sábado, 31 de julho de 2021

Yuki - Semana

A vida nova fora do colégio de freiras era completamente diferente do que eu conseguia imaginar. Mesmo não precisando acordar muito cedo como no antigo dormitório e nem tinham as regras de limpeza e horários, ficar sozinha no quarto nem sempre era tão divertido como pareceu a princípio. Andar pelo campus foi ficando mais fácil com o passar da semana, mesmo e tendo perdido o mapa que a Irmã Irene me deu e logo eu não ficava (tão) perdida pelos corredores dos prédios. Também aprendi a reconhecer aos poucos nossos colegas de sala então era só segui-los que na maioria das vezes a gente acabava na sala certa. Muitas vezes a gente acabava em algum corredor errado. Alguns poucos colegas sempre iam para uma sala onde muita gente ficava matando aula, então aprendi a não seguir esses. 

Mesmo com Midori por perto, nem sempre a gente se encontrava e logo eu comecei a sentir falta de sua presença nas aulas, horário de almoço e dormitório. Como meus horários eram de manhã e os dela eram à tarde, conseguíamos almoçar juntas poucos dias na semana e nos encontrar mais para o fim do dia. Tanto eu quanto ela já estávamos esgotadas, mas sua animação por conta da festa no fim da semana crescia. 

Midori me ajudou no dia seguinte a arrumar o guarda-roupa. Ela separou as roupas que eu usaria na faculdade e guardou as mais bonitas e melhores para os passeios. No geral as roupas do dia-a-dia eram confortáveis e totalmente diferentes do que eu sempre usei. Nenhuma das roupas pinicava. Nenhuma roupa sumia "misteriosamente" do meu armário. Nenhum sapato era trocado "misteriosamente". 

Conforme nós tínhamos nossas aulas, aprendi a chegar na biblioteca e encontrar os livros que os professores indicavam. Eu podia estudar na biblioteca ou no quarto. Comecei a frequentar mais a biblioteca principalmente porque Emma, a garota ruiva de olhos verdes brilhantes também ia com frequência lá. Ela gostava de manter a conversa comigo e isso foi aos poucos me deixando confortável. Era bom ter um rosto conhecido na sala ou nos estudos que não quisesse me passar a perna. Midori conheceu ela de longe e disse que ela parecia legal e confiável, então eu acredito no seu julgamento. 

Eu fiquei com medo da aproximação da Emma ser puro interesse no fato de eu ficar no dormitório e assim ela pudesse organizar a tal festa, mas percebi que ela é gentil e animada com todos os colegas. Ela ajuda emprestando suas anotações para os que estão repetindo as matérias, ela ajuda a levantar a moral de todo mundo da sala. A semana se aproximava do fim, Emma já tinha conseguido reservar o espaço conjunto do dormitório para a festa e ela continuava a me convencer a estudar na biblioteca.

- Então Yuki, você quer fazer qual curso?

- Acho que vou ser professora. Na verdade ainda não entendi muito bem como a faculdade funciona.

Emma me explicou então que nós entramos na área de biológicas e que estudaríamos o ciclo básico por dois anos. Nesse tempo a gente pode participar de palestras, fazer estágios em diversos locais parceiros da faculdade para descobrir nossa vocação, fazer estágio com os professores para conhecer áreas diferentes... É bem diferente do que as irmãs ensinavam na escola. 

-Ei, mas sabe? - Emma disse - ser professora é uma profissão muito legal também! - Sua animação era reconfortante - afinal de contas, se você for uma boa professora, você pode incentivar toda a sua turma a ser legal como você! - Ela concluiu com seu sorriso, brilhando. 

- E você Emma, já sabe o que quer fazer depois dos dois anos de ciclo básico?

- Sim!! Vou fazer educação física! - comecei a entender porque ela achava legal ser professora - eu quero preparar crianças para competirem! Eu quero ser aquela professora que vai encontrar as crianças com talento e dar uma chance diferente para elas.

Emma brilhava enquanto falava. Ela tinha uma empolgação diferente, como se estivesse completamente apaixonada pelo futuro que ela planejou. 

- E sabe - ela completou - um dos motivos de eu escolher essa faculdade é porque tem uma professora que trabalha com exercícios de alto impacto. Quero fazer estágio com ela. 

Nós voltamos a estudar parasitologia. Depois de quase uma tarde inteira, nós duas decidimos que já tinha sido o suficiente e nos encaminhamos para o lado arborizado do campus. 

- Emma, posso te perguntar uma coisa?

- Você já perguntou - disse ela saltitando ao meu lado.

Eu senti minhas bochechas esquentarem. Ela olhou para mim.

- Owwnnn, você fica corada quando tá com vergonha!! Que fofinha!!! - ela apertou de leve minhas bochechas - pode perguntar Yuki. 

- Por que no primeiro dia você parecia conhecer os colegas de sala? 

- Ah, porque a gente já se conhecia - ela deve ter percebido minha cara de surpresa - ah, os resultados dos aprovados foi divulgado. Alguns alunos criaram um grupo e acharam as pessoas e nós começamos a conversar. Fizemos umas duas festas para conhecer melhor os colegas. Uns dois dias antes do início das aulas nós ficamos sabendo por não lembro quem que teríamos mais uma colega na sala, mas não achamos nada sobre ela, no caso você - ela apontou para mim. 

- Ah, isso explica porque eu parecia estar fora de sintonia com os outros da sala. E os dois garotos que você estava conversando no primeiro dia? Conheceu eles no colégio?

- Quem, o Ray e o Phill? Não, conheci eles nos grupos e nas festas. Bonitões, não? - eu corei ouvindo ela chamando eles assim - O Ray consegue as informações do submundo, ele sempre sabe quando a gente não vai ter aula. Tenho certeza que ele tem um X9.

- O que é isso? - Emma olhou para mim, pela primeira vez, com cara surpresa.

- Você não sabe o que essa expressão significa?

Eu tornei a ficar vermelha. 

- É um delator. Quem entrega os outros - Emma fez uma cara um pouco séria - quem vaza as informações para outro alguém. Não é legal você ser um X9 - a expressão dela logo mudou para a sorridente de sempre - Mas o Ray tem alguém que passa informações para ele sobre aulas e afins. Ainda vou descobrir como ele faz isso. 

- Talvez ele tenha acesso às informações - eu sugeri, feliz com a volta da Emma saltitante.

- Mas como? Ele é aluno como a gente, tem os mesmos acessos que nós. 

Dei de ombros. Talvez ele fosse um aluno favorito de alguém. Ou sei lá.

- Ei Yuki, por que você se chama Margô? Por que você não gosta do seu nome? Ele é tão bonito!

Uma fincada no estômago e na minha alma. Sabia que uma hora ou outra ela perguntaria isso. 

- Foram as irmãs que me deram esse nome em homenagem à irmã que me encontrou quando eu era bebê. Mas eu não tenho boas lembranças dessa irmã. De todas, ela era a mais cruel comigo. 

Cerrei os olhos desejando que Emma engolisse essa história. Errada não estava, mas era só a versão resumida. Isso bastava. Era um pedaço do meu passado que eu não gostava de reviver. 

- Então - Emma disse - Espero que você conheça uma Margô tão legal que te faça gostar do seu nome - ela sorriu para mim de um jeito caloroso. 

Emma me acompanhou até próximo do dormitório. De lá ela iria para casa. 

- Ei ei Yuki. Tá achando algum dos garotos da sala bonito? Vai ficar com algum deles na festa?

Uma curiosidade sobre a Emma: ela é direta. Sem rodeios, ela pergunta diretamente o que quer saber.  Certeza que eu fiquei vermelha. Emma provavelmente sabia que eu ficaria vermelha com a pergunta e isso parecia diverti-la. 

- Err, não sei. Você diz conversar?

Ela olhou desconfiada para mim. Disse algo errado?

- É, tipo isso - ela disse rindo. Não entendi o que eu disse de engraçado. 

Ela se despediu de mim e saiu correndo e saltitando para pegar seu ônibus ou sair do campus. A festa se aproximava e apesar da empolgação de estar numa festa de verdade pela primeira vez, me subiu um pequeno calafrio pela espinha. Pode ser o receio do novo. Mas também pode ser meu instinto de que algo poderia dar errado. 

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Ray - Bioquímica

 Após a conversa com os colegas, Phill e eu nos encaminhamos para onde o carro dele estava estacionado. 

- E aí, os sonhos estavam bons?

- Eu não dormi na aula Ray. - Phill olhou para mim meio revoltado - Só estava descansando o pescoço na mesa.

- Cara, você estava babando. Se você queria causar uma primeira impressão de aluno exemplar para alguém ali, você arruinou lindamente. 

- Eu não preciso de me preocupar com ter dormido na primeira aula de bioquímica e ter arruinado uma primeira impressão - ele mexeu nos cabelos - Até o final da semana, SE alguém se importar, já vai ter esquecido.

- Tá certo, tá certo. E aí, quer colocar na cachola um pouco de bioquímica hoje lá em casa? Mamãe adora quando você vai e sempre tem chance da gente pedir pizza. 

- Claro, por que não? - Phill passava mais tempo livre na minha casa do que na dele - Também não estou muito afim de me juntar aos colegas que amam bioquímica a ponto de fazer a disciplina duas vezes. 

Fomos para minha casa. Phill, como de costume, já ia direto para o meu quarto. Eu fui até o escritório da minha mãe, atrás de algum livro que pudesse nos ajudar com a matéria "perdida" do dia. Depois de um tempo, cheguei no meu quarto com dois livros de autores diferentes. 

- Ray?

-Diga Phill.

- O professor passou cronograma da disciplina dele?

- Não me lembro, mas qualquer coisa a gente olha no sistema.

- Ah tá. - silêncio. Phill parecia estar se lembrando de algo muito sério.

-Ray?

- Phill?

- A menina Emma realmente estava sem sutiã?

Comecei a rir. Só o Phill mesmo para fazer uma cara tão séria e perguntar umas coisas dessa.

- Então o senhor Phill estava mesmo descansando o pescoço?

Ele riu.

- Não, eu realmente devia tá no quinto sono da aula de bioquímica. Mas teve uma hora que a Emma estava conversando com a gente e deu para notar. 

- Ela tava sem mesmo.

- Tá. Olha aí no sistema se prof já colocou o cronograma. Queria adiantar as coisas da próxima aula logo. 

Olhei no sistema. Nada ainda. Clássico.

- Tem nada não Phill. Mas se quiser, a gente olha aqui nos capítulos iniciais dos livros. Início de semestre não deve fugir muito do básico.

Estudamos sobre polaridade e já adiantamos as explicações sobre aminoácidos e estrutura proteica. Essa parte inicial era muito de boas, porque é só um pouco mais de informação comparado com o que vemos no colégio. Logo pude ouvir o portão se abrindo, anunciando a chegada de minha mãe para o almoço.

- Boa tarde querido. Boa tarde Phill. Como foram no primeiro dia de facul?

- Tudo ótimo, Sra Isabella.

- Foi bom mãe. Phill estava tão interessado que sonhou com átomos - Phill me deu um soquinho no braço.

- Poxa meninos, você sabem que o Sro Carlos é um ótimo professor, não sabem? Aproveitem ao máximo às aulas dele, poucos são tão didáticos. 

- E como foi o trabalho mãe?

- Tudo bom, ainda bem. Primeiro dia de aula é sempre revigorante. Muitos calouros desesperados com as minhas disciplinas. Nada de notas a serem lançadas nem trabalhos para corrigir ainda. Daqui um mês não terei o mesmo humor de hoje.

Minha mãe estava certa. Início de semestre para ela era sempre muito tranquilo e passado um mês, começava a virar um caos. Ela brincava com isso, mas nunca perdeu um prazo, nunca madrugou para corrigir provas e trabalhos nem atrasava as notas. Sempre perfeita. 

- Enfim, almoço - mamãe nos lembrou das nossas necessidades fisiológicas, não que nosso estômago não tivesse nos avisado antes - Phill querido, vai ficar para o jantar?

- Só se não tiver problema, Sra Isabella.

- Você sabe que nunca tem querido. Pizza?

Ahá. Eu sabia. Era só o Phill aparecer que minha mãe usava a presença dele como desculpa para pedir pizza. Eu acho ruim? Lógico que não

Almoçamos e depois voltamos ao meu quarto. Como não tivemos morfologia nem química, podíamos aproveitar o tempo livre até o jantar. Phill ligou meu video-game e colocou um jogo qualquer de dois players para jogarmos. Mesmo que o jogo não exigisse muita atenção, eu ainda estava viajando nas curvas da Emma, fazendo com que toda hora eu fizesse algo errado e levasse xingo do meu amigo. Estava tão perdido lembrando de sua blusa preta mostrando o colo, aquele short branco curtinho, seus braços e pernas delicadamente marcados que nem notei quando Phill desligou o jogo.

- Terra chamando Ray - ele me cutucou e sentou-se na minha cama, me despertando - Tem alguém aí?? Pelo menos eu tava dormindo mesmo na aula de bioquímica, e você que tá aí sonhando acordado? Quem tá na sua cabeça? A ruiva de ontem? A Emma? Ou, não me diga que é a novata??

-Anh? - a imagem da Emma tirando sua blusa sumiu da minha cabeça como fumaça - não, que novata? Ela não falou nada com a gente, nem deu para notar nada de interessante.

- Ela pareceu olhar para a gente por um bom tempo quando chegou na sala - lembrou Phill - talvez esteja estranhando a presença de tantos homens na sala.

- Talvez. Alguma garota do seu agrado na sala?

- Estou curioso com a novata. Quero saber como era lá no colégio dela.

- Quer saber como era o ensino num colégio de freiras ou quer pegar a nerd do colégio de freiras?

Phil riu do meu deboche. Com certeza a segunda opção, e provavelmente saber se as estudantes desses colégios são tão desesperadas em ficar com os garotos como diziam nos corredores dos colégios. "Essas alunas de colégios internos de freiras são muito mais animadas do que se pensa, já que são colégios exclusivamente femininos" dizia Rich, o maior pegador do nosso último ano do ensino médio. Se tinha um cara que traçava todas que estavam na frente, esse alguém era ele. Phill e eu não éramos próximos dele por ser um completo babaca e idiota. Ok, às vezes nós dois éramos também, mas Rich não respeitava as garotas. Capitão do time de futebol do colégio, com corpo mais sarado que o do Phill, deixava tanto as mulheres quanto alguns caras suspirando. Com certeza se eu e Phill quiséssemos pegar mais ou ir em festas mais bem frequentadas, ficar próximos do Rich era a melhor ideia. Mas não dava. Simplesmente não dava.  Só de ouvir o que ele falava de suas transas no vestiário após as aulas, me dava nojo. Várias vezes Phill teve que me segurar ou me tirar do local para eu não cair na porrada contra o Rich. Óbvio que eu iria apanhar mais por ser mais magro e menos forte, mas se eu acertasse um belo de um soco naquela carinha metida a galã, já valeria a surra. Bom que o tanto que ele é pegador ele é mal aluno, então não o veremos na faculdade. 

- Animado para a festa de sexta? - perguntou Phill.

- Claro, claro. Vai ser bom ter uma festa depois de uma semana nada cheia da facul. Temos que aproveitar enquanto as matérias não apertam e os trabalhos não chegam.

