A noite estava escura e a pequena garota andava sozinha
pelas calçadas. A lua cheia estava encoberta parcialmente pelas nuvens triste e
cinzentas que se arrastavam pelo céu. Poucas estrelas iluminavam-no, parecendo
pequenos pontinhos brilhantes presos a um pano escuro.
A cidade não estava deserta. Não para aquela garota. Mas não
havia pessoas andando ali. Eram gente. Mas não gente comum. Pessoas ligadas à
morte vagavam naquele dia pelas ruas e calçadas. Alguns levantaram da terra,
outros de suas camas. A menina vagueia sem se assustar com os que passam perto
dela. Ela não grita e eles não olham para ela.
Os que levantaram da terra estão em diferentes estados. Alguns
se arrastam, outros andam normalmente. A maioria, no entanto, é formada somente
por ossos. Os homens estão todos de terno e gravata.
Um em especial, usava gravata arqueada, era só o esqueleto,
terno risca de giz e era extremamente alto. Ele segurava uma abóbora. A abóbora
brilhava de um jeito misterioso. Um cachorro que parecia se feito de lençol o
segue.
Outro era branco e usava uma roupa vermelha. Calça preta,
blusa branca e um sobretudo vermelho longo. Seus cabelos eram negros como
petróleo. Ele usava luvas pretas cobrindo suas mãos e um chapéu vermelho. Ele tinha uma cruz pendurada na arma que ele
carregava.
A menina passeia calmamente por todos eles. Ela tem a pele
bem clara, cabelos castanhos e cacheados e cheira a chocolate. Ela está usando
um vestido branco e leve. O vento bate e o vestido se levanta um pouco, os
cabelos dela voam para trás.
Um ser totalmente translúcido passa por ela. ela o olha como
se o conhecesse a muitas eras. Ela continua andando por entre as ruas lotadas
com esses seres. A lua começa a aparecer, bem no topo do céu. Ouve-se um uivo
ao longe. O uivo prolonga-se mais e mais.
É tão bom esse dia. Pensa
ela. Eu e meus amigos podemos andar pelas
ruas sem problemas.