terça-feira, 20 de novembro de 2012

Lágrimas


Eu prometi naquele dia que não choraria mais. Não, eu não vou mais chorar. Além de não chorar, prometi a mim mesma naquele dia que jamais deixaria de buscar aquilo que me é tão precioso. Ninguém ira me atrapalhar agora.
Alguns meses atrás.
-E agora? Estou sozinha? É, parece que sim.
As lágrimas começaram a se formar em seus olhos, olhos castanhos, grandes e sempre brilhantes. Porém, naquele dia, como todos os outros, era exatamente esse brilho que chamava a atenção.  Ela observou com amargura ele se afastando em direção ao sol que se punha no horizonte. As palavras ditas naquela tarde ainda martelavam na cabeça dela. Uma lágrima escapou de seus olhos e desceu até o nariz.
O sol se pôs e ela continuou ali, parada, olhando para aquele relógio prata que ela tinha. Ele marcava as horas com extrema exatidão e ela o guardava com a própria vida. Ela ficou olhando para o sol que acabava de esconder seus últimos raios, e o relógio esfriou em sua mão. Era um relógio bonito, antigo, desses que as pessoas antigamente tinham presos aos casacos. A história daquele relógio ela desconhecia, mas o amava. Ela olhou as horas e tornou a olhar para o sol. Ele já tinha desaparecido. O céu ficou cinzento rapidamente, nuvens pesadas se formavam acima de sua cabeça. Ela apertou aquele relógio contra o peito e as lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto. Suas bochechas ficaram um pouco rosadas e a boca experimentou o gosto salgado que ela conhecia bem.
Os ventos começaram a soprar. Seus cabelos voaram para todos os lados. Ela alisou os cabelos com os dedos enquanto derramava mais lágrimas e soluçava. Começou a  chover. A chuva fria veio devagar e foi aumentando aos poucos. Quem sabe a chuva não lava minha alma? Perguntou ela em voz alta. Ela passou as mãos no rosto, abriu o relógio e olhou novamente as horas.  Uma gota pingou nele, aumentando o número 7. Ela o limpou, fechou-o e guardou-o no bolso. Ficou parada por mais um tempo indefinido e resolveu andar.
Foi caminhando lentamente, pensando em tudo que poderia lhe trazer felicidade, porém não conseguia. Ela então desistiu de pensar. Pôs as mãos no bolso da calça e foi andando para longe. Os cabelos já estavam todos molhados, colados ao pescoço. A blusa estava se encharcando e tornando-se transparente, revelando aos poucos, uma cor forte. A calça mexia com o vento e molhou-se toda, tornando mais escura. Ela segurava com força o relógio dentro do bolso.
As luzes da cidade começaram a iluminar a rua. O asfalto já estava escurecido pelas gotas de chuva, e os sapatos dela não deixavam nada mais como marca. Ela viu uma porta aberta, entrou e sentou num banco perto a uma bancada.
-Gostaria de algo, senhorita? – perguntou o homem detrás da bancada.
-me dê uma dose de uísque, por favor.
Ele encheu um copo e o entregou a ela. Ela sorveu a bebida aos poucos, sentindo prazer em cada gole. A bebida descia queimando-lhe a garganta. Ela pôs o dinheiro encharcado em cima da bancada e voltou à rua. A chuva já diminuíra e não ventava tanto quanto antes. Ela voltou andando para casa, relembrando de tudo que já lhe tinha acontecido. Chegou em casa, abraçou com força seu gato, que miava reclamando da água em seus pelos. Ela o soltou, secou-lhe com uma toalha e foi tomar banho. Tomou um banho gelado, para clarear as ideias. Chorou durante todo o banho, as lágrimas salgadas misturando-se a espuma do sabão escorriam por todo o seu corpo. Nunca mais disse ela nunca mais irei chorar prometeu ela a si mesma. Aquilo depende somente de mim, não vou entregar nas mãos de outra pessoa, terminou ela, solenemente.
Saiu do banho, sentindo-se muito mais leve. Não sorria, olhava com frieza ao redor. Pôs as roupas para secar, o relógio ao lado da cama. Abriu a tampa e olhou as horas. Olhou no calendário e marcou a data na tampa. Jamais vou me esquecer de minha promessa. Ela deitou a cabeça em seu travesseiro, seu gato aninhou-se em sua barriga e ronronou. Ela pôs a mão em cima da cabeça dele e começou a dormir.
Poucos meses depois
Por quê? Perguntou ela, sem obter repostas.  Por quê?  O corpo inerte lhe fez derramar lágrimas e ela se sentiu uma garota sem poder nenhum. Isso é uma causa nobre. As lágrimas rolaram fartas e ela experimentou o gosto salgado que já havia quase esquecido.
Alguns meses depois.
Eu prometi naquele dia que não choraria mais. Não, eu não vou mais chorar. Além de não chorar, prometi a mim mesma naquele dia que jamais deixaria de buscar aquilo que me é tão precioso. Ninguém ira me atrapalhar agora. Ela olhou para frente e procurou o relógio em seu bolso. Ele não estava ali. Ela olhou para sua cama e o viu com a tampa aberta. Ela foi até a cama, olhou as horas, olha para a tampa e a fechou com cuidado. Tornou a olhar para o mesmo ponto de antes, mas agora ela só sentia raiva. Isso não ficará assim. Pensou ela. Não me tornei mais fechada. Só não farei isso novamente. Não na frente, não vou passar pela mesma situação novamente. Eu não vou me esquecer disso.

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