25 de julho.
Peter liga para seu pai. Seu pai atende o telefone
reclamando do tempo, como era de se esperar.
-Não mudou nada por aqui. Sim, estão todos bem. Pai, posso
perguntar uma coisa da mamãe?
-Ela era muito linda
– começou o pai – e tinha um ótimo gosto
para homens.
-Não, não é isso pai. Você chegou a ver alguma foto escolar
dela?
-Foto? A foto
sobrenatural – o pai deixou escapar – tenho
certeza que eu vi alguma foto dela durante nosso noivado.
-Você viu a foto de graduação dela?
-Não, só ouvi falar.
Sua mãe não gostava dela, ela dizia que era “sinistra”. Deve estar na antiga
casa.
-Antiga casa? Aqui?
-Acho que sim. Escuta,
está acontecendo alguma coisa?
-Não, só estou procurando alguma coisa para me distrair.
Peter desliga o telefone e vai tomar seu café. O telefone da
casa toca. É Miguel.
-Vamos naquela
lanchonete que eu te falei outro dia no intervalo? Temos que discutir uma coisa
importante.
-Naquela esquina com a loja de vídeos? Hoje?
-Sim. Ou será que você
marcou um encontro com a Miki? Enfim, leve quem você marcou de encontrar para
lá, é um assunto que envolve toda a nossa turma.
Peter está parado na porta da lanchonete, vasculhando seu
interior com os olhos, procurando por Miguel ou Gabriel. É um não muito grande,
com paredes de tijolos, poucas janelas e portas com vidros azulados. Ele então
vê Bruna.
-Sente aqui – chamou Bruna.
Ela estava com usando um vestido claro e prendia os cabelos
com fitas rosas. A mesa na qual ela estava sentada estava encostada na parede,
perto da maquina de refrescos. Peter se aproxima, e vai em direção à cadeira em
frente à Bruna.
-Miguel te ligou também? – perguntou ele.
-Sim – disse ela, franzindo a testa – eu só vim por que ele
disse “é um assunto do interesse da turma inteira”. Ele me irrita – disse ela
emburrada.
Ela solta um suspiro e Peter senta na cadeira.
-Miguel me contou sobre o que aconteceu com sua mãe – disse
bruna, fitando a mesa.
-Seja bem vindo – disse uma moça que entregava uma xícara a
bruna – seu amigo? – ela pergunta à Bruna
-Sim, meu colega de sala, Peter.
-Ah, você deve ser o amigo do Gabriel. Obrigado por cuidar
do meu irmão, eu sou a irmã mais velha dele, Daniela. Prazer em conhece-lo.
-Prazer conhecer você também – respondeu ele.
-Ele fala muito de você. Qual será o pedido?
-Vejamos... – disse Peter, pegando o cardápio.
-Traga o mesmo que eu pedi – disse Bruna.
-Ah, claro – disse Daniela, virando-se.
-Bruna, o que você pediu?
-Café.
-Eu não gosto de café. Tem gosto ruim – disse Peter, fazendo
uma careta.
-Bem, o café daqui é diferente.
-Obrigada por esperar – disse Daniela, colocando a xícara na
frente de Peter.
-Confie em mim – disse Bruna.
Peter olha com desconfiança para a xícara de café, segura e
toma um gole.
-Que coisa – diz ele – é amargo e doce ao mesmo tempo. E é
muito bom. Bruna, você é a responsável pelas contramedidas, não é? Como você
foi escolhida para esse papel?
-O responsável pelas contramedidas é sempre escolhido pelo
professor. Não é algo que todos querem, pois podemos dizer que quem está nesse
cargo na sala é responsável pelas vidas dos estudantes.
-Então você foi nomeada?
-Eu me voluntariei. Eu acho que os outros estudantes não
acreditavam na maldição, ao contrário de mim. Não quero que isso continue a
existir, eu quero arrumar um jeito de pará-lo.
Ela sorri. Depois torna a ficar séria.
-Peter, por que você não voltou para Londres?
-Porque seria a mesma coisa que fugir. Também porque comecei
a pensar que poderia ser a pessoa morta.
-Eu cheguei a considerar isso – disse Bruna – entretanto –
ela estende a mão dela por sob a mesa, na direção dele – aperte a minha mão.
Ele estende a mão e aperta a mão dela. Ela sorri.
-Eu ainda tenho a sensação de que já nos conhecemos. Não, na
verdade, a sensação de que eu já apertei a sua mão em alguma ocasião.
-Verdade? – pergunta Peter.
-Sim, só não consigo me lembrar quando, mas minha mão lembra
do toque da sua.
Eles soltam as mãos e Bruna olha atentamente para a palma de
sua mão.
-Agora que você mencionou, você apertou minha mão no
hospital. Algum motivo?
-Existe um rumor que você pode sentir as mãos dos mortos
frias na primeira vez que o conhece. Mas eu duvido que seja verdade. Afinal, se
fosse tão fácil descobri-los...