quarta-feira, 21 de julho de 2021

Ray - primeiro dia de aula

Acordei na minha cama com a festa do dia anterior ainda em minha cabeça. O gosto da cerveja, da tequila e da garota Chel estavam em minha boca, bem como seu cheiro ainda estava impregnado no meu nariz. Há tempos não me divertia tanto com uma garota. Uma pena (ou será que eu diria melhor "alívio"?) que tanto ela quanto eu sabíamos que nosso encontro não passou e nunca vai passar somente de uma noite. 
Aparentemente Phill não teve a mesma sorte que eu, pois de manhã cedo ele já estava buzinando o carro na porta da minha casa. Ele só levanta cedo ou quando não dorme (o que é comum) ou quando dorme mais cedo do que o que era esperado (o que é muuuito difícil de acontecer). E se ele não dorme, o humor dele é definitivamente melhor, o que claramente não era o caso de hoje.
- Ei Phill - disse entrando no carro - que pegou ontem entre você e a morena que vc tá aí mordido de raiva?
- Ah Ray, não enche não! 
- Era a primeira vez dela? - perguntei, já ouvindo a resposta e o xingo nos ouvidos.
Phill murmurou alguma coisa inaudível ao meu lado. Ele parou no sinal vermelho, olhou para mim com aquela cara de inconformado que eu reconheceria a quilômetros de distância, enquanto colocava o carro no ponto morto
- Era. Na real não teve né? Que ela achou quando eu chamei ela para ir num lugar mais legal? Que a gente ia no parque de diversões?
Eu ri. Phill ficava nervoso com situações assim. Ele olhou para mim bem puto de raiva da minha aparente diversão com sua situação. 
- Ei cara, calma. Tô rindo porque não é a primeira vez que eu ou você passamos por uma dessas. Você sabe como são as garotas. A maioria não quer perder a virgindade com um cara qualquer, numa noite de festa.
- Acha que eu não sei? - Ele passou a primeira marcha com raiva enquanto arrancava o carro - não é a responsabilidade que eu quero ficar carregando por aí. O foda é que eu achei que ela tinha entendido minhas intenções e pelo visto, ela não entendeu, nem quando a gente entrou na porcaria do quarto do motel.
Eu entendia a frustração do Phill. Não é fácil você chegar na menina, querer só transar e no fim elas darem para trás. Mas o que a gente pode fazer? Forçar elas? Aí não é legal, nada legal. Ainda mais se a gente quer levar uma menina virgem para a cama. Tem que ser duplamente mais cauteloso, porque ou elas não sabem muito o que fazer, o que costuma ser interessante, ou elas podem desistir no meio de tudo. 
- Olha pelo lado bom da coisa Phill - eu disse - pelo menos a chance da gente rever as meninas é maior, já que você não foi um babaca com ela igual a maioria dos caras do colégio. 
Phill expirou e o humor foi mudando. Esse tipo de situação acontece e a gente não se aborrecia por tanto tempo. 

Phill chegou na faculdade e nós já estávamos empolgados com o início do semestre. A gente sempre passava pelo campus nas horas livres do terceiro ano para poder conhecer o ambiente e o pessoal, lógico. Mas o campus não deixava de impressionar, mesmo que fosse um pouco velho. A avenida principal era completamente arborizada e as ruas se ramificavam a partir da avenida, levando aos prédios da universidade. Ao fundo da avenida ficava uma enorme praça com restaurante, ponto de ônibus, lanchonete, estacionamento para bicicletas e um grande prédio, que eram os dormitórios. Os dormitórios eram reservados só para os bolsistas ou alunos de fora da cidade ou estado, mas eram abertos para visitantes. Então se a gente conhecesse alguém de lá, era só entrar junto da pessoa que era de boas. 
Cada prédio da universidade tinha sua biblioteca, xerox, laboratórios e suas particularidades. Todos os prédios tinham um jardim bem cuidado na frente, então a maioria dos alunos ficava matando o tempo no gramado ou ficavam esperado as aulas começarem ali. 
Nesses dois primeiros anos de facul a gente faria as matérias de ciclo básico com todos alunos, só nos 2 anos restantes que a gente escolher o curso que quer fazer e pega as matérias específicas. Eu prefiro desse jeito, assim a gente conhece melhor cada curso antes de fazer bobagem. Já o Phill acha perda de tempo. Bom, vantagens de se saber o que você quer desde o início né? 

