavras de Débora ao telefone, uma senhora segurando um quadro de uma pessoa que ele não consegue reconhecer, as palavras “funeral”, “morte”, “maldição”, Laura olhando assustada para ele e Miki, e depois morta em cima de sua sombrinha...
Ele finalmente acorda, sem ter descansado um pouco e sem tirar de sua mente a morte de Débora.
No dia 4 de junho, a morte da irmã de João, Débora, causa um choque a todos. O silêncio engloba toda a turma, e a respiração de todos param no mesmo instante.
-Se trabalharmos todos juntos, conseguiremos superar essa tragédia – diz o professor Tetsuo.
Miki abre a porta da sala e entra. Ela fecha a porta. Ninguém sequer vira o rosto para saber quem chegou, nem olham para ela. Ela caminha até sua velha carteira, se senta. Peter acompanha cada movimento dela. Enquanto isso observa a falta de reação de seus colegas quanto à chegada de Miki. Ninguém vira o rosto para ela, pensa ele, como se Miki Yuki não estivesse nessa turma. Em outras palavras, ela não existe. Miki encosta a cabeça em suas mãos e olha para fora da sala.
No intervalo, Peter vai falar com ela.
-Você soube sobre o que aconteceu com a irmã de João?
Miki olhou para ele com uma expressão interrogativa no rosto.
-Ela morreu ontem.
Miki se espantou com a notícia. Ela virou o rosto novamente para fora da sala.
-Entendo. Foi doença?
-Não, foi um acidente.

-Compreendo – diz ela, abaixando a cabeça.