-Era sua prima, Yuki, não era? – perguntou Peter – no dia
que nos conhecemos no hospital você estava levando uma boneca para a sua prima,
mas era no dia que ela tinha morrido, não era?
-Bom, é meio complicado isso.
-Você pode me contar? – pergunta Peter.
-O nome verdadeiro da minha mãe é Kirika. O nome da mãe de
Yuki é Natsumi. São de origem japonesa e a família manteve a tradição de manter
nomes japoneses na família. Kirika e Natsumi são gêmeas. Elas cresceram juntas,
se casaram e constituíram família. Natsumi teve uma filha.
-Sua prima, Yuki – completou Peter.
-E ela teve outra filha também. Natsumi teve duas meninas
gêmeas. Um ano mais tarde, Kirika também engravidou. Porém, o bebê não nasceu.
-Sim, você tinha falado sobre isso – disse Peter.
-Porém, por causa de um aborto expontaneo, ela nunca mais
pôde ter filhos. Isso a deixou muito triste e ela começou a se deprimir. Por
outro lado, a família de Yuki estava com problemas financeiros e ficaria
complicado criar duas meninas. E eles ainda estavam tentando acalmar Kirika,
pelo acontecimento.
-então quer dizer...
-Eles me deram à Kirika, como uma filha adotiva. Eu tinha
apenas 2 anos. Acho que eles me deram por causa de nossos nomes.
-Nomes?
-Bom, se Yuki tivesse sido entregue à Kirika, seu nome seria
Yuki Yuki. Isso seria algo engraçado. Então eles me entregaram e eu fui criada
como filha única de kirika. Eu descobri a verdade quando estava na quinta
série. Minha avó disse por engano sobre o segredo, e minha mãe ficou muito sem
graça e atrapalhada. Ela queria encobrir a verdade, talvez a vida inteira. Ela
me ama mais do que minha outra família, mas eu ainda sou uma filha substituta.
Peter se lembrou de algo que Miki disse um dia. Sou apenas uma boneca para ela.
-Apesar de tudo, ela sempre está trancada fazendo bonecas.
Porque ela não para de pensar na filha que ela não teve.
-E o que você pensou quando soube da verdade? – perguntou
Peter.
-Eu queria ver minha mãe e meu pai verdadeiros – disse Miki
sorrindo – eu disse isso à kirika. Ela ficou chateada no inicio, e depois ficou
brava. Ela não permitiu que eu conhecesse minha outra mãe. Mas, eu e Yuki
sempre nos encontrávamos em segredo. Ela ia na minha casa sempre que minha mãe
não estava e nós saíamos para passear juntas. Ela sabia que nós éramos gêmeas. Ela
adorava ir na minha casa porque lá é cheio de bonecas. Um dia perguntei o que
ela queria de aniversário e ela respondeu: quero
aquela boneca. E eu sabia de qual boneca ela estava falando. Mas então, no
inicio desse ano ela ficou doente. Ela precisava de um transplante de medula ou
rim. Eu era compatível, mas por ser muito jovem, precisaria de autorização da
minha mãe. Porém, ela não resistiu.
-Por isso você foi entregar a boneca.
-na verdade, eu iria entregar a boneca porque ela tinha
feito a cirurgia e tinha sido um sucesso. Foi um presente de comemoração. Porém,
Yuki é minha irmã, e ela está incluída na geração afetada pela maldição de
nossa classe.
-Então foi por isso que você tinha me dito que já tinha
começado.
-Eu na verdade não queria acreditar que tinha perdido minha
irmã para a maldição. É por isso que a chamava de prima.
-Sua irmã morreu em abril, e eu só cheguei em maio. Isso
significa que a maldição começou antes de eu chegar na escola. Quer dizer que
já tinha o aluno extra. É por isso que você tinha certeza que eu não estava
morto?
-Sim. Mas também por outro motivo – ela tira o tapa olho
novamente – esse olho de boneca. Eu já te disse que ele vê coisas que não
deveriam ser vistas. Eu vejo uma cor que nunca vi com meu olho esquerdo. É a
cor da morte. Eu a vejo em todas as pessoas que morrerão em breve. A primeira
vez foi no funeral de um parente. Eu pude ver uma cor muito linda nele, e eu
via a cor pelo olho que minha mãe tinha me dado. Então eu pude notar que era a
cor da morte. A cor é mais forte nas pessoas mortas, e mais tênue em pessoas
com ferimentos ou doenças. Mas não é uma
premonição. Pessoas que morrem de acidente súbito não possuem essa cor antes de
morrer. Eu nunca falei isso para Yuki, e depois do ocorrido, decidi manter o
olho coberto. É também por isso que queria ver a foto de formatura de sua mãe.
-Você queria ver a cor na foto de Yuki?
-Sim. Foi a primeira vez que consegui ver a cor da morte em
uma foto. E também não vejo a cor da morte em você. Por isso tenho certeza que
você não é o aluno morto.
-E sabe que não é você pelo mesmo motivo?
Ela afirma positivamente com a cabeça.
-Isso significa que você sabe quem é o aluno extra?
-Eu uso o tapa olho na escola. – respondeu Miki.
-Você escreveu na sua mesa “quem está morto”.
-Na época, mesmo que soubesse, não adiantaria nada.
-Mas e agora? A pessoa extra está aqui nessa casa?
Um trovão faz um barulho do lado de fora da casa. A chuva
aperta.
Miki afirma que sim.
-Quem é o extra? Quem é?
-É...
Batidas violentas na porta do quarto de Miki obrigam os dois
a olharem para a direção da porta.
-Peter! – Miguel entra desesperado pela porta – acho que eu
fiz algo terrível!
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