- Como se você tivesse dificuldade de conciliar a vida de garanhão e de estudante - Phil levantou-se e bagunçou os meus cabelos. Ele fazia aquilo desde sempre, igual um irmão mais velho. Mesmo a gente crescido, essas brincadeiras nunca acabavam, o que me dava certo alívio. Ia ser chato se nossa amizade ficasse estranha de alguma forma. 

- Vai querer dormir aqui em casa depois da festa, Phill? 

- Se você ou eu não arrumarmos uma gata para passar a noite, animo sim. Mas e Sra Isabella, não vai achar ruim da gente madrugar ou de você trazer alguém? - no caso o alguém seria a garota né?

- Mamãe sabe que não tô afim de namoros por agora e não vou trazer nenhuma garota tão cedo para cá. 

- E a Emma tem chance de conhecer a cama do Senhor Ray? - Phill debochou de mim e riu.

- A minha cama não está nos meus planos com a senhorita Emma. Talvez outro colchão esteja. - dei meu sorriso malicioso, o que fez Phill rir mais ainda. 

- Meninos!! Pizza! 

A voz de minha mãe nos chamou para a pizza que começou a espalhar seu cheiro pela casa. 

terça-feira, 27 de julho de 2021

Ray - a universidade

O professor ainda estava explicando sobre polaridade das moléculas. Phill ao meu lado estava babando de sono. Podemos sentar no fundo, fazer nossas bagunças, mas sempre fomos bons alunos. Mesmo que Phill perdesse essa aula, a gente estudava por fora depois. Livros não faltariam, afinal de contas, minha mãe da aula na área das biológicas na faculdade. 
Não deixo ninguém saber disso, só Phill sabe por ser meu amigo. Não quero que as pessoas achem que passei na facul por ser filho da prof, por isso sempre foi fácil tirar notas boas e blá blá blá. Eu sempre fui bom aluno por mérito meu. Eu estudava para tirar boas notas. Eu passei na universidade que eu queria. Só calhou de minha mãe ser professora na área que eu tenho afinidade. 
Se ela age como minha mãe? Não fosse seus cabelos negros, ninguém acredita que nós somos conhecidos. Fora de casa ela é a professora Isabella do departamento de fisiologia. Eu sou Ray, calouro da área das biológicas. Dentro de casa é minha mãe. 
- Ei, psiu. Emma - cutuquei-a com a ponta da caneta para que ela me ouvisse.
Ela se virou para trás e me olhou com aqueles olhos verdes brilhantes. Pude notar de leve que seu decote estava mostrando que ela não usava sutiã. 
- No final da aula você pode avisar à turma que não teremos Química I essa semana?
Ela arregalou os olhos com surpresa
- Como você sabe disso? - falou com a voz tão baixa, que só deu para saber o que ela falava por leitura labial. 
Dei meu sorriso malicioso. Se as meninas ficam loucas com o Phill bagunçando os próprios cabelos, elas ficam igualmente loucas com esse sorriso meu. Pelo jeito surtiu efeito na Emma, pois as bochechas dela ficaram da cor de seus cabelos. Ela se virou para prestar atenção na aula e não fez mais perguntas. 
Enquanto Phill sonhava com os átomos, fiquei observando nossa sala. Realmente, a maioria dos colegas estavam presentes na festa do dia anterior, ou reconheci pelo grupo da turma. Alguns alunos anotavam freneticamente até as pausas do professor, então presumi que eram os repetentes. Contei 15 assim. 
E tinha ainda aquela novata que chegou por último. A mesma menina que eu e Phill vimos correndo com a outra garota dormitório afora. Emma perguntaria sobre o espaço, então a gente iria saber se ela que era moradora lá. 
Essa primeira aula de bioquímica serve muito bem para a gente viajar (desculpa professor). A tal novata tinha cabelos muito muito pretos, mais pretos que os meus ou os da minha mãe. Ela era muito branca. Tipo uma branca de neve dos contos. A roupa não era lá essas coisas, não dava para imaginar muito as curvas dela. 
Já as roupas que a Emma estava vestindo.... Não sei se ela tem noção que a roupa é um pouco provocativa. Blusa preta decotada. E como disse anteriormente, dava para ver que não estava de sutiã. Short branco curto. Quase dava para ver a cor da calcinha dela. Aquilo já começava a me deixar com vontade de ver ela por baixo da roupa. Phill estava perdendo a paisagem.
O professor deu a aula por encerrada e pude ver muitos alunos meio atordoados. 
Phill já estava acordado e Emma se levantou para dar o anúncio da aula de química. Antes que ela falasse, Phill a interrompeu:
- Emma, lembra que a novata pode ser do dormitório! Vamos lá Emma, não se esqueça, vai lá perguntar.
- Ook! - Ela disparou para frente da sala. 
Após um breve momento com a novata ela deu a notícia que não teríamos aulas de química e depois retornou à mesa da garota.
Phill olhou para Emma conversando com a garota e perguntou:
- Será que ela faz ginástica? O corpo dela é bem definido, não?
Observei também. As linhas dos músculos das pernas e dos braços eram discretas, porém bem marcadas. Um corpo atlético e bonito. Como será o restante escondido embaixo da blusa e do short? Embora claramente eu estivesse interessado, ia ser meio chato pegar a colega de sala e ficar um climão estranho depois, ainda mais com uma garota tão energética. 
Pude captar o olhar do Phill. Ele olhou para mim e desarrumou seus cabelos. Ouvi uns suspiros por perto. 
Emma voltou ao nosso encontro com novidades:
- A caloura se "chama" Yuki - ela fez o sinal de aspas com os dedos - ok, não é Yuki, mas já esqueci o nome dela. Ela está no dormitório, mas parece que chegou hoje de manhã e não entende nada lá. Acho que ela também está perdida, porque parecia estar procurando algo. Bom, quem não está perdido no primeiro dia de aula, não é mesmo?
Assentimos e acompanhamos Emma e os outros colegas para o jardim da frente do prédio. 
Enquanto a gente curtia o sol da manhã após as aulas, notei a tal Yuki andando sozinha, tentando retornar ao dormitório, pelo visto. Apesar de andar sozinha como veterana, era claro que ela estava perdida. Pude notar que mesmo com a calça jeans e a blusa, agora de pé, ela era um pouco mais alta do que a maioria das garotas e parecia ter um corpo bem normal. Seus cabelos eram longos e pareciam bem macios. Mas nada de excepcional. Ela parece ter achado o caminho para o dormitório e foi-se. 
A maioria dos colegas iam aproveitar a folga, mas eu e Phill pretendíamos ir para casa. Talvez estudar um pouco da bioquímica que ficou perdida no meio dos sonhos babados do Phill e dos meus devaneios com Emma e com a princesa da neve novata. 

domingo, 25 de julho de 2021

Yuki - Dormitório

Primeira aula de bioquímica não foi nada de novidade para mim. Acho que o que a gente aprendia no colégio era um pouco mais avançado. Ou talvez seja só a primeira aula mesmo, aí a matéria é um pouco mais fácil.

Dada a aula como encerrada, o professor desligou o computador e saiu de sala. Conferi meus horários para saber a próxima aula e em qual sala ela seria ministrada. Enquanto ainda me perguntava onde estava meu mapa para saber retornar à entrada e ao dormitório, ouvi ao fundo, junto às conversas dos meus colegas

- Vamos lá Emma, não se esqueça, vai lá perguntar. 

