Peter e Miki passaram a não frequentar todas as aulas. Eles
não iriam receber faltas. Eles iam para o rio e ficavam olhando a água, Miki
jogando água para frente. Na aula de educação física, os dois ficavam no
telhado, conversando. Eles iam ao parquinho depois da aula, conversavam no
pátio e ninguém os incomodava.
Peter e Miki foram até o clube de artes. Todos ficaram
felizes com o aparecimento dela, pois estavam com saudades. Porém, Gabriel
apareceu, ficou atordoado e conseguiu fazer com que todos saíssem, dizendo que
havia uma emergência. Miki encontrou sua tela, coberta por um pano. Porém, a
tela estava rasgada. Peter notou que a imagem da tela era muito parecida com a
mãe de Miki, mas ainda assim era diferente.
Eles saíram da sala e foram andando pelo corredor. Eles
cruzaram com a professora Júlia, mas ela passou reto sem olhar para os dois.
-Talvez causemos menos tensão na turma se não comparecermos
na próxima aula de artes. – disse Peter, melancólico.
Depois, eles foram até a biblioteca e ficaram olhando alguns
livros. Peter pegou o livro de registro de 1980 e ficou olhando a foto da turma
B. Ele quase não tirava os olhos de sua mãe. Miki foi ao seu lado e perguntou
que era sua mãe. Ele apontou.
-O professor responsável nesse ano era...
-A aparência dele está muito diferente – disse Miki.
-Você está se referindo ao...
-Sim, Luis. – disse ela, e depois olhou para Luis, que vinha
na direção deles.
-O que vocês fazem aqui?
-Agora somos duas pessoas que não existem – respondeu Miki,
levantando-se e indo na direção dele.
-Entendo. Peter, agora você compreende a gravidade da
situação?
-Sim. Apesar de ser algo difícil de acreditar.
-Sua reação é compreensível. É algo estranho, mas esse
fenômeno realmente existe nessa escola.
-Luis, você foi o professor responsável pela turma B no ano
de 1980, certo? – perguntou Peter – foi assim que você conheceu minha mãe.
-Sim, foi.
-Não é perigoso para você não ignorar a nossa existência?
-Não possuo mais conexões com aquela classe. Pode se dizer
que minha vida não está mais em risco.
-Então qual são as pessoas que tem a vida em risco? –
perguntou Peter.
-Alunos da turma B, e seus parentes até o segundo grau. Além
disso, eles devem estar na cidade.
-Segundo grau. Você quer dizer irmãos, pais. Se eles
precisam estar na cidade, bastam que saiam daqui para que suas vidas não corram
mais riscos?
-Sim, pense neles como um celular que está fora de área.
Você não consegue se comunicar com a pessoa.
-Então por que você ainda está aqui?
-Nunca quis que ninguém se machucasse. Porém, eu permiti que
a morte se aproximasse dessa escola. Metade de mim tinha culpa e a outra metade
tinha medo. Tive medo de fugir, por isso fiquei. Se fugisse, poderia ter
morrido.
-Professores também morreram?
-Somente alguns professores responsáveis e professores
assistentes.
-Yuki de 25 anos atrás era menino ou menina?
-Era um menino. Ele possuía o mesmo sobrenome da cidade,
“Wetherby”. O nome dele era Yuki Wetherby. Uma noite de maio, houve um incêndio
na casa dele. Todos na casa morreram, seus pais e seus irmãos. Ele não deveria
existir, porém foi criado pelos alunos de 25 anos atrás. É lógico, eles não
quiseram fazer mal nenhum. Eu era jovem e imaturo, por isso não via mal no que
foi decidido na época. Porém, o resultado foi que essa turma abriu as portas da
morte.
-Você chegou a ver a foto em que Yuki aparece?
-Sim.
-Você possui a foto?
-Não. Sinceramente, aquela foto me deixou aterrorizado.
-Quando dizem que os registros da escola são alterados, o
que querem dizer?
-Isso é algo estranho, mas acontece.