Nunca gostei de despedidas. Especialmente aquelas que você sabe que serão permanentes, pois é uma despedida de alguém que morreu. Por isso detesto velórios. Quando pequena era tão mais doloroso enterrar meus animais mortos. Agora, dependendo meu animal, já nem sinto mais a dor.
Hoje estou na frente de um túmulo. Seu atestado de óbito está em minhas mãos. O epitáfio é curto e objetivo. Estou só no campo verde e há flores em outros túmulos. Vim sozinha. Não há um ombro amigo em que posso me consolar.
Pessoas com quem me importo e que se importam comigo queriam ter vindo. Sou cabeça-dura e egoísta. Não falei a ninguém o local e a hora do enterro. Preferia ter vindo sozinha do que ouvir um bando de conselhos de pessoas que não estão sofrendo como eu.
Há um ano, esse que morreu já vinha se afastando de mim. Quando pedia para vir me visitar, adiava, sempre tinha outro compromisso. Foi se afastando mais e mais.
Sua última visita veio como uma fagulha de esperança que me esquentou como um beijo. Mal sabia eu que aquela esperança morreria junto com ele. Minha esperança agora está gélida como seu cadáver. Conversávamos quando de repente ele morreu em meus braços.
Como foi agonizante sentir seu último suspiro e o fechar de olhos em meu colo, e eu inerte, sem nada poder fazer. Tentei reanimá-lo de todas as formas, mas ele tornou-se frio.
Ao anunciar sua prematura morte, todos ficaram estarrecidos, pois era algo que ninguém esperava. Todos me consolaram, em vão. Carreguei seu corpo e cavei sua cova. Espero que descanse em paz. Talvez eles nunca me perdoarão por ter feito isso. Não me arrependo.
Você era muito mais querido para mim do que para eles.
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