Poucos segundos depois, uma garota ruiva veio saltitando em minha direção e parou na frente da minha carteira. Levantei os olhos da minha pasta em direção a ela e quase fui ofuscada por um brilho natural. A garota ruiva tinha cabelos curtinhos, olhos grandes e verdes. Mesmo embaixo das roupas dava para notar que ela tinha um corpo atlético. Ela me cumprimentou super sorridente:

- Oi novata! Eu sou a Emma! Qual o seu nome? Como você está? Os meninos ali de trás me falaram que você fica no dormitório, é verdade? Sabe reservar o espaço conjunto? Ah sim, antes que eu me esqueça!

Eu pisquei com o tanto de perguntas feitas sem conseguir digerir elas individualmente. Emma se afastou da minha mesa, se posicionou no centro da sala e disse em alto e bom som:

- Pessoal!! Antes que vocês saiam, não teremos aula de Química I essa semana! Portanto, horário livre! 

Comemorações ao fundo. Emma rapidamente retornou à minha mesa, debruçando-se em cima da minha pasta e do meu caderno:

-Então???

Tentei me lembrar das perguntas, sem muita sorte, então comecei pelo básico:

- Oi Emma, tudo bem? - a cada palavra ela abria um pouco mais seu sorriso - Me chamo Yuki...

- Oh, Yuki? Essa é nova para mim - ela inclinou a cabeça para o lado, me interrompendo - você não tem cara de ser japonesa.

-Er, na verdade Yuki é meu apelido, meu nome é Margô - eu disse, abaixando o tom de voz - mas eu prefiro Yuki, por favor.

- Tá bom, Y-u-ki - ela falou meu apelido pausadamente e continuou a olhar comigo com expectativa. Como não falei mais nada, ela revirou os olhos e disse - espaço conjunto, dormitório....

-Ah sim - lembrei do que ela tinha perguntado - sinto muito, mas não sei do que você está falando.... Eu cheguei hoje de manhã e ainda não sei como funciona as coisas no dormitório. 

Ela não pareceu se abalar com minha resposta, mas soprou uma mecha de sua franja que estava caindo nos olhos. Levantou e disse:

-Vamos organizar uma festa com a turma da exatas no espaço conjunto do dormitório, deve ser no fim da semana. Mas não se preocupe, até lá eu te aviso de novo. Obrigada Yuki!

Ela disparou para o fundo da sala antes de eu responder. Já que não haveria aula de Química I, achei melhor retornar ao dormitório para desfazer minhas malas antes do almoço. Talvez aproveitaria o tempo da tarde para conhecer o ambiente, afinal, eu tinha tempo livre até o fim das aulas de Midori. 

Levantei-me da mesa, juntei minha pasta com o caderno e coloquei na minha bolsa. Como só Emma se dirigiu a mim, não fiquei muito a vontade para cumprimentar meus outros colegas. Levantei os olhos da minha mesa e percebi que os dois rapazes que notei quando entrei na sala ainda olhavam para a parte da frente da sala. Me pergunto o que tem de tão interessante aqui na frente. Ou se eles realmente estavam esperando algum conhecido que não apareceu. Saí pela porta rumo ao corredor. 

Uma coisa que aprendi no colégio é que você não deve fazer cara de estar perdida, senão os mais velhos vão ficar te irritando. Mesmo não lembrando muito bem como voltar para o dormitório, percebi que várias pessoas andavam "em bandos" e vários outros andavam sozinhos. Um grupo de 6 pessoas me abordou perguntando se eu sabia como chegar no prédio de humanas e infelizmente eu não podia ajudá-los. Eles continuaram sua busca e eu a minha. Foi aí que eu notei que sempre os grupos de pessoas perguntavam algo para as pessoas que andavam sozinhas ou em duplas. Após ouvir de relance uma informação a respeito sobre a praça enorme da universidade, resolvi seguir de longe o grupo que se encaminhava para lá e consegui encontrar o dormitório.

Após ficar perdida nos corredores, finalmente encontrei meu quarto. Entrei para arrumar minha mala até a hora do almoço e depois esperar pelo fim das aulas de Midori. Separei todos os uniformes da outra faculdade em uma sacola e não restou muito o que fazer. Em pouco tempo ouvi uma batida na minha porta e a voz de Midori do outro lado da porta. 

- Aaahhh minha cabeça tá tão cheia!!! - Midori entrou reclamando e se jogou em cima da minha cama, levantando travesseiro e coberta - Acredita - disse sentando-se de pernas cruzadas - que não tivemos a segunda aula? Os professores podiam ter avisado! E a primeira e a segunda aula foram bem pesadas. Cálculo I e Algoritmo! Bem que poderia existir uma matéria anterior a essas, por mais avançado que nosso colégio era, ainda não dá uma base muito boa para a universidade. 

Achei graça da diferença entre as nossas percepções da primeira aula, enquanto a minha parecia mais fácil, a dela parecia mais difícil.

- Bom, parece que você já desfez sua mala e separou os uniformes, podemos ir então.  No caminho a gente conversa mais sobre as aulas. 

Ela levantou-se da minha cama, me ajudou a pegar as sacolas com os uniformes e saímos do dormitório. 

-Ah, se importa de andar? Apesar da mamãe ter oferecido carona até em casa, falei que conseguiríamos ir andando.... Desculpa, eu devia ter te perguntado primeiro.

- Andar? Depende Midori, é muito longe? - geralmente não ligo para caminhadas, até gosto.

- Não, uns 10 minutos só. Rapidinho a gente chega.

- Ah, tranquilo.

Enquanto íamos para a casa de Midori conversamos sobre nossas matérias e as turmas. A minha turma era equilibrada entre homens e mulheres e a dela parecia ter muito mais homens na sala. Ela claramente estava se divertindo muito com os homens a mais, já que passamos a vida inteira em um colégio feminino. Ela falou comigo a respeito da tal festa que os alunos das exatas e das biológicas estavam organizando, que seria no fim da semana, a mesma festa que Emma comentou depois da aula de bioquímica. Ela parecia muito empolgada para a festa, e eu não tanto porque não sabia o que vestir. Porém, meus "problemas com as roupas" logo logo acabariam.

Pois, assim que chegamos na casa de Midori (que não consigo pensar o que era maior, a casa dela ou o colégio onde estudamos juntas), ela me levou ao antigo quarto da irmã, onde eu pude escolher o que eu quisesse. Sua irmã mais velha fez uma ligação de vídeo, conversou com nós duas e me garantiu que eu poderia pegar o que quisesse que não faria falta. 

A única coisa que faltou foram os sapatos, pois ela não calçava o mesmo que eu. E eu só tinha um par de tênis e chinelos. Então, para me deixar mais sem graça, a mãe de Midori nos levou para comprar uns sapatos (Midori tentou me fazer sentir melhor dizendo que ela também precisava de alguns, mas obviamente ela estava se divertindo arrumando mil pares diferentes para mim). No fim das contas ganhei uma bota, 2 sandálias e um sapato. Jurei para a mãe de Midori que era mais do que o suficiente, mas ela me garantiu que se Midori falasse com ela que achava que eu precisava de mais, ela arrumaria mais. Tenho certeza que fiquei mais vermelha que o sapato que eu ganhei.

