Os dois andam em silêncio por algumas ruas. Miki anda na
frente. Eles passam ao lado de um parque de crianças. Miki entra no parque e
segura em uma barra da altura do seu peito. Ela segura firme, empurra o corpo
para cima e dá uma volta na barra com o corpo. Depois, ela faz força novamente
e senta-se na barra. Uma luz estava
envolta de um monte de mosquitos.
-Por que eles decidiram ignorar a existência de duas
pessoas?
-A morte de Débora e de Breno só trouxe a prova que restava
para eles. “O ano que algo acontece”, sem dúvidas. Eles provavelmente pensaram
que o “amuleto” não seria mais útil se você começasse a me ignorar a partir de
agora. Eles deviam ter dois planos. O primeiro era voltarem a conversar com
você e continuarem a me ignorar. Mas acredito que eles optaram por te tratar
como inexistente. Isso também evitou que eles precisassem explicar a situação
para você. De fato, tomaram uma decisão bem racional.
Peter tenta fazer o mesmo que Miki, numa barra um pouco
maior. Mas ele não faz questão de prosseguir com a tentativa. Ele apenas
sustenta o corpo com seus braços e volta ao chão.
-Você acha que essa solução é definitiva?
-Eles estão desesperados. Quando se está com a vida em
risco, as pessoas podem tomar decisões desesperadas. E se isso puder ajudar a
parar o desastre, não há motivo para eles não tentarem. Se houvesse um meio de
interromper o ciclo de mortes, você não tentaria?
Peter ficou em silencio. Um vento começou a soprar.
-A morte é uma situação muito triste – disse ela.
Peter olhou para o rosto de Miki. Ele só pode ver a parte
que tinha o tapa olho. O vento soprou um pouco mais forte, balançando os
cabelos. A franja dela voo um pouco, mostrando o elástico que prendia o tapa
olho na orelha. Sua expressão estava muito triste.
Eles saíram do parque e caminharam perto do rio da cidade
por um tempo.
-obrigado – agradeceu Peter – tome cuidado no caminho de
volta para casa. Afinal, nossas vidas estão em risco.
-Eu ficarei bem – disse Miki, retirando seu tapa olho – até
onde eu sei, você acabou de conversar com uma pessoa inexistente.
Ela se virou para ele.
-Eu já o mostrei a você, não é?
Ele afirma com a cabeça. Olha diretamente para os olhos de
Miki.
-Perdi meu olho direito aos 4 anos. Ele desenvolveu um
câncer muito agressivo. Quando acordei da cirurgia, meu olho havia sido
retirado. Então, como minha mãe achava que os olhos artificiais não eram
bonitos, ela fez um especialmente para mim.
-Você não precisa esconder seu olho direito, Miki. Eu acho
que ele tem um cor muito bonita.
Ela se virou para o rio e desceu as escadas.
-Dizem que eu quase morri durante a cirurgia. Eu não me
lembro de quase nada.
-Você quer dizer de experiência quase-morte?
-A morte não é nada gentil, Peter. ela é obscura, sombria
até onde a vista alcança e você se sente completamente só.
-Completamente só – repetiu Peter.
-Mas não é tão diferente assim da vida, não é? Não importa
quantas pessoas conhecemos, a vida é uma experiência solitária. Eu estou só, minha
mãe, Peter, Yuki... A partir de amanhã, estaremos na mesma condição. Por isso, conte comigo, Peter.
Disse ela, estendendo a mão. Ele apertou a mão de Miki e ela
saiu saltitando, subindo a escada.
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