São tantas perguntas que rodeiam minha mente.... Esses 18 anos presa dentro desse internato me fizeram ter uma visão tão, sei lá, fraca a respeito do mundo lá de fora. Não tem nada para fazer nesse colégio. É uma construção muito grande, fria, sem acesso aos computadores, livros ou qualquer coisa do meio exterior. Ok, temos livros na biblioteca, mas nenhum deles é interessante o suficiente que valha a pena a leitura. Só não sou uma completa ET porque algumas vezes nós, internas, fazemos umas excursões com as Irmãs para compra de comida, produtos de limpeza, higiene e roupas.
Meu maior contato com o exterior é com a Midori, minha única amiga desse colégio de freiras. Ela é de uma família tradicional japonesa, não sei porque os pais resolveram colocar ela aqui. Aliás, foi ela quem me deu o apelido de Yuki. Ela dizia que não conseguia pronunciar o meu nome e como eu sou "muito branca", de acordo com ela, então eu sou a Yuki, que é neve.
Enfim, Midori voltava para a casa dos pais nos feriados, o que me deixava com muito tempo para fazer absolutamente nada. A sorte é que ela sempre trazia novidades com ela a cada saída e encontro com a família. Ela me trouxe um celular smartphone de uma das suas irmãs mais velhas, assim podíamos continuar conversando quando ela estivesse de férias e longe do colégio. Ela trazia mangás para ler. Com Midori que eu aprendi que no Japão, diferente daqui, as histórias são publicadas voltadas para um público específico (crianças, meninas, meninos, mulheres e homens). Aqui as histórias são classificadas em ficção, fantasia, romance....
Alguns mangás eram tão velhos que as páginas estavam amareladas e descolando. Eu e Midori gostávamos de ler juntas as histórias que ela trazia, mesmo que a gente tivesse lido 10 vezes sem nunca saber como termina.
A gente ficava se derretendo pelos personagens bidimensionais daqueles mangás. Midori ficava brincando comigo porque meus personagens favoritos sempre eram os mais misteriosos ou os altos de cabelos e olhos pretos. E os mais gentis. Ela gostava mais dos que eram "mais espertos", os populares e os loiros. Ela sempre dizia "de cabelos pretos já basta eu e toda minha família Yuki. Japoneses não sabem chegar em nenhuma garota". Eu nunca entendi o que ela queria dizer com isso.
Ah, mas você deve estar se perguntando "Mas Yuki, qual o problema de você começar o novo ano letivo e porque é diferente?"
Bom, porque.... Como posso dizer. A faculdade ofereceu uma bolsa de estudos para as internas com as melhores notas. E eu fui uma das alunas. O que é ótimo, porque finalmente poderei viver um pouco longe dessas irmãs. Vou poder ter um quarto com banheiro e cozinha no dormitório na faculdade só meu, sem dividir com outras 10 meninas, sendo 8 que não vão com minha cara. O lado ruim é que a Midori não vai fazer as mesmas matérias que eu, então não vou poder encontrá-la na mesma sala de aula. Mas ainda nos encontraremos nos feriados e no período após as aulas. E posso recebê-la no meu quarto!! Estou bem empolgada quanto a isso.
Como a vaga para a faculdade foi bem repentina, estou terminando de fazer minha mala (quem mora a vida inteira no colégio de freiras não tem muito o que guardar, até porque nem temos exatamente um armário para chamar de "meu") e amanhã cedo que vou para a faculdade, com mala e tudo. A madre superiora quem irá me levar e já avisou para eu ir com o uniforme de uma vez, para não atrasar. Como se eu fosse perder a oportunidade de usar o uniforme bonitinho ao invés de usar esse nosso sem graça. O novo uniforme até lembra um pouco os uniformes que eu tanto vi nos mangás shoujo que a Midori sempre trás para a gente ler.
Bom, minha nova vida começa amanhã. Será que finalmente vou conhecer alguém interessante? Talvez um garoto alto de cabelos pretos, com quem vou poder conversar? Ou quem sabe tenha na minha sala algum menino loiro, assim Midori poderia gostar de alguém também...
Bom, amanhã eu descubro
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