sábado, 9 de agosto de 2014

Amor verdadeiro

Eu tinha 15 anos quando descobri o significado do verdadeiro amor.
O ano anterior tinha sido um pesadelo na vida da minha mãe e minha. Desde os meus 7 anos vivíamos sozinhas. Meu pai? Uma vez eu acordei de madrugada e voltando do banheiro, vi meu pai saindo com uma mala. Tinha ido visitar uma amiga, foi o que me disseram. Aquele foi um ano difícil. 7 anos depois, eu e minha mãe vivemos um pesadelo maior. Depois de várias internações, os médicos finalmente me contaram que minha mãe tinha um tumor.
Minha mãe e eu sempre fomos muito amigas. Eu reclamei com os médicos que tentaram me esconder a verdade por tanto tempo.
Quando finalmente passou-se um ano depois do inicio do nosso pesadelo, ela começou as sessões de quimioterapia, e eu a acompanhava em todas as sessões. Um dia, quando minha mãe cochilava, fui pegar um leite quente na lanchonete e um senhor me cumprimentou. Eu o conhecia de vista, ele sempre acompanhava a esposa no tratamento.
- Sua mãe está melhorando?
- Aos poucos sim. E sua esposa?
- Ela está estável. Você sempre vem, seu pai trabalha nesse horário?
- Meu pai não mora conosco.
-Desculpe-me, não pretendia... – ele ficou sem graça.
- Não tem problema – respondi sorrindo.
- Você não parece fazer muita coisa fora daqui. Você não sai às vezes? Nunca a vejo conversando com sua mãe sobre outras coisa a não ser escola e os livros que você lê.
-Minha mãe precisa de mim – eu respondi.
Uma lágrima formou no canto dos olhos do senhor. Ela escorreu silenciosa pelo rosto dele e foi parar no queixo.
-Gostaria que meus filhos amassem minha esposa como você ama sua mãe.
-Eles não visitam vocês?
-Ah, não. Ela passou por uma série de cirurgias, e nós fomos avisados do que poderia acontecer. Eles não aguentaram por tanto tempo.
-O que aconteceu?
-Ela perdeu parte da memória. Ela passa a maior parte do tempo não reconhecendo as pessoas ao redor. As vezes ela se lembra de algo, mas não por muito tempo.
Eu encarei meu copo de leite pela metade e fiquei pensando na tristeza daquele senhor. Imagina ter filhos, mas eles não visitam pois a mãe está doente...
-Que... Que tristeza...
-Vale a pena vir aqui. Ela se lembra mais de mim. Isso me trás felicidade.
Ele sorriu, pagou o café e meu leite, eu o agradeci e voltamos para a sala de aplicação.
Minha mãe estava acordada, e eu corri em sua direção. Observei em silencio o senhor encontrando com a esposa.
-Querido? Eu... eu lembro de voce! Você cuida de mim todos os dias...
-Oi minha deusa. Está lembrando de algo?
-Estou... – lágrimas começaram a sair dos olhos dela – tenho te feito sofrer...
-Eu não estou sofrendo, amor.
-Eu... eu amo você.
Ela fechou os olhos e o abraçou. Ele virou o rosto na minha direção, fechou os olhos e sorriu.
-O que você está olhando, minha filha?
-O amor, mamãe.

Eu a abracei com força.

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