segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A morte

Os dois andam em silêncio por algumas ruas. Miki anda na frente. Eles passam ao lado de um parque de crianças. Miki entra no parque e segura em uma barra da altura do seu peito. Ela segura firme, empurra o corpo para cima e dá uma volta na barra com o corpo. Depois, ela faz força novamente e senta-se na barra.  Uma luz estava envolta de um monte de mosquitos.
-Por que eles decidiram ignorar a existência de duas pessoas?
-A morte de Débora e de Breno só trouxe a prova que restava para eles. “O ano que algo acontece”, sem dúvidas. Eles provavelmente pensaram que o “amuleto” não seria mais útil se você começasse a me ignorar a partir de agora. Eles deviam ter dois planos. O primeiro era voltarem a conversar com você e continuarem a me ignorar. Mas acredito que eles optaram por te tratar como inexistente. Isso também evitou que eles precisassem explicar a situação para você. De fato, tomaram uma decisão bem racional.
Peter tenta fazer o mesmo que Miki, numa barra um pouco maior. Mas ele não faz questão de prosseguir com a tentativa. Ele apenas sustenta o corpo com seus braços e volta ao chão.
-Você acha que essa solução é definitiva?
-Eles estão desesperados. Quando se está com a vida em risco, as pessoas podem tomar decisões desesperadas. E se isso puder ajudar a parar o desastre, não há motivo para eles não tentarem. Se houvesse um meio de interromper o ciclo de mortes, você não tentaria?
Peter ficou em silencio. Um vento começou a soprar.
-A morte é uma situação muito triste – disse ela.
Peter olhou para o rosto de Miki. Ele só pode ver a parte que tinha o tapa olho. O vento soprou um pouco mais forte, balançando os cabelos. A franja dela voo um pouco, mostrando o elástico que prendia o tapa olho na orelha. Sua expressão estava muito triste.
Eles saíram do parque e caminharam perto do rio da cidade por um tempo.
-obrigado – agradeceu Peter – tome cuidado no caminho de volta para casa. Afinal, nossas vidas estão em risco.
-Eu ficarei bem – disse Miki, retirando seu tapa olho – até onde eu sei, você acabou de conversar com uma pessoa inexistente.
Ela se virou para ele.
-Eu já o mostrei a você, não é?
Ele afirma com a cabeça. Olha diretamente para os olhos de Miki.
-Perdi meu olho direito aos 4 anos. Ele desenvolveu um câncer muito agressivo. Quando acordei da cirurgia, meu olho havia sido retirado. Então, como minha mãe achava que os olhos artificiais não eram bonitos, ela fez um especialmente para mim.
-Você não precisa esconder seu olho direito, Miki. Eu acho que ele tem um cor muito bonita.
Ela se virou para o rio e desceu as escadas.
-Dizem que eu quase morri durante a cirurgia. Eu não me lembro de quase nada.
-Você quer dizer de experiência quase-morte?
-A morte não é nada gentil, Peter. ela é obscura, sombria até onde a vista alcança e você se sente completamente só.
-Completamente só – repetiu Peter.
-Mas não é tão diferente assim da vida, não é? Não importa quantas pessoas conhecemos, a vida é uma experiência solitária. Eu estou só, minha mãe, Peter, Yuki... A partir de amanhã, estaremos na mesma condição.  Por isso, conte comigo, Peter.

Disse ela, estendendo a mão. Ele apertou a mão de Miki e ela saiu saltitando, subindo a escada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário