segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Toque

25 de julho.
Peter liga para seu pai. Seu pai atende o telefone reclamando do tempo, como era de se esperar.
-Não mudou nada por aqui. Sim, estão todos bem. Pai, posso perguntar uma coisa da mamãe?
-Ela era muito linda – começou o pai – e tinha um ótimo gosto para homens.
-Não, não é isso pai. Você chegou a ver alguma foto escolar dela?
-Foto? A foto sobrenatural – o pai deixou escapar – tenho certeza que eu vi alguma foto dela durante nosso noivado.
-Você viu a foto de graduação dela?
-Não, só ouvi falar. Sua mãe não gostava dela, ela dizia que era “sinistra”. Deve estar na antiga casa.
-Antiga casa? Aqui?
-Acho que sim. Escuta, está acontecendo alguma coisa?
-Não, só estou procurando alguma coisa para me distrair.
Peter desliga o telefone e vai tomar seu café. O telefone da casa toca. É Miguel.
-Vamos naquela lanchonete que eu te falei outro dia no intervalo? Temos que discutir uma coisa importante.
-Naquela esquina com a loja de vídeos? Hoje?
-Sim. Ou será que você marcou um encontro com a Miki? Enfim, leve quem você marcou de encontrar para lá, é um assunto que envolve toda a nossa turma.
Peter está parado na porta da lanchonete, vasculhando seu interior com os olhos, procurando por Miguel ou Gabriel. É um não muito grande, com paredes de tijolos, poucas janelas e portas com vidros azulados. Ele então vê Bruna.
-Sente aqui – chamou Bruna.
Ela estava com usando um vestido claro e prendia os cabelos com fitas rosas. A mesa na qual ela estava sentada estava encostada na parede, perto da maquina de refrescos. Peter se aproxima, e vai em direção à cadeira em frente à Bruna.
-Miguel te ligou também? – perguntou ele.
-Sim – disse ela, franzindo a testa – eu só vim por que ele disse “é um assunto do interesse da turma inteira”. Ele me irrita – disse ela emburrada.
Ela solta um suspiro e Peter senta na cadeira.
-Miguel me contou sobre o que aconteceu com sua mãe – disse bruna, fitando a mesa.
-Seja bem vindo – disse uma moça que entregava uma xícara a bruna – seu amigo? – ela pergunta à Bruna
-Sim, meu colega de sala, Peter.
-Ah, você deve ser o amigo do Gabriel. Obrigado por cuidar do meu irmão, eu sou a irmã mais velha dele, Daniela. Prazer em conhece-lo.
-Prazer conhecer você também – respondeu ele.
-Ele fala muito de você. Qual será o pedido?
-Vejamos... – disse Peter, pegando o cardápio.
-Traga o mesmo que eu pedi – disse Bruna.
-Ah, claro – disse Daniela, virando-se.
-Bruna, o que você pediu?
-Café.
-Eu não gosto de café. Tem gosto ruim – disse Peter, fazendo uma careta.
-Bem, o café daqui é diferente.
-Obrigada por esperar – disse Daniela, colocando a xícara na frente de Peter.
-Confie em mim – disse Bruna.
Peter olha com desconfiança para a xícara de café, segura e toma um gole.
-Que coisa – diz ele – é amargo e doce ao mesmo tempo. E é muito bom. Bruna, você é a responsável pelas contramedidas, não é? Como você foi escolhida para esse papel?
-O responsável pelas contramedidas é sempre escolhido pelo professor. Não é algo que todos querem, pois podemos dizer que quem está nesse cargo na sala é responsável pelas vidas dos estudantes.
-Então você foi nomeada?
-Eu me voluntariei. Eu acho que os outros estudantes não acreditavam na maldição, ao contrário de mim. Não quero que isso continue a existir, eu quero arrumar um jeito de pará-lo.
Ela sorri. Depois torna a ficar séria.
-Peter, por que você não voltou para Londres?
-Porque seria a mesma coisa que fugir. Também porque comecei a pensar que poderia ser a pessoa morta.
-Eu cheguei a considerar isso – disse Bruna – entretanto – ela estende a mão dela por sob a mesa, na direção dele – aperte a minha mão.
Ele estende a mão e aperta a mão dela. Ela sorri.
-Eu ainda tenho a sensação de que já nos conhecemos. Não, na verdade, a sensação de que eu já apertei a sua mão em alguma ocasião.
-Verdade? – pergunta Peter.
-Sim, só não consigo me lembrar quando, mas minha mão lembra do toque da sua.
Eles soltam as mãos e Bruna olha atentamente para a palma de sua mão.
-Agora que você mencionou, você apertou minha mão no hospital. Algum motivo?

-Existe um rumor que você pode sentir as mãos dos mortos frias na primeira vez que o conhece. Mas eu duvido que seja verdade. Afinal, se fosse tão fácil descobri-los...

sábado, 28 de dezembro de 2013

Pesadelos

Peter está andando no corredor da sua sala. As paredes estão escuras, mas pode-se ver um tom avermelhado nelas.
Quem está morto? É a voz de Miki. Ela está parada na sua frente.
Ele se vira e vê Gabriel, Lucas e Miguel parados atrás dele.
Quem é a pessoa extra? Dessa vez é outra voz.
Ele então entra na sala. Estão todos os alunos, olhando para ele.
Quem está morto? Perguntam para ele.
Ele sai correndo da sala aflito e se depara com Miki de novo. Quem está morto...
Ele se vira de novo e encontra ele mesmo na sua frente. Quem está morto é você.
Sou eu? Impossível.
A pessoa morta não sabe que está morto, não foi isso que te contaram? Perguntou o outro Peter. no início de abril, o número de cadeiras era o suficiente, mas em maio faltou uma cadeira, já que você foi transferido para a escola. Se você pensar um pouco, nós somos o estudante extra desse ano.
O morto sou eu? AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH
Peter acorda suando e assustado. Ele respira algumas vezes, tentando se acalmar e começa a pensar.

-Todo ano – diz ele para si mesmo – a pessoa extra é alguém que faleceu. E essa maldição atinge apenas colegas e membros da família dentro de duas gerações. Mas nada acontece se você deixar a cidade. Por causa dessa maldição muitas vidas foram perdidas. Por quanto tempo eu morei aqui? – a dúvida começa corroer Peter – os familiares de duas gerações podem ser vítimas. Tia Júlia... eu nasci aqui quando minha tia estava na turma B, mas a relação dela comigo é tia e sobrinho, então acho que isso significa que são 3 gerações. É impossível, é impossível – dizia Peter a si mesmo, tentando se acalmar.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Viagem

17 de julho.
-Pode parecer meio repentino, mas nós vamos fazer uma excursão nos dias 8 ao 10 de agosto. Vocês devem planejar desde agora a participação nesse evento. Peçam permissão aos seus pais e entreguem ao final do mês o formulário preenchido  – anunciou a professora Júlia – não é algo obrigatório.
- Eu tenho uma pergunta – diz Miguel, levantando a mão, em meio a sala meio vazia.
Porém, a professora Júlia não parece ter notado ele. Ela olha para frente, os olhos fixos em alguma coisa.

-E aí, o que deveríamos fazer? Você vai nessa viagem?
-Por que nós vamos ter uma viagem justo no ano que a maldição se manifestou?
-Sei lá. Talvez seja melhor participar.
-Parece que o Miguel ouviu algo do Peter. Espero que isso possa salvar todos nós.
-Existe um templo em Wheterby?
-Sim, ele disse que uma turma que visitou o templo conseguiu parar a maldição.
-Verdade?
-Bruna também vai. E a Jacqueline, e o Tomas.
-De qualquer forma, você se juntou só porque a Bruna vai, não é?
-Aham. O Gabriel também vai, não é?
-É porque a professora Júlia vai.
-Então o Peter realmente...

-O que será que a Miki vai fazer?

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Sally's Song

É... exatamente um ano atrás eu fiz uma crítica sobre o The Nightmare Before Christmas. Acho que qualquer pessoa que acompanhe meu blog deve ter notado que eu sou "só um pouquinho" apaixonada por contos (a idéia inicial do blog era só contos e crônicas, mas acabei não conseguindo resistir) e filmes do Tim Burton. Nesse lindo dia, revivo mais um pouco a magia de Burton na minha memória, mas agora, uma música que amo muito.





Sally's Song

I sense there's something in the wind
That feels like tragedy's at hand
And though I'd like to stand by him
Can't shake this feeling that I have
The worst is just around the bend

And does he notice my feelings for him?
And will he see how much he means to me?
I think it's not to be

What will become of my dear friend?
Where will his actions leaves us then?
Although I'd like to join the crowd
In their enthusiastic cloud
Try as I may, it doesn't last

And will we ever end up together?
Oh, oh

And will we ever end up together?
No I think not, it's never to become
For I am not the one





Uma versão da Amy Lee <3 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Interrupção

Peter e Miki vão até a biblioteca onde Luís está. Peter abre a porta e entra, seguido de Miki. Bruna passa por eles e sai sem dizer uma palavra. Eles então se dirigem até o ex professor.
-Você parece estar bem – diz Luís, levantando os olhos para Peter.
-Obrigado. Luis, o que Bruna estava fazendo aqui?
-Como ela é a responsável pelas contramedidas, me pede alguns conselhos. Ela é uma garota determinada e autoconfiante, mas essa situação que ela está enfrentando é muito delicada. Mas o que os trás aqui?
-Viemos perguntar a respeito de 15 anos atrás, quando o ciclo de mortes foi interrompido.
Luis se levanta e pega o livro onde estão a lista de todos os anos da turma B e abre na página onde está a lista de 1980.
-Em todos esses 24 anos, somente no ano de 1980 que a maldição parou no meio do ano.  – diz ele, estendendo o livro aberto a Peter e Miki – tirando a morte de Bárbara, que eu não sabia, houveram somente 7 mortes naquele ano. Quando Bárbara morreu?
-Ela morreu em julho.
-Se você notar bem, o registro da ultima morte ocorreu em agosto. Ocorreram duas mortes no mesmo dia, 9 de agosto. Dia 8 de agosto foi...
-Quando eles fizeram uma excursão – completou Peter. – então as ultimas mortes ocorreram durante a excursão. Alguma coisa que vocês fizeram durante a excursão que interrompeu o ciclo de mortes?
-É o que parece. E olhe bem, no final da página, não há o nome do aluno extra, nós nunca descobrimos quem era.
-Por que o ciclo foi interrompido? – perguntou Miki.
-Eu não sei. Eu sei que os estudantes visitaram o templo de wetherby, que fica no meio do morro. O alojamento dos estudantes fica ao pé do morro.
-Então, a gente pode voltar ao templo.
-Muitos estudantes visitaram o templo novamente nos anos em que a maldição se manifestou. Porém, não funcionou.
-Então a visita foi inútil. – disse Miki.

-Talvez funcione se voltarmos na mesma época do ano, com um grupo grande de pessoas. Mas também não podemos deixar de lado a possibilidade de que a interrupção do ciclo não esteja relacionada ao templo.  Por falar nisso, conversei com a professora Júlia hoje sobre esse assunto.  Ela deve ser a professora responsável pela classe a partir de agora. Apesar de ela ter tido problemas ano passado, esse ano deverá ter outra excursão em agosto.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Lembranças

Em casa, Peter ainda não consegue tirar o assunto da maldição da turma B de sua cabeça. Ele encontra sua tia Júlia na cozinha, e lembra-se de algo importante.
-Jú, você se lembra do que aconteceu 15 anos atrás? Você fazia parte da turma B no ano que a calamidade parou – ele deu uma pausa, enquanto sua tia o fitava – você deve ter alguma ideia de como parou naquele ano. Tente se lembrar. Você disse que aconteceu algo nas férias de verão, o que aconteceu naquele dia?
Ela olhou para o chão, os olhos cheios de tristeza.
-Na época de verão, minha irmã Bárbara morreu. E eu me lembro que nós fomos acampar em Wetherby.
-Acampar? Houve um acampamento? Toda a escola? – perguntou Peter, ansioso.
-Não, foi só a nossa turma. E eu estou me referindo ao morro que tem ao norte da cidade. Na base do morro, havia um templo, eu acho. O professor recrutou alguns... desculpe, não consigo me lembrar de mais nada. Eu só lembro que algo aconteceu.
Júlia se aproxima de Peter e segura em sua blusa. Ela olha para ele com desespero, os olhos enchendo de lágrimas.
-Você está bem, Peter?
-Eu estou bem, não precisa se esforçar. Não se preocupe, eu estou bem.

Júlia abraça Peter e começa a chorar.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

No telhado

A sala da turma B da nona série se tornou inacessível por causa do acidente, então a turma foi movida para uma sala de aula vazia no andar de baixo do prédio. A professora Júlia foi eleita a professora responsável pela turma B. Porém, muitas pessoas começaram a faltar às aulas.
Peter, Miki e Miguel estão no telhado da escola, conversando.
-Não havia nada a ser feito. Não se deprima tanto, Peter – disse Miguel, tentando anima-lo – culpar-se não irá resolver a situação.
-Há pouco tempo atrás você... – começou Peter.
-Ignorar a sua existência partia meu coração. Mas agora você está a parte dos fatos, não é? Agora entende nosso motivos?
-entendo.
Parece que ignorar a existência de dois alunos não resolveu o problema. Então nós voltamos a ser alunos existentes. Pensou Peter. Agora Miki conversa com as pessoas da sala. Eu tenho um mal pressentimento sobre isso.
-E você Miki, sente-se aliviada? – perguntou Peter.
-Sei lá – respondeu ela, inexpressiva – nunca achei que essa situação fosse um fardo.
-Você realmente é muito estranha – disse Miguel, sorrindo.
 Bruna aparece com a mesma cara de brava. Ela dá uma cotovelada com força na barriga de Miguel e se aproxima de Peter.
-Vocês dois – disse ela, referindo-se a Peter e Miki – podem voltar a serem alunos existentes. Mas já vou avisando que é melhor vocês estarem preparados. Vocês são os culpados.
Peter e Miguel se assustaram com o que Bruna acaba de dizer. Miki não parece se importar.
-Espera Bruna, como assim? – Miguel perguntou.
-Isso é o que as pessoas dirão – respondeu ela – vocês serão responsabilizados pelos próximos incidentes que virão. E eu sei que minha competência será questionada.
-E qual é a sua opinião? – perguntou Miguel.
-Eu não acredito que o Peter seja o responsável, apesar do que dizem – disse Bruna, debruçada sobre o parapeito do telhado – ainda não acabou. O ciclo de mortes e meu trabalho como responsável pelas contramedidas apenas começou.
-É possível que alguns alunos se escondam nas férias de verão? – perguntou Peter.
-Tenho certeza que sim – respondeu Miguel.
-Algumas pessoas já saíram da cidade – disse Miki.
-É mesmo? – pergunta Miguel, se inclinando para frente para poder ver Miki.
-Sim – continua ela – muitas pessoas saem de Wetherby e vão passar as férias em outra cidade.
-Ahh, é tudo tão estranho – diz Miguel, olhando para frente – mas Miki, você é a mais estranha daqui. Você fala como se não ligasse muito para a sua vida.
-Falo? – pergunta Miki, desinteressada.
-Sim. Será que você não é o extra desse ano não?
Miguel disse num tom meio debochado, mas todos sentiram tensão em sua voz.
-Eu... acho que isso não é verdade – disse ela, baixando a cabeça.
Peter então se lembrou do que Miki disse alguns dias atrás, sobre ela ter certeza que não era a morta.
-Hum, nós sabemos que nem mesmo o extra sabe que está morto – disse Miguel.
-Miguel, você pode ser o aluno morto.
Miguel ficou tenso e começou a andar de um lado para o outro.
-Eu? Não fale isso nem de brincadeira. Eu não quero me gabar, mas eu lembro de todos os detalhes da minha infância.

Isso foi algo engraçado, pois Peter e Bruna riram.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Culpa

-A culpa é sua – veio a voz na cabeça de Peter.
Ao redor dele está tudo escuro. Ele não consegue enxergar as coisas com nitidez.
-A culpa é toda sua – a voz de novo.
Peter vira-se e vê o professor Tetsuo. Somente metade do professor está iluminado, de modo que Peter consegue ver que sua camisa está manchada de vermelho, e o rosto, salpicado de vermelho.
-A culpa é sua – outra voz aparece.
Peter vira-se para o outro lado e ele vê Laura. Apenas metade do seu corpo está iluminado també. Ela está com a cabeça abaixada, mas Peter consegue ver que seu pescoço está totalmente vermelho.
-Não, não é culpa minha – diz Peter, na defensiva – isso não é verdade.
-Sim Peter, é tudo culpa sua.
Ele se vira para o lado e vê Débora estendida no chão, tentando se levantar.
-Não, não é culpa minha!
Ele sente que dois braços o abraçam e ele não consegue ver quem é.
-A culpa é sua sim.
-AAAAAAAAAAAA!
Peter acorda assustado e olha uma foto de Miki que está na sua mesa, junto com seu material.

É tudo culpa minha, pensa ele,  só porque eu comecei a falar com aquela que era inexistente?

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A maldição

Luis relata o acontecimento antes de entrar no prédio da escola. A forma como Tetsuo falou com ele o deixou preocupado.
-Mesmo a polícia e a ambulância tendo chegado, o professor Tetsuo já havia parado de respirar a muito tempo. – disse Luis – o professor Tetsuo era solteiro e morava com a mãe. A polícia foi até a casa dele para fazer algumas investigações, mas eles encontraram uma cena perturbadora lá. A mãe dele já era bem velha e estava doente há algum tempo. Quando a polícia chegou lá, ela estava morta na cama, com um travesseiro sobre sua cabeça. O fenômeno da turma B, a pressão, a maldição... Acredito que isso o enlouqueceu e o fez matar a mãe. Arrependido, ele cometeu o suicídio na frente dos seus alunos.
-Acha que a atitude dele foi resultado da maldição? – perguntou Peter.
-Sim – respondeu Luis.
-Resumindo, você acha que ele foi levado a se suicidar por causa do fenômeno – concluiu Miki.
-Não vejo outra explicação.
Peter abaixa a cabeça.

-Então o ciclo de mortes não foi interrompido. Mais pessoas irão morrer.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O Quarto

O professor Tetsuo então segura a faca com as duas mãos. Seus olhos ainda estão muito arregalados. Ele murmura algumas palavras e seu rosto está brilhando com o suor. Ele aponta a faca em direção ao seu pescoço. Os alunos, sobressaltados, olham horrorizados para o professor, e tentam não prever as ações dele. O professor abaixa a mão com dificuldade, ainda falando palavras sem nexo. Uma de suas mãos solta a faca e a outra mão dá golpes no ar. A gravata dele saí do lugar e balança um pouco com o movimento. Ele torna a segurar a faca com as duas mãos e então crava com força em seu pescoço.
Ele afundou a faca um pouco mais e mexeu ela. Sangue esguichou na mesa e nos alunos que sentavam na frente. a camisa branca do professor adquire a mesma cor vermelha de seu sangue. A mochila e a mesa estão totalmente sujos também. Ele parece engasgar. Peter não consegue acreditar no que os olhos lhe mostram. O professor Tetsuo continua apertando a faca contra sua garganta e encosta no quadro. Ele afunda ainda mais a faca, de modo que ela atravessou seu pescoço. Ele parece perder as forças e retira a faca de seu pescoço. Muito sangue esguicha de sua garganta, respingando em todos os alunos, carteiras e chão. Os joelhos do professor cedem e seu corpo desaba no chão, a faca escapa-lhe das mãos e cai ao lado do corpo ensanguentado. O sangue que jorra da garganta do professor começa a espalhar pelo chão. Todos os alunos começam a gritar ao mesmo tempo, levantam-se de suas carteiras e saem da sala correndo, sujos de sangue e atordoados. Algumas meninas desabam das carteiras em estado de choque. Peter se levanta e se aproxima do corpo do professor Tetsuo, com uma mão na garganta. A mão de Peter desce e pára no peito, como se ele estivesse com dificuldades de respirar.
Luís vem correndo pelo corredor, atraído pelos gritos. Ele encontra uma aluna com o rosto coberto de sangue, encolhida no meio do corredor.
-O professor Tetsuo. Ele...
Ela não consegue falar mais nada. Luis corre e chega à sala. Todos os alunos estão do lado de fora, chorando, gritando. Ele entra na sala e manda o restante da turma sair daquela sala. A professora Júlia está parada na porta, com uma cara aterrorizada.
-Rápido Júlia. Ligue para a polícia e para o hospital.
Ela sai correndo, segurando o choro.
-Alguém ficou ferido? – pergunta o professor a Peter – você está bem?
Miki está em pé, perto de Peter. Ela não parece estar preocupada.
-Peter, vamos embora. Aparentemente, ignorar a existência de dois alunos não funcionou.
Os dois saem da sala e se deparam com Bruna consolando uma garota, com uma expressão muito dura. Ao lado dela, estão Jacque e Tomas. Os três levantam um olhar sério para os dois. Jacque e Bruna estão, particularmente, com um olhar de ódio.

-É tudo culpa sua – disse Bruna, olhando para Miki e Peter  – Miki Yuki, se você estivesse seguido as regras, ninguém teria morrido. Por causa de Peter, Miki desfez seu papel. Por você, Peter, andar com ela, a morte de Laura, foi culpa de vocês!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A decisão

13 de julho
O professor Tetsuo encontra-se com o Luís na porta da escola.
-Tetsuo! Veja como as árvores estão carregando de frutos.
-Luís, o que eu faço? Eu estou cansado.
-Tetsuo..? – Luís pareceu espantado e preocupado.
-Você deve entender, certo Luís? Eu vou deixar o restante com você – disse Tetsuo, encaminhado para o prédio da escola.
Ele anda lentamente pelo corredor, com sua mochila nas mãos. Seus alunos estão conversando um pouco enquanto ele não aparece. Ele entra na sala, mas eles não notam a presença do professor. Ele solta com força a mochila em cima da mesa, fazendo muito barulho. Os alunos silenciam e viram-se para frente.
-Bom dia, classe. Hoje venho aqui humildemente implorar pelo perdão de vocês. Vim para me desculpar a todos. Eu planejei ficar com vocês e fiz todo o possível para que vocês graduassem em março. Dei o meu melhor para que isso fosse possível.
Ele abre o zíper da mochila.
-Mas a tragédia de maio e a possibilidade de algo assim acontecer novamente... uma vez iniciada, não há como impedi-la. Não creio que a classe Será capaz de sobreviver.
Ele enfia a mão na mochila e parece procurar por algo. Peter e Miki não estão interessados no que o professor está falando.
-Entretanto, vocês terão que ser fortes para sobreviverem aos eventos que virão. Não devíamos fazer algo relacionado a isso?
Ele olha para dentro da mochila.
-Eu não sei. Não sei... não esperem que eu saiba. E eu nem irei saber. Acredito que seja inútil falar a respeito.
Ele olha novamente para dentro de sua mochila e parece ter encontrado o que procurava.
-Mas eu ainda desejo ser o professor dessa turma e não fugir do problema. Eu ainda desejo que vocês formem com sucesso, eu ainda desej...
O rosto do professor se fechou em uma careta. Um de seus olhos se fechou e o outro arregalou. Ele começou a gritar.
-AAAAAAHH
Isso atraiu a atenção de Miki e Peter. Os outros alunos da turma começaram a ficar com medo do professor. Ele tirou uma faca de cozinha enorme de dentro da mochila.

-O que acontecer a seguir, será problema de vocês – disse o professor Tetsuo.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Passado

Depois disso, Peter foi buscar alguma coisa em seu armário e Miki voltou ao clube de artes. Quando os dois estavam voltando para casa, Miki contou que encontrou com uma colega no clube de arte que havia sido da turma B no ano de 2003. Miki contou a Peter que perguntou algumas coisas para ela, pois ela escutou alguns rumores dos inexistentes, vindo do Gabriel. Ela contou que se lembrava de pouca coisa de 2003. Miki perguntou sobre Luara, mas a garota não conseguia lembra-se desse nome. Miki então pergunta do inexistente, e a garota conta o caso, de quando ele exigiu que fosse reconhecido, e depois de sua morte.
 No jantar, Júlia é a primeira a terminar. Ela começa a se levantar da mesa, mas Peter chama por ela.
-Ah, espere tia Ju. Eu gostaria de perguntar uma coisa.
Ela senta-se novamente à mesa.
-Pode perguntar, Peter. – disse ela sorrindo.
-Você disse que gostaria de ter sido estudante de artes, não é?
-Sim, eu costumava falar com minha irmã sobre essas coisas assim.
-Sua irmã, minha mãe?
-Isso mesmo. Ela era minha melhor amiga. Quando eu tinha a sua idade, eu queria entrar numa universidade de artes, porém meu pai foi contra.
-O vovô? – perguntou Peter, olhando para o avô.
-Sim, eu briguei com ele e somente Bárbara ficou do meu lado. Eu estava feliz por isso.
-Ahn, tia. No ano que você estudou na 9ª série, na turma B, foi um ano que aconteceu um desastre, certo? Eu ouvi do Luís. Você sabe que havia um aluno extra naquele ano, certo, tia.
-Sim, eu sei.
-Eu quero confirmar se 15 anos atrás, a morte de minha mãe nessa cidade foi considerada parte da maldição.
-Peter... – começou Júlia, colocando as mãos no rosto, cobrindo-o totalmente – perdoe-me Peter. Eu sinto muito.
Ela começou a chorar. A avó de Peter sentou-se ao lado do avô.
-Eu sinto muito Peter. Eu não pude fazer nada.
-Minha pobre Bárbara. – lamentou-se o avô – minha pobre Bárbara, minha pobre Júlia.
-Pare de dizer coisas assim – disse a avó – venha, vamos descansar.
-Eu não tenho certeza sobre minha irmã – começou Júlia – mas creio que o ciclo de mortes foi interrompido naquele ano.
-“Impedido”? Espera. Impedido naquele ano? Como – Peter começou a perguntar desesperado para Júlia.
-Eu não me lembro.
-Tente se lembrar, de alguma coisa, por favor.

-Bom, não tenho certeza, mas parece que aconteceu alguma coisa durante a excursão no verão.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Registros

Luis procura numa prateleira algo. Ele encontra um livro que está encadernado com uma grossa capa marrom. Ele o entrega a Peter.
-Aqui estão as cópias de todas as listas da turma B. Aí tem as listas desde 1980 até os dias de hoje. As pessoas com um “X” no nome são as pessoas que morreram no decorrer do ano.
Peter senta à mesa e Miki senta ao seu lado. Ele abre o livro, e percebe q na verdade é uma pasta. Todas as folhas estão presas como num fichário. A primeira folha é possui alguns “x”
-Vá à lista do ano de 2003. Está vendo o nome no fim da página, abaixo da lista de chamada?
Lá havia um nome. Luara.
-Sim.
-Esse era o nome da pessoa morta daquele ano.
-Então 7 pessoas morreram no ano de 2003? Poucas pessoas morreram, não é?
-Foi porque a contramedida de ignorar a existência de alguém funcionou. Depois que ela foi implementada, o ciclo de mortes foi interrompido. Entretanto, logo após o segundo trimestre, o estudante cuja existência foi ignorada começou a revogar seu direito. Mentalmente abalado pelo isolamento, ele exigiu que sua existência fosse reconhecida pelos outros estudantes. Então o ciclo de mortes se iniciou.
-O que aconteceu depois?
-Ele cometeu suicídio no fim do mês. Talvez ele seria a vítima daquele mês. A pessoa morta do ano de 2003 foi Luara. Ela foi uma estudante da turma B no ano de 2000. Entretanto, entre abril e junho de 2003 esse não era o caso.
-“Não era o caso”?
-Sim. Se me lembro bem, o nome dela estava na lista de chamada de 2003. Mas não na lista de 2000. Ele havia desaparecido.
-Tanto o nome quanto o “x”?
-Sim. Quando o fenômeno manifesta, os registros deixam de ser confiáveis.
-As memórias dos humanos também são alteradas, certo?
-Sim.  – disse Luis, mexendo num livro em outra estante. – por fim, no fim do ano, quando a pessoa morta desaparece após a graduação, os registros voltam ao normal, mostrando a identidade da pessoa morta. Além disso, as memórias relacionadas a pessoa morta também desaparece. Tudo desaparece – ele termina, puxando uma cadeira e senta nela.
-Os registros e as memórias voltam ao normal. – repete Peter.
-Não entendo a lógica desse fenômeno. Já desisti de tentar compreende-lo. Somente uma contramedida é eficiente para impedir que o ciclo comece. Essa medida é a de negar a existência de um estudante.
-Qual é a taxa de eficiência dela?
-Eu diria que 50%. Há anos que ela funcione, e há anos que ela falha. Há anos que se descobre o motivo do fracasso, mas alguns não.
A luz que vem da janela está iluminando boa parte da mesa. A sombra de Peter e Miki é projetada sobre a mesa, e a de Luis, na parede.
-Então, ignorar a existência de dois estudantes tornará a medida mais eficiente?
-Não sei dizer. Foram raras as vezes que o ciclo de mortes foi interrompido no meio do ano.
-É mesmo? – Peter parecia decepcionado.
-Júlia não foi a professora responsável pela turma B em 2003? – perguntou Miki, olhando a lista de chamada.
-É verdade – disse Peter, espantado.
-Ela já passou por muitos problemas. Força-la a assumir a turma B por mais um ano...
O sinal tocou. Os dois se despediram de Luis e saíram da biblioteca.
-Isso é tudo por hoje.
-Tenho mais uma pergunta – disse Peter – no ano de 1990, 15 anos atrás, a maldição de manifestou na turma B?
-1990? Foi o 4º ano que eu era bibliotecário. Sim, a turma foi vítima da maldição
-Ah, como imaginei – disse Peter.
-Esse foi o ano que Júlia estudo na turma. Por acaso foi o ano da morte de Bárbara?
-Sim. Ela veio realizar o parto aqui e ficar com a família.

-Então ela morreu nessa cidade. Compreendo.

sábado, 30 de novembro de 2013

O livro

Peter e Miki passaram a não frequentar todas as aulas. Eles não iriam receber faltas. Eles iam para o rio e ficavam olhando a água, Miki jogando água para frente. Na aula de educação física, os dois ficavam no telhado, conversando. Eles iam ao parquinho depois da aula, conversavam no pátio e ninguém os incomodava.
Peter e Miki foram até o clube de artes. Todos ficaram felizes com o aparecimento dela, pois estavam com saudades. Porém, Gabriel apareceu, ficou atordoado e conseguiu fazer com que todos saíssem, dizendo que havia uma emergência. Miki encontrou sua tela, coberta por um pano. Porém, a tela estava rasgada. Peter notou que a imagem da tela era muito parecida com a mãe de Miki, mas ainda assim era diferente.
Eles saíram da sala e foram andando pelo corredor. Eles cruzaram com a professora Júlia, mas ela passou reto sem olhar para os dois.
-Talvez causemos menos tensão na turma se não comparecermos na próxima aula de artes. – disse Peter, melancólico.
Depois, eles foram até a biblioteca e ficaram olhando alguns livros. Peter pegou o livro de registro de 1980 e ficou olhando a foto da turma B. Ele quase não tirava os olhos de sua mãe. Miki foi ao seu lado e perguntou que era sua mãe. Ele apontou.
-O professor responsável nesse ano era...
-A aparência dele está muito diferente – disse Miki.
-Você está se referindo ao...
-Sim, Luis. – disse ela, e depois olhou para Luis, que vinha na direção deles.
-O que vocês fazem aqui?
-Agora somos duas pessoas que não existem – respondeu Miki, levantando-se e indo na direção dele.
-Entendo. Peter, agora você compreende a gravidade da situação?
-Sim. Apesar de ser algo difícil de acreditar.
-Sua reação é compreensível. É algo estranho, mas esse fenômeno realmente existe nessa escola.
-Luis, você foi o professor responsável pela turma B no ano de 1980, certo? – perguntou Peter – foi assim que você conheceu minha mãe.
-Sim, foi.
-Não é perigoso para você não ignorar a nossa existência?
-Não possuo mais conexões com aquela classe. Pode se dizer que minha vida não está mais em risco.
-Então qual são as pessoas que tem a vida em risco? – perguntou Peter.
-Alunos da turma B, e seus parentes até o segundo grau. Além disso, eles devem estar na cidade.
-Segundo grau. Você quer dizer irmãos, pais. Se eles precisam estar na cidade, bastam que saiam daqui para que suas vidas não corram mais riscos?
-Sim, pense neles como um celular que está fora de área. Você não consegue se comunicar com a pessoa.
-Então por que você ainda está aqui?
-Nunca quis que ninguém se machucasse. Porém, eu permiti que a morte se aproximasse dessa escola. Metade de mim tinha culpa e a outra metade tinha medo. Tive medo de fugir, por isso fiquei. Se fugisse, poderia ter morrido.
-Professores também morreram?
-Somente alguns professores responsáveis e professores assistentes.
-Yuki de 25 anos atrás era menino ou menina?
-Era um menino. Ele possuía o mesmo sobrenome da cidade, “Wetherby”. O nome dele era Yuki Wetherby. Uma noite de maio, houve um incêndio na casa dele. Todos na casa morreram, seus pais e seus irmãos. Ele não deveria existir, porém foi criado pelos alunos de 25 anos atrás. É lógico, eles não quiseram fazer mal nenhum. Eu era jovem e imaturo, por isso não via mal no que foi decidido na época. Porém, o resultado foi que essa turma abriu as portas da morte.
-Você chegou a ver a foto em que Yuki aparece?
-Sim.
-Você possui a foto?
-Não. Sinceramente, aquela foto me deixou aterrorizado.
-Quando dizem que os registros da escola são alterados, o que querem dizer?

-Isso é algo estranho, mas acontece. 

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Qualquer dia desses

8 de junho
Peter e Miki vão para o telhado juntos. Ninguém olha para eles. Peter abre sua marmita uma um delicioso almoço está lá. Porém Miki tira de uma sacola uma lata e um sanduiche.
-Sua mãe não faz a sua comida?
-Só quando ela tem vontade- respondeu ela – mas para ser sincera, a comida dela não é muito gostosa.
-Você sabe cozinhar?
-Não, só esquento comida congelada.
-Eu sei cozinhar – disse Peter, sorrindo.
-É mesmo? Que inusitado.
-Eu participei do clube de economia doméstica e culinária no meu outro colégio.
-Então, quando você irá cozinhar algo para mim? – perguntou Miki, sorrindo disfarçadamente.
-Qualquer dias desses – respondeu ele – Ah sim, você não estava desenhando um dia desses? Você já está terminando?
-Quase.
-Já desenhou as asas?
-Sim. Quando eu terminar eu mostro a você. Qualquer dia desses.
-Seu hobby é desenhar? Eu prefiro observar as obras de arte. Eu gosto muito de ler os livros de arte. Tenho muitos livros na minha casa. Você já visitou algum museu?
-Não há muitos no interior.
-Então venha me visitar em Londres. Eu serei seu guia turístico. Poderemos visitar todos os museus.

-Certo, qualquer dia desses.

domingo, 24 de novembro de 2013

Sem saída

1 de maio
- Não pensei que aconteceria esse ano. Haviam carteiras em quantidade suficiente para todos os alunos no primeiro dia de aula. – lamenta Miguel.
-porém, com a chegada do aluno transferido, faltou uma carteira – disse bruna.
-desde quando a maldição pode começar um mês atrasada? –perguntou Miguel, com uma pitada de desdenho na fala.
-Este aparenta ser o caso – disse Lucas, ajeitando os óculos no rosto.
Silêncio na sala.
-Vocês dois e a Laura foram visitar ele no hospital, não foram?
-Sim – respondeu Bruna – mas não creio que seja ele. Ele disse que é a primeira vez que vive em wetherby, e ele não tem irmãos. Além disso, suas mãos não estavam frias.
-Frias? – perguntou Miguel.
-Existe uma teoria – Lucas começou a explicar a Miguel – que você pode saber quem é o morto se você apertar a mão dele na primeira vez que o conhece. A mão dele estará extremamente fria.
Bruna observa atentamente suas mãos durante toda a explicação, com uma expressão de dúvida.
-Então, isso significa que pode ser outra pessoa além dele?
-Imagino que sim – disse Lucas – ao que parece, além da própria turma, pais e irmãos estão sob o risco, mas tios e primos estão seguros.
Silêncio na sala novamente. Miguel pergunta aos dois.
-É ruim o que Peter está fazendo, não é? Mas os professores não deveriam ter tomado a atitude de ter contado a ele toda a situação? De qualquer forma, ele já falou com aquela que supostamente não deveria existir. Vocês e a Laura deveriam ter contado a ele quando foram no hospital visitá-lo.
-Aquela não era a atmosfera nem a hora ideal para tratar esse tipo de assunto. – disse Lucas, mexendo em seus óculos.
-Bem, nós podemos explicar para ele agora... – começou Miguel.
-Isso seria problemático – responde Lucas.
-Se tomarmos essa decisão de explicar tudo agora, no decorrer da conversa nós teríamos que reconhecê-la como alguém existente. Isso não seria bom. – continuou Bruna.
-Não podemos fazer isso fora da escola então? – perguntou Miguel, sofrendo um pouco.
-Teremos que pensar uma maneira de avisá-lo – disse Lucas – mas você sabe, se ninguém morrer em maio, então não há perigo.

-Então, é só esperar o mês acabar. – disse Miguel, por fim.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Turma B

Peter está deitado em sua cama, pensativo. Ele olha atentamente para a lâmpada. Seu celular começa a tocar. Ele se assusta, pega o celular rápido, mas acaba deixando-o cair. Ele pega novamente e atende o celular.
-Oi filho. Você não imagina como está o tempo aqui no Canadá.
-Ahn?
-Como assim ahn?
-Bom, se você está ligando para saber de minha saúde, ela está bem. Pai, alguma vez mamãe comentou com você sobre a época que ela estudou na escola?
-Ah, como assim? Por que a pergunta?
-Mamãe também estudou na turma B, não é? Você não se lembra dela comentando nada a respeito da escola?
-Não lembro de nada.
Peter suspira.
-Vamos, não responda tão rápido. Pense um pouco, pai.
-Bom, ela comentou algumas vezes sobre a escola, mas nada muito importante. Então quer dizer que Bárbara estudou na turma B?
Por que mesmo que eu pensei que meu pai poderia lembrar-se de alguma coisa? Perguntou Peter a si mesmo.
-Peter, qual é a sensação de ficar 2 meses em Wetherby após um ano e meio fora?
-Um ano e meio? – perguntou Peter – mas essa é a primeira vez que eu volto à cidade desde que comecei a cursar o ensino fundamental.
-Ah? Mas eu tenho certeza que...
O sinal do celular começou a ficar ruim. A ligação começou a falhar.
-Ah, você está certo, foi engano meu. Lembrei errado.
A ligação ficou péssima, chiando. Então o telefone desligou. Peter agora escuta somente um “tu” incessante.
-Pai?

Ele desliga o telefone. Peter vira-se para trás e a janela está aberta, deixando muito vento entrar. Ele se lembra da mesa de Miki e da frase escrita pela garota.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A morte

Os dois andam em silêncio por algumas ruas. Miki anda na frente. Eles passam ao lado de um parque de crianças. Miki entra no parque e segura em uma barra da altura do seu peito. Ela segura firme, empurra o corpo para cima e dá uma volta na barra com o corpo. Depois, ela faz força novamente e senta-se na barra.  Uma luz estava envolta de um monte de mosquitos.
-Por que eles decidiram ignorar a existência de duas pessoas?
-A morte de Débora e de Breno só trouxe a prova que restava para eles. “O ano que algo acontece”, sem dúvidas. Eles provavelmente pensaram que o “amuleto” não seria mais útil se você começasse a me ignorar a partir de agora. Eles deviam ter dois planos. O primeiro era voltarem a conversar com você e continuarem a me ignorar. Mas acredito que eles optaram por te tratar como inexistente. Isso também evitou que eles precisassem explicar a situação para você. De fato, tomaram uma decisão bem racional.
Peter tenta fazer o mesmo que Miki, numa barra um pouco maior. Mas ele não faz questão de prosseguir com a tentativa. Ele apenas sustenta o corpo com seus braços e volta ao chão.
-Você acha que essa solução é definitiva?
-Eles estão desesperados. Quando se está com a vida em risco, as pessoas podem tomar decisões desesperadas. E se isso puder ajudar a parar o desastre, não há motivo para eles não tentarem. Se houvesse um meio de interromper o ciclo de mortes, você não tentaria?
Peter ficou em silencio. Um vento começou a soprar.
-A morte é uma situação muito triste – disse ela.
Peter olhou para o rosto de Miki. Ele só pode ver a parte que tinha o tapa olho. O vento soprou um pouco mais forte, balançando os cabelos. A franja dela voo um pouco, mostrando o elástico que prendia o tapa olho na orelha. Sua expressão estava muito triste.
Eles saíram do parque e caminharam perto do rio da cidade por um tempo.
-obrigado – agradeceu Peter – tome cuidado no caminho de volta para casa. Afinal, nossas vidas estão em risco.
-Eu ficarei bem – disse Miki, retirando seu tapa olho – até onde eu sei, você acabou de conversar com uma pessoa inexistente.
Ela se virou para ele.
-Eu já o mostrei a você, não é?
Ele afirma com a cabeça. Olha diretamente para os olhos de Miki.
-Perdi meu olho direito aos 4 anos. Ele desenvolveu um câncer muito agressivo. Quando acordei da cirurgia, meu olho havia sido retirado. Então, como minha mãe achava que os olhos artificiais não eram bonitos, ela fez um especialmente para mim.
-Você não precisa esconder seu olho direito, Miki. Eu acho que ele tem um cor muito bonita.
Ela se virou para o rio e desceu as escadas.
-Dizem que eu quase morri durante a cirurgia. Eu não me lembro de quase nada.
-Você quer dizer de experiência quase-morte?
-A morte não é nada gentil, Peter. ela é obscura, sombria até onde a vista alcança e você se sente completamente só.
-Completamente só – repetiu Peter.
-Mas não é tão diferente assim da vida, não é? Não importa quantas pessoas conhecemos, a vida é uma experiência solitária. Eu estou só, minha mãe, Peter, Yuki... A partir de amanhã, estaremos na mesma condição.  Por isso, conte comigo, Peter.

Disse ela, estendendo a mão. Ele apertou a mão de Miki e ela saiu saltitando, subindo a escada.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Relação

Está escuro do lado de fora, o céu está nublado. Miki se levanta e senta-se em outra parte da sala, um pouco mais iluminada. Peter pega seu refresco e senta-se no chão, perto dela.
-Mas se essa era uma regra tão importante, por que não fui informado desde o início? – perguntou ele.
-Peter, você já tinha conversado comigo antes de ir nas aulas. Isso fez com que o assunto se tornasse inconveniente para a turma.
Peter lembra-se de todas as vezes que ele comentava sobre Miki com seus colegas eles agiam como se não soubesse do que ele estava falando. Tudo começou a fazer sentido.
-E a sua carteira? Por que ela é a única velha da turma?
-É assim que eles diferenciam o aluno inexistente. Faz parte de tudo.
-Na sua mesa estava escrito uma frase. “Quem será o morto?”. Foi você quem escreveu?
Miki olha para o lado por um instante.
-Sim. Fui eu. Eu tenho certeza que eu não sou a pessoa morta. Então eu pensei: “se não sou eu, quem será?”.
-Como você sabe que não está morta? Como pode ter tanta certeza? Você mesma disse que até mesmo a memória dos alunos é alterada.
-Eu sei porque...
Nesse instante, a porta da sala onde eles estão se abre.
-Miki, você está aqui? – uma voz feminina ecoou.
 A mãe de Miki, Kimiko, entrou na sala, com um lenço amarrando os cabelos.
-Esse é meu amigo, Peter. Ele que ligou.
-Desculpe incomodar – respondeu ele.
-Não é incomodo. Miki raramente trás amigos para cá. Desculpe as minhas roupas. – disse ela, retirando o lenço da cabeça e soltando os cabelos enquanto andava pela sala – ele por acaso é da sua sala ou do clube de artes?
-Peter também é cliente do piso inferior – disse Miki – ele parece adorar os objetos expostos.
-É mesmo? – perguntou ela  – esse é um hobby um pouco estranho para meninos. Então você gosta de bonecas?
-Bem...- Peter começou a responder, colocando a mão atrás da cabeça para pensar um pouco.
-Peter, você já deveria ter voltado para casa – disse Miki, levantando-se – eu vou levá-lo. Ele acabou de se mudar e ainda não conhece totalmente os arredores.
-Tudo bem – responde Kimiko – Volte quando quiser.
Os dois saem da casa de Miki. O céu está nublado, mas as nuvens estão se movimentando, permitindo que a luz da lua consiga iluminar a rua e o restante da cidade. Apenas algumas partes estão cobertas pelas nuvens.
-Você sempre é assim? – pergunta Peter à Miki.
-Assim como?
-Assim, com sua mãe. Vocês duas são tão reservadas uma com a outra. O modo como você fala com sua mãe dá a entender que vocês mal se conhecem.
Eles vão andando pelas ruas mais iluminadas. Um carro passa perto deles.
-Nós sempre nos comunicamos dessa forma. Como você se comunica com sua mãe?
-Eu não tenho mãe. Ela morreu pouco depois do parto. Então desde sempre e vivo com meu pai. Mas como ele está envolvido em uma pesquisa, me mandou para cá.
Peter não parecia tão triste ao falar isso. Miki pareceu ficar sem graça.
-Entendo. Bom, é assim que eu me relaciono com minha mãe. Sou apenas mais uma boneca para ela.
-Isso é horrível. Você é filha dela, em carne e sangue.
-Posso ser de carne e sangue, mas não sou real.
-Ah. Sua mãe sabe sobre as regras da turma B?
-Não. Mas ela não ligaria se soubesse também. Nem se soubesse se eu fosse a inexistente. E eu não vou contar à ela. É melhor.
-E o que ela acha de você ficar matando aula?
-Ou ela não se importa ou ela não interfere. Exceto em algumas coisas.
-Que coisas?
Miki ficou em silêncio e não respondeu. Peter percebeu isso.
-Bom, agora que eu sei do segredo da turma B, diga, Miki, como você suporta essa situação?
Miki acelerou o passo e ficou mais a frente no caminho.

-Não há nada que possa ser feito. Apenas fui escolhida. Se não fosse eu, provavelmente escolheriam outra pessoa. Eu ia precisar ignorar a existência de outra pessoa. Foi até melhor que me escolheram. 

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

This is Halloween






"No dia de Hallowen, a tênue cortina que separa o mundo dos vivos do mundo dos mortes fica mais frágil.Os mortos transitam entre os mortos sem problemas."








As crianças se fantasiam com roupas de monstros para se misturar aos verdadeiros seres sinistros.








                                     
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Como eu amo filmes Burtonianos e afins [Coraline não é do Burton] algumas pequenas inspirações do halloween





"O mundo fica sujeito a pequenas perturbações..."








 "Monstros criados a partir de experiências vagueiam pelas ruas desertas"





Mortos voltam ao mundo dos vivos





"O mal começa a ficar atrativo"

 Só para descontrair, uma cena que mostra como terminaria o apocalipse zumbi

Leia *-*




domingo, 27 de outubro de 2013

Explicações

Ele senta-se em um sofá, perto de uma mesa. Miki pega dois refrigerantes e entrega um a Peter.
-Por que você não começa a fazer perguntas? Assim nós chegaremos ao assunto mais rápido. E também será mais fácil de explicar.
-Pensei que você odiasse interrogatório. – disse ele, sorrindo um pouco.
-Hoje abrirei uma exceção.
Ela se aproxima um pouco mais dele.
-Primeiro lugar: Miki Yuki existe, certo?
-Você achou que eu fosse um fantasma?
-Por um instante, sim.
-Acho que era a sua única opção. Bem, eu existo como pessoa, sou um ser de carne e osso. Mas eu não existo para os alunos da turma B da 9ª série.
-Desde quando você “não existe”?
-Desde o fim de abril.
-Então é bem recente.
-Sim. O assunto começou a ser discutido no inicio de março. Porém, não ter contado nada a você foi um erro grave. Inicialmente, você teria que me ignorar, assim como todos os outros da turma B. Porém, o plano não foi concretizado. Ninguém conseguiu explicar a real situação para você. Agora, você partilha da mesma situação que eu.
-Então não se trata de um simples caso de preconceito – diz Peter.
-Nem todos eles pensam da mesma forma. Até mesmo os professores participam. Porém eles usam um método diferente. Eles não marcam minha presença para não chamarem meu nome.
-E eles isolam a turma na educação física para que outra turma não se envolva com a nossa situação
-Exatamente.
-Compreendo o fato que não existo mais para eles. Porém, o que os levou a agir desse jeito?
-Essa é a pergunta mais difícil, não é? Recorda-se da história de Yuki de 25 anos atrás? Esse foi o inicio. Após o ocorrido, a turma B ficou mais próxima da morte.
-Mais próximo da morte?
-O fenômeno ocorreu pela primeira vez um ano após a graduação dos colegas de Yuki. E quando ele se inicia, ao menos uma pessoa morre por mês. As vítimas podem ser estudantes ou relacionadas aos estudantes.
-Quando o fenômeno ocorre?
-O fenômeno ocorre quando o numero de estudantes da turma aumenta em um estudante.
-Aumenta? Como assim?
-Ninguém sabe. A verdade é que a turma tinha uma pessoa a mais. Ninguém sabia ou notava. Eles nunca sabem quem é o estudante extra. Não é possível diferencia-lo. Isso tudo aconteceu por causa do incidente de 25 anos atrás. Os alunos decidiram deixar a Yuki morta “continuar vivendo”. Eles continuaram com isso por um ano. Então no dia da formatura, Yuki apareceu na foto. Os “mortos” foram chamados de volta. Depois disso, a turma B se tornou um lugar para qual os mortos retornam.
-Mas...
-No ano seguinte, uma carteira faltou naquela sala. Isso aconteceu mesmo havendo carteiras para todos estudantes. Na época, ninguém se importou em procurar saber o que havia acontecido. Então, seis estudantes e suas famílias sofreram com a maldição. Um total de 16 pessoas morreram em 1981.
-Eles não poderiam consultar os registros da escola?
-Eles foram consultados e não encontraram as respostas. Os registros haviam sido alterados. Ainda estava faltando uma carteira.
-Alguém alterou os registros?
-Acredito que a palavra “alterou” esteja errada. Tudo está sendo ocultado impecavelmente. Dizem que até a memória dos alunos foram alteradas.
-Como?
-Parece impossível, concorda? Mas parece que é verdade.
O céu ficou nublado.
-Eu fui avisada que esse fenômeno poderia acontecer. Primeiramente, pensei que fosse apenas uma coincidência, e não pensei mais sobre o assunto. A partir de abril, pessoas que tinham relações com a turma B começaram a morrer.
-Por que as pessoas morrem quando há um estudante a mais na sala?
-Ninguém sabe. Isso apenas acontece. Além disso, esse estudante extra é sempre alguém que já morreu.
-Você está falando da Yuki de 25 anos atrás?
Ela balança a cabeça negativamente.
Ele se lembra do que estava escrito na mesa de Miki.
-O estudante extra é um fantasma ou algo assim?
-Acredito que seja uma existência diferente de fantasma que nós conhecemos. O estudante tem um corpo físico. É impossível identificá-lo. O estudante possui memória e não sabe que morreu. Apenas após a cerimônia de graduação a identidade daquele que está morto é revelado. Esse estudante extra desaparece e a memória dos outros volta ao normal.
-Quem são esses estudantes?
-Eles são pessoas com relações com a turma e que já morreram.
Peter arregala os olhos. Um frio percorre pela ponta dos dedos do pé e chega até sua cabeça.
-Eu acho que os que os estudantes de 25 anos atrás fizeram começou a atrair os mortos para nossa turma.
Peter põe a mão no queixo e começa a pensar.
-Para impedir o ciclo de mortes, os estudantes começaram a desenvolver vários tipos de contramedidas para escaparem da maldição.
-Exorcismos?
-É provável que sim. Eles tentaram estudar em salas diferentes. Mas não funcionou. Eles tentaram mudar o nome da turma para turma 2. E mesmo depois da construção do novo prédio, as mortes continuaram acontecendo.
-Então são os estudantes da turma B que são amaldiçoados?
-Sim.
-Então, 10 anos atrás, eles encontraram um modo de resolver o problema. Eles encontraram um modo de evitar a morte das pessoas.
-Não me diga que... – Peter não conseguiu terminar a frase.

-Eles ignoram a existência de uma pessoa para compensar a existência do aluno extra. Desse modo, o número de estudantes volta ao normal e a maldição pode ser evitada por um ano. Eu sou um amuleto de boa sorte – disse Miki, olhando fixamente para Peter.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Não existir

