quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Miki e Yuki

-Era sua prima, Yuki, não era? – perguntou Peter – no dia que nos conhecemos no hospital você estava levando uma boneca para a sua prima, mas era no dia que ela tinha morrido, não era?
-Bom, é meio complicado isso.
-Você pode me contar? – pergunta Peter.
-O nome verdadeiro da minha mãe é Kirika. O nome da mãe de Yuki é Natsumi. São de origem japonesa e a família manteve a tradição de manter nomes japoneses na família. Kirika e Natsumi são gêmeas. Elas cresceram juntas, se casaram e constituíram família. Natsumi teve uma filha.
-Sua prima, Yuki – completou Peter.
-E ela teve outra filha também. Natsumi teve duas meninas gêmeas. Um ano mais tarde, Kirika também engravidou. Porém, o bebê não nasceu.
-Sim, você tinha falado sobre isso – disse Peter.
-Porém, por causa de um aborto expontaneo, ela nunca mais pôde ter filhos. Isso a deixou muito triste e ela começou a se deprimir. Por outro lado, a família de Yuki estava com problemas financeiros e ficaria complicado criar duas meninas. E eles ainda estavam tentando acalmar Kirika, pelo acontecimento.
-então quer dizer...
-Eles me deram à Kirika, como uma filha adotiva. Eu tinha apenas 2 anos. Acho que eles me deram por causa de nossos nomes.
-Nomes?
-Bom, se Yuki tivesse sido entregue à Kirika, seu nome seria Yuki Yuki. Isso seria algo engraçado. Então eles me entregaram e eu fui criada como filha única de kirika. Eu descobri a verdade quando estava na quinta série. Minha avó disse por engano sobre o segredo, e minha mãe ficou muito sem graça e atrapalhada. Ela queria encobrir a verdade, talvez a vida inteira. Ela me ama mais do que minha outra família, mas eu ainda sou uma filha substituta.
Peter se lembrou de algo que Miki disse um dia. Sou apenas uma boneca para ela.
-Apesar de tudo, ela sempre está trancada fazendo bonecas. Porque ela não para de pensar na filha que ela não teve. 
-E o que você pensou quando soube da verdade? – perguntou Peter.
-Eu queria ver minha mãe e meu pai verdadeiros – disse Miki sorrindo – eu disse isso à kirika. Ela ficou chateada no inicio, e depois ficou brava. Ela não permitiu que eu conhecesse minha outra mãe. Mas, eu e Yuki sempre nos encontrávamos em segredo. Ela ia na minha casa sempre que minha mãe não estava e nós saíamos para passear juntas. Ela sabia que nós éramos gêmeas. Ela adorava ir na minha casa porque lá é cheio de bonecas. Um dia perguntei o que ela queria de aniversário e ela respondeu: quero aquela boneca. E eu sabia de qual boneca ela estava falando. Mas então, no inicio desse ano ela ficou doente. Ela precisava de um transplante de medula ou rim. Eu era compatível, mas por ser muito jovem, precisaria de autorização da minha mãe. Porém, ela não resistiu.
-Por isso você foi entregar a boneca.
-na verdade, eu iria entregar a boneca porque ela tinha feito a cirurgia e tinha sido um sucesso. Foi um presente de comemoração. Porém, Yuki é minha irmã, e ela está incluída na geração afetada pela maldição de nossa classe.
-Então foi por isso que você tinha me dito que já tinha começado.
-Eu na verdade não queria acreditar que tinha perdido minha irmã para a maldição. É por isso que a chamava de prima.
-Sua irmã morreu em abril, e eu só cheguei em maio. Isso significa que a maldição começou antes de eu chegar na escola. Quer dizer que já tinha o aluno extra. É por isso que você tinha certeza que eu não estava morto?
-Sim. Mas também por outro motivo – ela tira o tapa olho novamente – esse olho de boneca. Eu já te disse que ele vê coisas que não deveriam ser vistas. Eu vejo uma cor que nunca vi com meu olho esquerdo. É a cor da morte. Eu a vejo em todas as pessoas que morrerão em breve. A primeira vez foi no funeral de um parente. Eu pude ver uma cor muito linda nele, e eu via a cor pelo olho que minha mãe tinha me dado. Então eu pude notar que era a cor da morte. A cor é mais forte nas pessoas mortas, e mais tênue em pessoas com ferimentos ou doenças.  Mas não é uma premonição. Pessoas que morrem de acidente súbito não possuem essa cor antes de morrer. Eu nunca falei isso para Yuki, e depois do ocorrido, decidi manter o olho coberto. É também por isso que queria ver a foto de formatura de sua mãe.
-Você queria ver a cor na foto de Yuki?
-Sim. Foi a primeira vez que consegui ver a cor da morte em uma foto. E também não vejo a cor da morte em você. Por isso tenho certeza que você não é o aluno morto.
-E sabe que não é você pelo mesmo motivo?
Ela afirma positivamente com a cabeça.
-Isso significa que você sabe quem é o aluno extra?
-Eu uso o tapa olho na escola. – respondeu Miki.
-Você escreveu na sua mesa “quem está morto”.
-Na época, mesmo que soubesse, não adiantaria nada.
-Mas e agora? A pessoa extra está aqui nessa casa?
Um trovão faz um barulho do lado de fora da casa. A chuva aperta.
Miki afirma que sim.
-Quem é o extra? Quem é?
-É...
Batidas violentas na porta do quarto de Miki obrigam os dois a olharem para a direção da porta.

-Peter! – Miguel entra desesperado pela porta – acho que eu fiz algo terrível!

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