Bom, agora tenho roupas para ir na faculdade - meus novos uniformes - para as possíveis festas que iremos e para outras ocasiões. 

quarta-feira, 21 de julho de 2021

Ray - primeiro dia de aula

Acordei na minha cama com a festa do dia anterior ainda em minha cabeça. O gosto da cerveja, da tequila e da garota Chel estavam em minha boca, bem como seu cheiro ainda estava impregnado no meu nariz. Há tempos não me divertia tanto com uma garota. Uma pena (ou será que eu diria melhor "alívio"?) que tanto ela quanto eu sabíamos que nosso encontro não passou e nunca vai passar somente de uma noite. 
Aparentemente Phill não teve a mesma sorte que eu, pois de manhã cedo ele já estava buzinando o carro na porta da minha casa. Ele só levanta cedo ou quando não dorme (o que é comum) ou quando dorme mais cedo do que o que era esperado (o que é muuuito difícil de acontecer). E se ele não dorme, o humor dele é definitivamente melhor, o que claramente não era o caso de hoje.
- Ei Phill - disse entrando no carro - que pegou ontem entre você e a morena que vc tá aí mordido de raiva?
- Ah Ray, não enche não! 
- Era a primeira vez dela? - perguntei, já ouvindo a resposta e o xingo nos ouvidos.
Phill murmurou alguma coisa inaudível ao meu lado. Ele parou no sinal vermelho, olhou para mim com aquela cara de inconformado que eu reconheceria a quilômetros de distância, enquanto colocava o carro no ponto morto
- Era. Na real não teve né? Que ela achou quando eu chamei ela para ir num lugar mais legal? Que a gente ia no parque de diversões?
Eu ri. Phill ficava nervoso com situações assim. Ele olhou para mim bem puto de raiva da minha aparente diversão com sua situação. 
- Ei cara, calma. Tô rindo porque não é a primeira vez que eu ou você passamos por uma dessas. Você sabe como são as garotas. A maioria não quer perder a virgindade com um cara qualquer, numa noite de festa.
- Acha que eu não sei? - Ele passou a primeira marcha com raiva enquanto arrancava o carro - não é a responsabilidade que eu quero ficar carregando por aí. O foda é que eu achei que ela tinha entendido minhas intenções e pelo visto, ela não entendeu, nem quando a gente entrou na porcaria do quarto do motel.
Eu entendia a frustração do Phill. Não é fácil você chegar na menina, querer só transar e no fim elas darem para trás. Mas o que a gente pode fazer? Forçar elas? Aí não é legal, nada legal. Ainda mais se a gente quer levar uma menina virgem para a cama. Tem que ser duplamente mais cauteloso, porque ou elas não sabem muito o que fazer, o que costuma ser interessante, ou elas podem desistir no meio de tudo. 
- Olha pelo lado bom da coisa Phill - eu disse - pelo menos a chance da gente rever as meninas é maior, já que você não foi um babaca com ela igual a maioria dos caras do colégio. 
Phill expirou e o humor foi mudando. Esse tipo de situação acontece e a gente não se aborrecia por tanto tempo. 

Phill chegou na faculdade e nós já estávamos empolgados com o início do semestre. A gente sempre passava pelo campus nas horas livres do terceiro ano para poder conhecer o ambiente e o pessoal, lógico. Mas o campus não deixava de impressionar, mesmo que fosse um pouco velho. A avenida principal era completamente arborizada e as ruas se ramificavam a partir da avenida, levando aos prédios da universidade. Ao fundo da avenida ficava uma enorme praça com restaurante, ponto de ônibus, lanchonete, estacionamento para bicicletas e um grande prédio, que eram os dormitórios. Os dormitórios eram reservados só para os bolsistas ou alunos de fora da cidade ou estado, mas eram abertos para visitantes. Então se a gente conhecesse alguém de lá, era só entrar junto da pessoa que era de boas. 
Cada prédio da universidade tinha sua biblioteca, xerox, laboratórios e suas particularidades. Todos os prédios tinham um jardim bem cuidado na frente, então a maioria dos alunos ficava matando o tempo no gramado ou ficavam esperado as aulas começarem ali. 
Nesses dois primeiros anos de facul a gente faria as matérias de ciclo básico com todos alunos, só nos 2 anos restantes que a gente escolher o curso que quer fazer e pega as matérias específicas. Eu prefiro desse jeito, assim a gente conhece melhor cada curso antes de fazer bobagem. Já o Phill acha perda de tempo. Bom, vantagens de se saber o que você quer desde o início né? 

Enquanto eu e Phill nos encaminhamos com os demais colegas para o elevador do prédio, vimos uma menina oriental puxando outra garota pelas mãos, dormitório afora. As duas deviam estar desesperadas para chegar nas aulas. 
- Ei, Phill - cutuquei-o, chamando sua atenção - de qual curso você acha que aquelas duas ali são?
Phill olhou as duas meninas com as mãos apoiadas nos joelhos ao longe, depois da corrida. 
- Sei lá Ray. Elas estão na porta do dormitório, capaz da gente trombar com elas pelo campus algumas vezes. 
Phill observou novamente com mais atenção as duas meninas, levantou uma sobrancelha e entrou no elevador, que ja havia chegado. 
Nós entramos na sala 707 e uma das meninas da sala, que estava na festa do dia anterior, exclamou
- Phill!! Ray!! Achamos que não viriam hoje! Vocês saíram bem acompanhados da festa de ontem, estou surpresa que estão aqui antes do horário.
- Olá Emma, como vai? - Phill e eu a cumprimentamos. Emma era caloura como nós, mas assim como o restante da classe, nos conhecemos no grupo de calouros do curso. Era uma garota extremamente animada, ruiva e de cabelos curtinhos. Liberdade parecia ser uma palavra adequada para descrevê-la. 
- Achamos que vocês também iam ficar a toa no primeiro horário - Disse Emma.
- Eu sabia que essa semana não tinha aula de Morfologia no primeiro horário. - Disse à Emma, sentando em cima de uma das carteiras - As aulas só começam semana que vem. Por isso eu e Phill viemos só para a aula de agora. 
- Ahh, tão injusto! Como você sabia disso e a gente não? 
Phill e eu rimos da insatisfação da Emma
- Ei ei, estamos planejando uma festa com os calouros dos cursos das exatas - Emma disse.
Deu para ver a animação e o sorriso do Phill. Já disse que a gente (ele muito mais do que eu) ama festas? 
- Já tem data Emma? - perguntou Phill
- Se tudo der certo, no fim da semana. Os bolsistas estão vendo se conseguem reservar o espaço conjunto do dormitório para a festa.
- O dormitório tem espaço conjunto é? - perguntei
- Sim! Apesar do dormitório ser separado por sexo, tem um espaço de convivência na parte de trás. Geralmente só quem usa o dormitório pode acessar, mas acaba que fica aberto para todos os estudantes. Só para usar para festa que é mais burocrático.
- Opa, tô dentro - Phill disse animado
- Eu também, só avisa quando tiver a certeza Emma.

Enquanto conversávamos, os demais colegas foram entrando e ocupando as carteiras da sala. Vantagens da faculdade é poder sentar onde quiser, chegar na hora que der, usar a roupa que bem entender. Nada daqueles uniformes ridículos de colégio. E a melhor parte, essa foi dita pelo meu bom amigo Phill e eu concordo, dá para a gente conhecer melhor do corpo das meninas. Nada daquelas roupas horrorosas escondendo as curvas delas. Tem roupa que permite a gente viajar bem. 
Chegou então uma garota muito branca com uma cara de perdida. Ela olhou pela sala e sentou na primeira carteira. Deve ser bem nerd. Phill então me cutucou.
- Não é a garota que estava com aquela menina mais cedo?
- Quem? - perguntei, sem prestar muita atenção no que Emma dizia
- Aquelas duas meninas paradas na porta do dormitório - Phill disse um pouco impaciente - a gente viu elas quando chegamos perto do prédio. 
Phill sorriu. Eu sabia que ele estava pensando no mesmo que eu. Nem precisamos esperar para saber sobre as duas meninas. Uma delas é colega nossa. Ou ela ou a outra ou ambas são do dormitório.
- Emma - chamei a atenção dela - acho que aquela menina ali é do dormitório.
Os olhos da Emma se iluminaram.
- Ótimo, depois vou perguntar se ela sabe como a gente pode fazer a festa lá no espaço.
Emma saltitou para sua carteira e descobri o motivo. Nosso professor tinha chegado. Logo nos acomodamos em nossas carteiras e nos preparamos para o início da faculdade
- Muito bem alunos, bom dia. Eu dou a matéria que a maioria dos alunos gosta tanto que faz duas vezes - aquela tensão na sala se estendeu -  vamos começar a aprender sobre bioquímica. 