Enquanto eu e Phill nos encaminhamos com os demais colegas para o elevador do prédio, vimos uma menina oriental puxando outra garota pelas mãos, dormitório afora. As duas deviam estar desesperadas para chegar nas aulas. 
- Ei, Phill - cutuquei-o, chamando sua atenção - de qual curso você acha que aquelas duas ali são?
Phill olhou as duas meninas com as mãos apoiadas nos joelhos ao longe, depois da corrida. 
- Sei lá Ray. Elas estão na porta do dormitório, capaz da gente trombar com elas pelo campus algumas vezes. 
Phill observou novamente com mais atenção as duas meninas, levantou uma sobrancelha e entrou no elevador, que ja havia chegado. 
Nós entramos na sala 707 e uma das meninas da sala, que estava na festa do dia anterior, exclamou
- Phill!! Ray!! Achamos que não viriam hoje! Vocês saíram bem acompanhados da festa de ontem, estou surpresa que estão aqui antes do horário.
- Olá Emma, como vai? - Phill e eu a cumprimentamos. Emma era caloura como nós, mas assim como o restante da classe, nos conhecemos no grupo de calouros do curso. Era uma garota extremamente animada, ruiva e de cabelos curtinhos. Liberdade parecia ser uma palavra adequada para descrevê-la. 
- Achamos que vocês também iam ficar a toa no primeiro horário - Disse Emma.
- Eu sabia que essa semana não tinha aula de Morfologia no primeiro horário. - Disse à Emma, sentando em cima de uma das carteiras - As aulas só começam semana que vem. Por isso eu e Phill viemos só para a aula de agora. 
- Ahh, tão injusto! Como você sabia disso e a gente não? 
Phill e eu rimos da insatisfação da Emma
- Ei ei, estamos planejando uma festa com os calouros dos cursos das exatas - Emma disse.
Deu para ver a animação e o sorriso do Phill. Já disse que a gente (ele muito mais do que eu) ama festas? 
- Já tem data Emma? - perguntou Phill
- Se tudo der certo, no fim da semana. Os bolsistas estão vendo se conseguem reservar o espaço conjunto do dormitório para a festa.
- O dormitório tem espaço conjunto é? - perguntei
- Sim! Apesar do dormitório ser separado por sexo, tem um espaço de convivência na parte de trás. Geralmente só quem usa o dormitório pode acessar, mas acaba que fica aberto para todos os estudantes. Só para usar para festa que é mais burocrático.
- Opa, tô dentro - Phill disse animado
- Eu também, só avisa quando tiver a certeza Emma.

Enquanto conversávamos, os demais colegas foram entrando e ocupando as carteiras da sala. Vantagens da faculdade é poder sentar onde quiser, chegar na hora que der, usar a roupa que bem entender. Nada daqueles uniformes ridículos de colégio. E a melhor parte, essa foi dita pelo meu bom amigo Phill e eu concordo, dá para a gente conhecer melhor do corpo das meninas. Nada daquelas roupas horrorosas escondendo as curvas delas. Tem roupa que permite a gente viajar bem. 
Chegou então uma garota muito branca com uma cara de perdida. Ela olhou pela sala e sentou na primeira carteira. Deve ser bem nerd. Phill então me cutucou.
- Não é a garota que estava com aquela menina mais cedo?
- Quem? - perguntei, sem prestar muita atenção no que Emma dizia
- Aquelas duas meninas paradas na porta do dormitório - Phill disse um pouco impaciente - a gente viu elas quando chegamos perto do prédio. 
Phill sorriu. Eu sabia que ele estava pensando no mesmo que eu. Nem precisamos esperar para saber sobre as duas meninas. Uma delas é colega nossa. Ou ela ou a outra ou ambas são do dormitório.
- Emma - chamei a atenção dela - acho que aquela menina ali é do dormitório.
Os olhos da Emma se iluminaram.
- Ótimo, depois vou perguntar se ela sabe como a gente pode fazer a festa lá no espaço.
Emma saltitou para sua carteira e descobri o motivo. Nosso professor tinha chegado. Logo nos acomodamos em nossas carteiras e nos preparamos para o início da faculdade
- Muito bem alunos, bom dia. Eu dou a matéria que a maioria dos alunos gosta tanto que faz duas vezes - aquela tensão na sala se estendeu -  vamos começar a aprender sobre bioquímica. 

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