Eu prometi naquele dia que não choraria mais. Não, eu não
vou mais chorar. Além de não chorar, prometi a mim mesma naquele dia que jamais
deixaria de buscar aquilo que me é tão precioso. Ninguém ira me atrapalhar
agora.
Alguns meses atrás.
-E agora? Estou sozinha? É, parece que sim.
-E agora? Estou sozinha? É, parece que sim.
As lágrimas começaram a se formar em seus olhos, olhos
castanhos, grandes e sempre brilhantes. Porém, naquele dia, como todos os
outros, era exatamente esse brilho que chamava a atenção. Ela observou com amargura ele se afastando em
direção ao sol que se punha no horizonte. As palavras ditas naquela tarde ainda
martelavam na cabeça dela. Uma lágrima escapou de seus olhos e desceu até o
nariz.
O sol se pôs e ela continuou ali, parada, olhando para
aquele relógio prata que ela tinha. Ele marcava as horas com extrema exatidão e
ela o guardava com a própria vida. Ela ficou olhando para o sol que acabava de
esconder seus últimos raios, e o relógio esfriou em sua mão. Era um relógio
bonito, antigo, desses que as pessoas antigamente tinham presos aos casacos. A história
daquele relógio ela desconhecia, mas o amava. Ela olhou as horas e tornou a
olhar para o sol. Ele já tinha desaparecido. O céu ficou cinzento rapidamente,
nuvens pesadas se formavam acima de sua cabeça. Ela apertou aquele relógio
contra o peito e as lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto. Suas bochechas
ficaram um pouco rosadas e a boca experimentou o gosto salgado que ela conhecia
bem.
Os ventos começaram a soprar. Seus cabelos voaram para todos
os lados. Ela alisou os cabelos com os dedos enquanto derramava mais lágrimas e
soluçava. Começou a chover. A chuva fria
veio devagar e foi aumentando aos poucos. Quem
sabe a chuva não lava minha alma? Perguntou ela em voz alta. Ela passou as
mãos no rosto, abriu o relógio e olhou novamente as horas. Uma gota pingou nele, aumentando o número 7. Ela
o limpou, fechou-o e guardou-o no bolso. Ficou parada por mais um tempo
indefinido e resolveu andar.
Foi caminhando lentamente, pensando em tudo que poderia lhe
trazer felicidade, porém não conseguia. Ela então desistiu de pensar. Pôs as
mãos no bolso da calça e foi andando para longe. Os cabelos já estavam todos
molhados, colados ao pescoço. A blusa estava se encharcando e tornando-se
transparente, revelando aos poucos, uma cor forte. A calça mexia com o vento e
molhou-se toda, tornando mais escura. Ela segurava com força o relógio dentro
do bolso.
As luzes da cidade começaram a iluminar a rua. O asfalto já
estava escurecido pelas gotas de chuva, e os sapatos dela não deixavam nada
mais como marca. Ela viu uma porta aberta, entrou e sentou num banco perto a
uma bancada.
-Gostaria de algo, senhorita? – perguntou o homem detrás da
bancada.
-me dê uma dose de uísque, por favor.
Ele encheu um copo e o entregou a ela. Ela sorveu a bebida
aos poucos, sentindo prazer em cada gole. A bebida descia queimando-lhe a
garganta. Ela pôs o dinheiro encharcado em cima da bancada e voltou à rua. A chuva
já diminuíra e não ventava tanto quanto antes. Ela voltou andando para casa,
relembrando de tudo que já lhe tinha acontecido. Chegou em casa, abraçou com
força seu gato, que miava reclamando da água em seus pelos. Ela o soltou,
secou-lhe com uma toalha e foi tomar banho. Tomou um banho gelado, para clarear
as ideias. Chorou durante todo o banho, as lágrimas salgadas misturando-se a
espuma do sabão escorriam por todo o seu corpo. Nunca mais disse ela nunca
mais irei chorar prometeu ela a si mesma. Aquilo depende somente de mim, não vou entregar nas mãos de outra
pessoa, terminou ela, solenemente.
Saiu do banho, sentindo-se muito mais leve. Não sorria,
olhava com frieza ao redor. Pôs as roupas para secar, o relógio ao lado da
cama. Abriu a tampa e olhou as horas. Olhou no calendário e marcou a data na
tampa. Jamais vou me esquecer de minha
promessa. Ela deitou a cabeça em seu travesseiro, seu gato aninhou-se em
sua barriga e ronronou. Ela pôs a mão em cima da cabeça dele e começou a
dormir.
Poucos meses depois
Por quê? Perguntou
ela, sem obter repostas. Por quê? O corpo inerte lhe fez derramar lágrimas e ela
se sentiu uma garota sem poder nenhum. Isso
é uma causa nobre. As lágrimas rolaram fartas e ela experimentou o gosto
salgado que já havia quase esquecido.
Alguns meses depois.
Eu prometi naquele dia que não choraria mais. Não, eu não
vou mais chorar. Além de não chorar, prometi a mim mesma naquele dia que jamais
deixaria de buscar aquilo que me é tão precioso. Ninguém ira me atrapalhar
agora. Ela olhou para frente e procurou o relógio em seu bolso. Ele não estava
ali. Ela olhou para sua cama e o viu com a tampa aberta. Ela foi até a cama,
olhou as horas, olha para a tampa e a fechou com cuidado. Tornou a olhar para o
mesmo ponto de antes, mas agora ela só sentia raiva. Isso não ficará assim. Pensou ela. Não me tornei mais fechada. Só não
farei isso novamente. Não na frente, não vou passar pela mesma situação novamente.
Eu não vou me esquecer disso.
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