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Yuki - primeiro dia de aula

Finalmente
Finalmente
FINALMENTE

Finalmente estou saindo desse colégio que passei a vida INTEIRA para poder estudar num lugar diferente, com pessoas diferentes, conviver com mais gente. Finalmente vou poder fazer minhas escolhas. Finalmente vou poder conversar com garotos de verdade (não, os do sonho e dos mangás não contam, já que eles infelizmente não são reais). Vou poder ter um quarto só meu, sem dividir com mais ninguém. Sem risco das minhas roupas sumirem. 

Sem mais freiras enchendo o saco.

Enfim, no fim das contas não foi a madre superiora quem me levou. Foi outra irmã que me acompanhou a alocar minhas malas no MEU quarto no dormitório. 

- Margô, este é o seu quarto - Disse a freira, me ajudando a trazer o punhadinho de malas com todos os meus pertences.
Sim, meu nome é Margô. Não, não gosto muito do meu nome. Voltamos a usar o apelido que ganhei da Midori, Yuki. Me acostumei com ele e me sinto melhor assim. 
- Sim Irmã, muito obrigada pela ajuda em trazer minha mala.
- Vai ficar tudo bem querida? Tem certeza que prefere estudar nessa faculdade ao invés de continuar seus estudos no colégio? Sabemos que você seria uma excelente irmã conosco....
- Obrigada Irmã Irene, mas estou bem feliz com bolsa na faculdade, é uma oportunidade que não posso desperdiçar.... - Irmã Irene é particularmente legal. Uma das poucas com quem eu podia conversar sem ter aquela.... distância que a gente tinha com todas as outras irmãs do colégio. 
Ela olhou apreensiva para mim, mas me ajudou a alocar as malas dentro do quarto. Era um quarto pequeno, com uma cama, um guarda roupa, uma pia, uma mesa com uma cadeira, e o local para o banho. Para lavar as roupas eu tinha que ir no lavatório comunitário do dormitório, mas tinha espaço numa pequena varanda para estender as roupas. Era um luxo perto da cama velha e do baú do quarto no colégio. 
- Se cuida minha querida - Irmã Irene me abraçou - se você quiser passar os feriados conosco ou quiser voltar... entre em contato que providenciamos seu retorno.
- Obrigada Irmã Irene - agradeci ela e pensei com meus botões "espero não ter que voltar para o colégio tão cedo, quem sabe nunca mais".
Irene se despediu e partiu, me deixando a sós com meu novo quarto, minha nova vida. 

Lembrei que precisava correr para pegar as aulas da parte da manhã. Irene é tão boazinha que deixou em cima da minha mesa um mapa da faculdade (acho que nem em 6 anos eu vou aprender a andar nesse lugar direito), um caderno e uma pasta com os meu horários das minhas disciplinas e suas respectivas salas. Só ela mesmo para me fazer sentir falta (só dela). Sempre foi muito atenciosa e cuidadosa com todas as internas. 

Como já estava de uniforme, peguei meu caderno, coloquei numa bolsa pequena, lápis e caneta e saí do quarto. Ao girar a chave escuto um berro e me viro num susto, reconhecendo a voz:
- Não acredito!!!!! Yuki!!!

Midori pulou em cima de mim, com os cabelos soltos, calça e uma blusa normal. CADÊ O UNIFORME DELA??? Ela vai arrumar problemas assim! E espera um pouco.... Ela não tem aula em outro lugar? O que ela faz aqui no dormitório???
- Yuki, menina!! Que você está fazendo aqui até agora? Suas aulas já começaram! - Ela parou como se tivesse me visto pela primeira vez - Yuki, que raios de uniforme é esse??
- Midori - tentei responder no meio dos abraços - O que você faz aqui? Eu já estava indo para a aula, a Irmã Irene acabou de me deixar aqui...
- Menina, entra logo nesse quarto, pelamordedeus - Midori roubou as chaves da minha mão, abriu minha porta, me enfiou quarto adentro e trancou a porta atrás de si
- Tá doida Midori? Cadê o seu uniforme? E por que você tá questionando minha roupa?
- Yuki, yuki.... - Ela balançou a cabeça negativamente - Não existe uniforme na faculdade.
....
....
- QUÊ???
Eu estava em choque. Como assim não existia uniforme? O que era aquela roupa que eu estava vestindo então? O que eu iria vestir? Minha cabeça começou a girar.
- Anda logo menina, arruma uma roupa decente para você vestir.
Midori vasculhou rapidamente pela minha mala, mas lógico que ela não achou nada de interessante. Só havia mudas do mesmo uniforme falso, pijama e minhas roupas de ficar no dormitório. 
-Ok, espera um pouco que já já volto.
Midori escapou pela porta e desapareceu por uns 10 minutos. Ela voltou esbaforida, vermelha como um pimentão com uma calça jeans e uma blusa.

- Anda, veste isso aí rápido que você já perdeu a primeira aula inteira. Se correr dá tempo de você pegar o segundo horário. 

Sem entender muito bem, vesti o mais rápido que pude a roupa que ela trouxe. Saímos correndo do quarto e Midori foi me guiando pelos corredores do dormitório até o lado de fora. No caminho ela me explicou o ocorrido:
- Parece que a bolsa de estudos era para outra faculdade - disse ela correndo pelos corredores, segurando minha mão e me guiando, muito rápido - e essa faculdade era de outro colégio de freiras, em parceria com o nosso - meu estômago embrulhou
- Como assim?
- Não era para você ter vindo para cá - disse ela - a bolsa era para outra faculdade, mas alguma coisa deu errado. Como eles já tinham te prometido a bolsa de estudos, te alocaram para outra faculdade às pressas, que é onde eu tinha passado quando fiz vestibular. Por isso tudo foi resolvido de última hora. - ela disse enquanto saía pela porta principal do dormitório, me levando para um campo gramado e decorado com um jardim.  
- Mas isso não faz sentido - eu disse enquanto desviava de duas pessoas esparramadas na escada.
- Faz sim Yuki - disse Midori um pouco impaciente - Esse uniforme era para a outra faculdade. Lá é tipo a continuação do colégio. Não ia ser diferente do que estudamos a vida inteira. Ia ter as irmãs do mesmo jeito, uniformes, aquele mundo de regras, nada de sair do colégio....

Eu parei na mesma hora. Não sei ao certo porque. talvez seja porque me faltava ar depois da corrida por dentro do dormitório. Talvez seja pela notícia que eu quase fui para outro lugar de freiras. 
Midori ao meu lado estava ainda ofegante. Ela também respirava pesado.

-Vem, vou te levar para seu prédio. O meu é do lado e minhas aulas são só à tarde. Por isso estava passando pelo dormitório. Queria ver se conseguia te encontrar. Depois das aulas vamos dar um pulo lá em casa, não posso deixar você só com pijamas e uniformes do outro colégio.
Midori agarrou minha mão e me puxou pelo jardim do dormitório. Eu ainda estava processando tudo, mas pelo visto não poderia perder muito tempo. Afinal, para manter minha bolsa de estudos eu tinha que ter frequência e notas boas. Faltar o primeiro dia de aula seria muito, muito ruim. 

