Bruna estava andando na larga avenida e já estava escuro.
Sua mochila estava muito pesada e ela voltava da aula de inglês. Seu dia tinha
sido muito cheio, como de costume. Acordara cedo, teve aula, almoçou correndo
para pegar um ônibus que a levaria até o outro lado da cidade trabalhar, para
voltar mais tarde à sua faculdade para ter aula de inglês. Definitivamente, um dia cansativo.
Finalmente ela estava a caminho de casa. Já mentalizava tudo
que faria ao chegar em casa. Tomar banho, jantar e estudar bioquímica até de
madrugada. Bioquímica era sua matéria favorita no semestre e ela se dedicava
muito. Ela resolveu prestar atenção no caminho e um rapazinho de boné abordou-a
com um estilete.
-Passa tudo que tem moça. Sem gritar.
Ela o olhou e o analisou. Era um rapazinho de boné de aba
reta, magrelo e mais baixo do que ela.
-Garoto – começou ela com calma – tudo que eu tenho nessa
mochila vale menos do que seu boné.
O menino hesitou, afroxou o estilete na mão, mas falou
novamente:
-Sem lorota moça. Pelo peso disso aí, deve de ter muita
coisa.
Bruna olhou para cima pensando “ó Deus, por que?”. Ela tirou
a mochila das costas e disse:
-Garoto, se você me roubar, vai ter que aguentar o peso da
mochila.
Ela entregou a mochila para o garoto, mas assim que ele a
pegou, a mochila desabou no chão.
-Abre a mochila moça, vou pegar tudo então de valor – disse
ele, apontando o estilete para a barriga de Bruna.
Ela se abaixou, abriu a mochila e começou a tirar as coisas
de dentro. Carteira, cartão de ônibus, sombrinha, e tirou 4 livros enormes de
dentro da mochila.
O garoto olhou tudo aquilo e mandou ela entregar o dinheiro.
-Não levo dinheiro para a faculdade. Tenho assistência e
como de graça.
-Então me passa o cartão do ônibus, a carteira e o celular.
Ela abriu a carteira e disse:
-Não tem nada moço, só carteira de identidade e de
biblioteca – entregou o cartão a ele – o cartão tem só 1,60.
Ele jogou o cartão de ônibus no chão e tomou o celular dela.
Era um Nokia 2000, desse modelo bem antigo que só tem lanterna e jogo da
cobrinha.
-Não tem nada não moça? – perguntou o rapaz olhando
fixamente para os livros grossos na mão dela.
-Garoto, a não ser que você queira estudar zoologia e
bioquímica comigo, me deixa ir. Eu tenho que ler esse livro ainda hoje – ela
mostrou o de bioquímica para ele – como eu disse, tudo que eu tenho na mochila
vale menos do que seu boné.
Ele guardou o estilete no bolso, tirou o boné e entregou a
ela.
-Toma moça.
Ela começou a rir
-Pode ficar com seu boné, garoto.
Ele então foi embora de cabeça baixa, ainda olhando o boné.
Bruna foi para casa sorrindo por dentro. “Foi uma boa ideia ter guardado o
dinheiro do banco dentro dos livros” pensou ela enquanto entrava na rua da sua
casa.
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