segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Registros

Luis procura numa prateleira algo. Ele encontra um livro que está encadernado com uma grossa capa marrom. Ele o entrega a Peter.
-Aqui estão as cópias de todas as listas da turma B. Aí tem as listas desde 1980 até os dias de hoje. As pessoas com um “X” no nome são as pessoas que morreram no decorrer do ano.
Peter senta à mesa e Miki senta ao seu lado. Ele abre o livro, e percebe q na verdade é uma pasta. Todas as folhas estão presas como num fichário. A primeira folha é possui alguns “x”
-Vá à lista do ano de 2003. Está vendo o nome no fim da página, abaixo da lista de chamada?
Lá havia um nome. Luara.
-Sim.
-Esse era o nome da pessoa morta daquele ano.
-Então 7 pessoas morreram no ano de 2003? Poucas pessoas morreram, não é?
-Foi porque a contramedida de ignorar a existência de alguém funcionou. Depois que ela foi implementada, o ciclo de mortes foi interrompido. Entretanto, logo após o segundo trimestre, o estudante cuja existência foi ignorada começou a revogar seu direito. Mentalmente abalado pelo isolamento, ele exigiu que sua existência fosse reconhecida pelos outros estudantes. Então o ciclo de mortes se iniciou.
-O que aconteceu depois?
-Ele cometeu suicídio no fim do mês. Talvez ele seria a vítima daquele mês. A pessoa morta do ano de 2003 foi Luara. Ela foi uma estudante da turma B no ano de 2000. Entretanto, entre abril e junho de 2003 esse não era o caso.
-“Não era o caso”?
-Sim. Se me lembro bem, o nome dela estava na lista de chamada de 2003. Mas não na lista de 2000. Ele havia desaparecido.
-Tanto o nome quanto o “x”?
-Sim. Quando o fenômeno manifesta, os registros deixam de ser confiáveis.
-As memórias dos humanos também são alteradas, certo?
-Sim.  – disse Luis, mexendo num livro em outra estante. – por fim, no fim do ano, quando a pessoa morta desaparece após a graduação, os registros voltam ao normal, mostrando a identidade da pessoa morta. Além disso, as memórias relacionadas a pessoa morta também desaparece. Tudo desaparece – ele termina, puxando uma cadeira e senta nela.
-Os registros e as memórias voltam ao normal. – repete Peter.
-Não entendo a lógica desse fenômeno. Já desisti de tentar compreende-lo. Somente uma contramedida é eficiente para impedir que o ciclo comece. Essa medida é a de negar a existência de um estudante.
-Qual é a taxa de eficiência dela?
-Eu diria que 50%. Há anos que ela funcione, e há anos que ela falha. Há anos que se descobre o motivo do fracasso, mas alguns não.
A luz que vem da janela está iluminando boa parte da mesa. A sombra de Peter e Miki é projetada sobre a mesa, e a de Luis, na parede.
-Então, ignorar a existência de dois estudantes tornará a medida mais eficiente?
-Não sei dizer. Foram raras as vezes que o ciclo de mortes foi interrompido no meio do ano.
-É mesmo? – Peter parecia decepcionado.
-Júlia não foi a professora responsável pela turma B em 2003? – perguntou Miki, olhando a lista de chamada.
-É verdade – disse Peter, espantado.
-Ela já passou por muitos problemas. Força-la a assumir a turma B por mais um ano...
O sinal tocou. Os dois se despediram de Luis e saíram da biblioteca.
-Isso é tudo por hoje.
-Tenho mais uma pergunta – disse Peter – no ano de 1990, 15 anos atrás, a maldição de manifestou na turma B?
-1990? Foi o 4º ano que eu era bibliotecário. Sim, a turma foi vítima da maldição
-Ah, como imaginei – disse Peter.
-Esse foi o ano que Júlia estudo na turma. Por acaso foi o ano da morte de Bárbara?
-Sim. Ela veio realizar o parto aqui e ficar com a família.

-Então ela morreu nessa cidade. Compreendo.

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