-Mas Midori, como assim na sua casa? Como vou para lá?
Midori revirou os olhos enquanto me guiava pela rua, lotada de carros, bicicletas e pedestres.
- Sabe a hora que saí e voltei com uma muda de roupa? Liguei para mamãe e expliquei que você estava aqui e de uniforme. Ela falou que quando minhas aulas acabarem, você e eu vamos lá em casa ver se algo da minha irmã ou meu serve em você. Se servir, pode pegar a vontade, minha irmã não mora mais com a gente mesmo. - Lembrei que a irmã mais velha de Midori já era casada - Depois se precisar, mamãe disse que compra umas roupas novas para você.
Senti meu rosto esquentar. Eu não podia dar esse trabalho e gasto à mãe de minha amiga.
-..
- Ela disse que você recusaria e falou que não adianta. Ela vai sim comprar para você. 
Engoli minhas reclamações. Eu conhecia só de longe a família de Midori, mas parece que os pais dela tinham um carinho grande por mim, já que, aparentemente, eu era a única amiga da filha deles. 

Midori parou na porta do prédio, respirou fundo, pegou minha pasta com meus horários e apertou o botão para chamar o elevador. Enquanto esperamos o elevador chegar no térreo, conseguimos recuperar o fôlego. Entramos no elevador, ela apertou o 7º andar e a porta se fechou.
- Ok, você se lembra como chegar no dormitório depois de sair daqui do prédio?
- Ah, mais ou menos.... mas acho que dá para me virar. A Irmã Irene deixou um mapa junto dos meus horários.
-Santa Irmã Irene - Midori exclamou - única freira que prestava daquele lugar.
Ambas rimos. Meu deus, como eu estava feliz de ver a Midori ali. Mesmo não estudando mais na mesma sala, ter ela por perto era muito reconfortante. 
A porta do elevador se abriu. Haviam muitos alunos no corredor do 7º andar, então presumi que as aulas ainda não tinham começado. Midori me acompanhou até metade do corredor, enquanto falava:
- Ok, hoje minhas aulas acabam por volta das 16h. Assim que suas aulas acabarem, almoça no refeitório e depois vai desfazer suas malas. Separe seus uniformes que a gente vai mandar de volta para o colégio. Infelizmente não vou poder almoçar com você por causa do horário. Mas te encontro no seu quarto depois que minha aula acabar, aí vamos juntas para casa.
Assenti enquanto andávamos pelo corredor. Midori me abraçou forte mais uma vez.
- Estou muito feliz que vamos fazer faculdade "juntas" Yuki!.
Ela me deu um beijinho na bochecha e disparou pelo corredor de volta por onde viemos. A ventania e os cabelos longos balançando me deixaram só com a pasta nas mãos e a bolsa, mas nenhum sinal do mapa que deveria estar com meus horários.
- Oh droga, para onde será que foi o mapa?

Vi que apesar de ter muitas pessoas no corredor, a sala 707 estava cheia de gente, embora todos ainda estavam em pé ou sentados nas mesas. Melhor entrar na sala e procurar um lugar para sentar logo.
Entrei na sala e vasculhei com os olhos em busca de algum lugar em que poderia sentar. Incrivelmente os lugares da frente estavam em parte vagos, o que foi ótimo para mim. Pude sentar na primeira cadeira, como sempre. Coloquei minha bolsa em cima da mesa e comecei a notar meus colegas de classe com os cantos dos olhos.

Todos eles pareciam já se conhecer há muito tempo. Conversavam, riam e faziam brincadeiras uns com os outros. Ninguém usava a mesma roupa, o que era muito estranho para mim. Essa questão de não ter uniforme era ainda novidade e não entrava direito na minha cabeça. Observando de solsaio os meus novos colegas, não tinha como não reparar nos dois ao fundo.
Dois rapazes conversavam animadamente com outros colegas. Um deles era atlético, loiro, olhos azuis, com uma roupa mais justa ao corpo, que ajudava a marcar alguns músculos nos braços. O cabelo era levemente rebelde, com alguns fios para cima. Ele bagunçava o cabelo de propósito e tinha um sorriso que.... Meu Deus, como ele era bonito. AGORA entendo porque a Midori tinha uma queda pelos loiros. 
O outro rapaz que conversava com o loiro estava sentado na mesa, apoiando um pé no encosto da cadeira da frente. Usava calça jeans e uma blusa larga e um casaco de moletom aberto. Seu cabelo era preto e era mais comprido que o de cabelo loiro. Boa parte da franja cobria um pouco do seu rosto. Embaixo do olho esquerdo tinha uma pinta discreta. Seus olhos eram castanhos e seu sorriso era mais tímido do que seu colega, mas igualmente bonito. Os dois eram a personificação dos personagens bidimensionais dos mangás que eu tanto li com Midori. 
Ambos conversavam, mas volta e meia olhavam pela sala. Pareciam estar procurando algum conhecido. Ninguém mais além de mim entrou, mas eles continuaram conversando e olhando na direção da frente da sala. Me pergunto o que eles conversavam com os demais colegas e quem da turma não deve ter vindo hoje. 

O professor entrou na sala, anunciando que iniciaria a aula de bioquímica. Abri meu caderno, peguei minha caneta e me preparei para a matéria. 

sábado, 17 de julho de 2021

Ray - antes das aulas começarem

Mais uma festa dessas de início de ano letivo. Época perfeita para conhecer as gatinhas novas da sala e rever as que já conhecemos. Eu e Phill fomos na festa do dia, prontos para beber umas cervejas e chegar nas meninas. Talvez, se tudo der certo, levar elas para um lugar mais... Reservado. 
Nem eu nem Phill temos muita dificuldade em chegar nelas. Ele é loiro de olho azul, porte atlético, boa pinta. Elas se aproximam dele naturalmente, como se fossem imãs sendo atraído pelo pólo oposto. Já eu aproveito a onda. Talvez seja meu papo, meus cabelos pretos ou mesmo meu ar mais misterioso que atrai elas. O fato é: a gente chega e rapidinho as garotas se aproximam naturalmente. Grandes vantagens. 

Namorada? Não, nem pensar. Se apegar a uma pessoa só não é muito meu estilo, e pelo visto, nem do Phill. A gente quer poder sair a vontade, conhecer gente nova a todo momento, aproveitar muito bem a vida de solteiro. Solteiro sim, sozinho nunca. 

Enquanto a gente (re)conhecia a casa da festa, ouvimos os meninos da nova turma conversando. Como a gente já estava no grupo de calouros da facudade, marcamos uma confraternização pré-aula para enturmar antes das aulas começarem. Bom que dá para conhecer a galera pessoalmente e ver se tem alguma garota ou garoto bonitinho entre eles, essas coisas. A grande novidade definitivamente é da nova garota que entrou na turma de ultimam hora, após o término do período da matrícula, e parece que ela é daquele colégio famoso de freiras. Bebo minha cerveja enquanto observo as meninas começando a rodear o Phill enquanto eu continuo ouvindo a conversa da tal garota nova.
- Parece que ela estudou e viveu a vida inteira no colégio! - dizia um dos garotos
- Pelo que eu fiquei sabendo, ela conseguiu uma bolsa de estudos aqui e vai morar no dormitório - uma das garotas comentou.
Tento beber mais um gole da minha cerveja e percebo que ela está vazia. Phill passa por mim, com uma garota de cabelo preto e muito bonita ao seu lado e me entrega a lata de cerveja dele, intocada. Phill é esperto. Finge tomar as cervejas, vai levando as meninas no papo, conversa daqui, troca uns beijos dali, elas vão indo na dele e logo logo ficam mais animadas. 
- Não, parece que é só essa menina que é novata na turma - o assunto da novata me trás de volta para a realidade. 
Interessante. A novata então estaria na mesma sala que eu e Phill. Definitivamente interessante. Será que ela é bonita? Inteligente com certeza, senão não teria conseguido a tal bolsa que esses calouros estão comentando. 

