Peter está no andar de baixo da loja de bonecas, conversando
com Miki. Ela está ajoelhada, observando a boneca que está dentro do caixão, a
mesma boneca que Peter acha semelhante a Miki.
-Sei – disse ela - então ele foi colega de classe da sua
tia. Se eu conseguir descobrir um jeito de conversar com o Victor, Miki, você
gostaria de ir comigo?
Ela balança a cabeça, silenciosamente, como um não. Ela
continua observando a boneca.
-Você serviu de modelo para essa boneca? Quando nos
encontramos aqui pela primeira vez, você disse que ela era sua outra metade.
-Esta boneca – começou Miki – é baseada na filha que Kimiko
teve 12 ou 13 anos atrás.
-Você teve uma irmã? – perguntou ele espantado.
-Essa filha – disse a garota – nasceu prematura e morreu
após o nascimento. Essa boneca é baseada na filha que ela nunca viu crescer
Miki arruma os cabelos da boneca por um tempo, levanta a
franja e olha os olhos da boneca.
-Você tem fotos com sua mãe? – perguntou ela – você disse
que deveria ter fotos na sua casa, já que esse foi o lugar onde ela cresceu.
Você encontrou a foto que aparece a pessoa morta?
-Ainda não encontrei as fotos, mas estou procurando.
-Caso você encontre, poderia me mostrá-las?
-Claro, não há problemas.
Miki pega um pedaço de papel, escreve alguma coisa e o
entrega a Peter.
-Eu vou viajar essa semana para ficar com os meus pais.
Toma, esse é o meu número de celular. Me ligue caso ocorra alguma emergência.
Peter pega o papel e exclama:
-Você tem um telefone celular? Eu pensava que você odiava
esse tipo de coisa.
-Eu odeio. É perturbador estar o tempo todo conectado com os
outros através das ondas eletromagnéticas. Eu não o carrego o tempo todo, mas
minha mãe insiste. Ela diz que é para minha própria segurança.
-Entendi.
-Entendi.
Eles ficam em silêncio um pouco e então Miki pergunta:
-A propósito, você achava que era o morto. Tirou suas dúvidas?
-A propósito, você achava que era o morto. Tirou suas dúvidas?
-Sim – respondeu ele, olhando para o lado.
Ela fica séria por um instante e sai correndo, desaparecendo
atrás da cortina. Ele vai atrás dela e se pergunta o que há ali.
-Aqui – diz ela – é onde guardamos as bonecas novas.
Ele se aproxima de uma caixa em pé no formato de caixão.
Miki está dentro dele. Ele se aproxima cautelosamente e ela abre os olhos. Ele fita
com medo o seu olho que ela sempre mantém coberto.
-Não se preocupe. Você não está morto. Peter, você não está
morto.
Ela levanta, coloca o tapa olho novamente sobre seu olho
direito e diz:
-Quando você tiver as fotos, me avise.
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