Phill volta de sei lá onde ele estava com a menina, mas dessa vez volta com outra por perto. Essa possui um olhar travesso, cabelos ruivos e aquele sorriso malicioso que está doida atrás de uma curtição. Ele pára para conversar comigo, enquanto as duas meninas se afastam juntas, rindo.
- Fala Ray. Até agora não achou nenhuma gatinha aí do seu interesse?
- Calado Phill. Eu não sou igual você que precisa de uma garota nova a cada festa.
Nós dois rimos da minha ironia. Toda festa eu e ele estávamos com uma garota nova para curtir. 
- Mas então. Quem são as gatinhas morena e a ruiva? Da nossa sala?
Phill passa as mãos para bagunçar o cabelo. Ele tem essa mania, parece que deixa as mulheres meio loucas por ele. 
- São de outra faculdade. Dá para curtir sem se preocupar se elas vão procurar a gente amanhã. Inclusive a ruiva, Chel, está de olho em você, mas você não sai de perto dessa mesa!
Ri com a "insatisfação" do Phill. Eu curtia beber minha cerveja antes de me aproximar das meninas ou me juntar ao Phill na curtição. A garota ruiva era bonita e eu não tava fazendo nada interessante e também não tinha planos de voltar cedo para casa. 
- Estava ouvindo as novidades pelos colegas - respondi ao Phill enquanto ele me olhava com aquele ar que eu conhecia bem, de quem queria saber o que eu tinha ouvido por aí - tem novata na classe. Veio daquele colégio de freiras.
Phill conhecia meus hábitos de ficar em silêncio em algum canto das confraternizações para ouvir as novidades. Era assim que a gente se inteirava quando tinha novato, se alguém saiu, essas coisas. Ele não tinha muita paciência para ficar ouvindo e eu nem sempre estava afim de começar a conversar sobre a festa com uma garota só para beijar ela depois.
- Seremos agraciados com uma garota nova finalmente?
- Como se ano passado não tivemos um monte de novatas bonitas né? - eu ri dele. Pelo visto, meninas novas nunca são demais.

Ao longe vi as duas garotas voltando, cada uma com uma lata de bebida na mão. A morena se aproximou de Phill e cochichou algo em seu ouvido. Nem precisei ouvir para saber do que se tratava. Uma rápida troca de olhares e eu já sabia. 
Phill foi para algum canto da festa com a garota morena. Chel se aproximou de mim. 
- Então gatinho? 
Me aproximei dela e fomos a algum lugar mais isolado. Talvez não tão isolado, já que outros casais fizeram o mesmo. Encostei ela na parede e me aproximei, beijando aos poucos seu pescoço. 
Ela me puxou pela cintura e seus lábios buscaram os meus. O beijo dela tinha gosto de cerveja misturada com tequila. Apertei levemente minha perna contra o corpo dela para observar sua reação. Ela me agarrou com mais força e me beijava com mais vontade. 

Após um tempo na festa, encontramos Phill e a garota morena e fomos para a segunda parte da noite. Phill já tinha um carro, e, como ele só fingia beber as cervejas, ele costumava dirigir na volta. Tanto para casa quanto para o motel. Hoje, definitivamente seria para o motel. 


quarta-feira, 14 de julho de 2021

Yuki - antes das aulas começarem

As aulas da faculdade já começam amanhã... Nossa, fazia tanto tempo que não me empolgava com um início de ano letivo. Será que vou ter que me apresentar na frente de todo mundo? Será que essas meias realmente vão tampar toda minha perna? Será que essa blusa branca não vai ficar muito transparente? 
São tantas perguntas que rodeiam minha mente.... Esses 18 anos presa dentro desse internato me fizeram ter uma visão tão, sei lá, fraca a respeito do mundo lá de fora. Não tem nada para fazer nesse colégio. É uma construção muito grande, fria, sem acesso aos computadores, livros ou qualquer coisa do meio exterior. Ok, temos livros na biblioteca, mas nenhum deles é interessante o suficiente que valha a pena a leitura. Só não sou uma completa ET porque algumas vezes nós, internas, fazemos umas excursões com as Irmãs para compra de comida, produtos de limpeza, higiene e roupas. 
Meu maior contato com o exterior é com a Midori, minha única amiga desse colégio de freiras. Ela é de uma família tradicional japonesa, não sei porque os pais resolveram colocar ela aqui. Aliás, foi ela quem me deu o apelido de Yuki. Ela dizia que não conseguia pronunciar o meu nome e como eu sou "muito branca", de acordo com ela, então eu sou a Yuki, que é neve. 
Enfim, Midori voltava para a casa dos pais nos feriados, o que me deixava com muito tempo para fazer absolutamente nada. A sorte é que ela sempre trazia novidades com ela a cada saída e encontro com a família. Ela me trouxe um celular smartphone de uma das suas irmãs mais velhas, assim podíamos continuar conversando quando ela estivesse de férias e longe do colégio. Ela trazia mangás para ler. Com Midori que eu aprendi que no Japão, diferente daqui, as histórias são publicadas voltadas para um público específico (crianças, meninas, meninos, mulheres e homens). Aqui as histórias são classificadas em ficção, fantasia, romance.... 
Alguns mangás eram tão velhos que as páginas estavam amareladas e descolando. Eu e Midori gostávamos de ler juntas as histórias que ela trazia, mesmo que a gente tivesse lido 10 vezes sem nunca saber como termina. 
A gente ficava se derretendo pelos personagens bidimensionais daqueles mangás. Midori ficava brincando comigo porque meus personagens favoritos sempre eram os mais misteriosos ou os altos de cabelos e olhos pretos. E os mais gentis. Ela gostava mais dos que eram "mais espertos", os populares e os loiros. Ela sempre dizia "de cabelos pretos já basta eu e toda minha família Yuki. Japoneses não sabem chegar em nenhuma garota". Eu nunca entendi o que ela queria dizer com isso.

Ah, mas você deve estar se perguntando "Mas Yuki, qual o problema de você começar o novo ano letivo e porque é diferente?"
Bom, porque.... Como posso dizer. A faculdade ofereceu uma bolsa de estudos para as internas com as melhores notas. E eu fui uma das alunas. O que é ótimo, porque finalmente poderei viver um pouco longe dessas irmãs. Vou poder ter um quarto com banheiro e cozinha no dormitório na faculdade só meu, sem dividir com outras 10 meninas, sendo 8 que não vão com minha cara. O lado ruim é que a Midori não vai fazer as mesmas matérias que eu, então não vou poder encontrá-la na mesma sala de aula.  Mas ainda nos encontraremos nos feriados e no período após as aulas. E posso recebê-la no meu quarto!! Estou bem empolgada quanto a isso. 

Como a vaga para a faculdade foi bem repentina, estou terminando de fazer minha mala (quem mora a vida inteira no colégio de freiras não tem muito o que guardar, até porque nem temos exatamente um armário para chamar de "meu") e amanhã cedo que vou para a faculdade, com mala e tudo. A madre superiora quem irá me levar e já avisou para eu ir com o uniforme de uma vez, para não atrasar. Como se eu fosse perder a oportunidade de usar o uniforme bonitinho ao invés de usar esse nosso sem graça. O novo uniforme até lembra um pouco os uniformes que eu tanto vi nos mangás shoujo que a Midori sempre trás para a gente ler. 

Bom, minha nova vida começa amanhã. Será que finalmente vou conhecer alguém interessante? Talvez um garoto alto de cabelos pretos, com quem vou poder conversar? Ou quem sabe tenha na minha sala algum menino loiro, assim Midori poderia gostar de alguém também...
Bom, amanhã eu descubro