Peter sai da escola e vai andando pela cidade. Enquanto anda, ele começa a pensar: Desde que eu vim para cá em maio, os problemas surgiram e eu ainda não tive respostas. Será que eles não veem Miki Yuki ou ela não existe? Ele anda mais alguns passos com essas palavras na cabeça. Mas, pensa ele novamente, se eu pensar na lógica, isso faz sentido. Miki Yuki existe, mas, todos tratam a estudante Miki Yuki como se ela nunca tivesse existido.
Peter se depara com a loja de bonecas. Ele entra e vai ao andar de baixo. Lá há as mesmas bonecas de antes. Elas estão penduradas onde há espaço e encostadas em todos os lugares. Ele observa a boneca dentro do caixão semelhante a Miki, e ele olha para o lado, onde ela está.
-O que houve? – pergunta ela – eu não esperava uma ligação sua.
Ele retira os dois papéis dobrados de dentro a sua mochila e os entrega a ela. Ela desdobra o primeiro. Lá está escrito uma mensagem escrita à mão. “Desculpa. Peça detalhes à Miki” na outra folha havia uma lista dos alunos da turma B da 9ª série da turma de 2005. Um dos nomes estava com duas riscas vermelhas. Era o nome de Miki Yuki.
-Vejo que você tem uma cópia da lista dos alunos da turma B. O que deseja saber?
-Você soube que Breno morreu? Ele teve um infarto. Todos sabiam que ele tinha problemas cardíacos.
-Entendo –disse ela olhando para baixo – então a segunda morte de junho foi causada por uma doença.
-Além disso, quando eu cheguei na escola hoje, todos estavam agindo estranhamente. Acho que todos estavam me ignorando.
-Então é esse o plano deles? – pergunta Miki, de braços cruzados.
-Quer dizer que eu estou na mesma situação que você?
Ela sorri e olha nos olhos dele.
-Como é não existir?
-Não é agradável, mas estou aliviado.
-Aliviado?
-Agora eu tenho certeza que Miki Yuki existe.
Ela sorriu.
-Essa é sua casa, não é?
-Sim, eu pensei que você já soubesse disso.
-Não tem ninguém mais aqui. A senhora na recepção não mentiu quando disse que não tinha outros clientes. Foi a sua mãe que atendeu a minha ligação?
-Sim. Ela ficou surpresa. Ninguém da escola nunca ligou para mim.
-Kimiko é a sua mãe? Ela quem faz as marionetes?
-Bem, sim. Kimiko é apena um pseudônimo. Ela gosta se ser chamada de Kimiko. Ela é uma mulher estranha que vive isolada do mundo em seu ateliê. Aquela na entrada e a sogra de minha mãe, ou seja, minha avó.
-O “Y” do ateliê é o “Y” de “Yuki”?
-As coisas começaram a fazer sentido. Bem simples, não?
-E seu pai?
-Ele deve estar no meio da Ásia no momento. Ele não fica mais que um semestre aqui na Inglaterra. Ou outros 6 meses ele fica em Londres. Minha família não é nada conectada. Mas isso não é nada.
Ela mexe nas cortinas atrás do caixão e desaparece atrás delas. Ela volta e diz:
-Vamos ao segundo andar.
Ele passa pela cortina e vê Miki em frente a um elevador. Ela pressiona o botão que aponta para cima.
-Sabia que havia um elevador aqui?

Ele balança a cabeça negativamente, com a expressão do rosto um pouco espantada. Eles entram no elevador, que os leva lentamente até o segundo andar da casa.

sábado, 19 de outubro de 2013

Invisível

A morte de Laura, a irmã de João, Débora, Breno, isso será coincidência ou...
5 de junho. Peter chegou à escola. Ele anda pelos corredores, que estão com alguns alunos de várias turmas da 9ª série. Ele passa perto de uma escada. A professora Júlia está descendo as escada e passa por ele.
-Bom dia, professora Júlia. – diz Peter – está cedo, o sinal ainda não tocou.
Ela passa por ele e não o cumprimenta. Ela nem o olha. Ela se vira e desce as escadas.
Peter chega na sala de aula, abre a porta e entra. Todos os alunos já estão na sala, sentados e nenhum se vira para o barulho da porta abrindo. Lucas e Bruna estão à frente, falando alguma coisa.
-Então é isso. Acho que vocês não têm perguntas – diz Lucas.
Peter cutuca as costas do garoto que senta à sua frente, perguntando se algo aconteceu. Ele não se move. Lucas e Bruna terminam de falar e cada um se dirige à sua carteira. O professor vai à frente do quadro e fala.
-Vamos rezar pela alma de nosso colega Breno. Que ele possa descansar em paz. Muitas coisas horríveis têm acontecido. Nós estamos passando por muitos momentos difíceis. Mas não percam a esperança e não desistam. Juntos nós passaremos por estes momentos. Nós iremos conseguir sobreviver à tragédia. A professora Júlia está passando por momentos difíceis, mas ela nos ajudará o máximo que puder. Então, por favor, prometam proteger o que nós dissemos. E lembre-se de respeitar as regras da classe.
No intervalo da aula, Peter chama por Gabriel. No entanto, ele se levanta e vai embora, sem falar com Peter ou olhar para ele. O que está acontecendo? Pergunta Peter a si mesmo. Peter em seguida, sai da sala e disca o número de Miguel. Ele escuta “A operadora informa que o número para o qual você está ligando encontra-se fora de área ou desligado.”. Em seguida, Peter vê Miguel subindo as escadas e indo em direção à sala.
-Ei, Miguel! – grita Peter.
Porém ele não responde. Ele olha um pouco para a posição de Peter, mas em seguida continua seu caminho. Na sala, Gabriel e Miguel começam a conversar sobre um jogo.
-Ei! Miguel! Gabriel! – grita Peter para os dois.
Mas eles o ignoram. Gabriel se despede de Miguel e vai para fora da sala.
-Miguel! – grita Peter mais alto.
Mas nada.
-Está um pouco barulhento aqui – diz Bruna, se aproximando dos dois – o que está aprontando? Conversando sozinho?
Depois disso, ninguém mais falou com Peter ou reagiu a ele. As pessoas simplesmente se afastavam sem dizer uma palavra. Elas eram tão amigáveis na semana passada. Agora é como se não pudessem me ver... Peter prende-se a esse pensamento por um instante. Ele então se lembra de Miki falando que as pessoas não podiam vê-la. El se lembra de Gabriel falando sobre algo que poderia vir a acontecer, e que o deixaria infeliz.
Durante a aula de literatura, Peter se levanta fazendo barulho e sai da sala. Nenhum colega se importa.
-Então era disso que estavam falando? – pergunta ele para si mesmo.

Ao final da aula, ele retorna à sala e começa a guardar suas coisas na sua mochila. Dois papéis dobrados caem por entre os livros. Ele pega um deles e olha.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Chocolate quente



Há dias que o chocolate quente combina melhor com um livro do que o chá.
Chocolate Quente + A Casa de Hades


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Salve salve o machismo nosso de cada dia

O mundo é machista. Você ainda vive sobre um teto onde o mundo está do lado dos homens e as mulheres ainda são vistas como submissas. Ainda duvida?
Homem que pega geral - o bom
Mulher que pega geral - Puta
Nas coisas do filho é encontrada uma camisinha - que lindo, o filho tá virando um homem
Nas coisas da filha é encontrada uma camisinha - POR QUEEE? no que os pais erraram na educação?
Homem beber antes dos 15 - tá virando macho
Mulher beber antes dos 15 - vai seguir caminho errado
Homem que faz balé - é viado, balé é coisa de mulher ou bicha
Se o homem quiser viajar com a namorada, os pais não se opõe
Se a mulher quiser viajar com o namorado, os pais a trancam a sete chaves
Homem que casa virgem -pfff, sem comentários
Mulher que casa virgem - Não fez nada mais certo do que isso
Homem - livre para namorar, livre para fazer sexo, livre para tudo
Mulher - tem que ser pura, senão não presta. Sexo só depois de casar e não pode fazer nada além do necessário.
Arrumar a casa - serviço de mulher
Mulher que dá mole - serve só para diversão, não presta para casar
Mulher que difícil - Não quer fazer nada que homem quer, é muito sem vontade


sábado, 12 de outubro de 2013

Sozinha


Desci, entrei na cozinha e tudo estava como no dia anterior. Exceto pela falta de alguém.
A casa estava totalmente silenciosa. Eu ouvia o farfalhar das folhas ao vento do lado de fora, a geladeira funcionando e as batidas do meu coração. O resto era silêncio absoluto, silêncio de morte.
Procuro pela casa algum sinal de vida, mas não há ninguém, somente eu. Estou sozinha em casa. Acho que dá para sobreviver.
O ritmo dos meus batimentos cardíacos acelera. Minha respiração também. Ouço passos na escada. Corro até a porta, mas ela está trancada.
Me trancaram! Como puderam fazer isso? Agora tem alguém lá em cima tentando me matar e eu não tenho para onde fugir.
Os passos se aproximam. As paredes começam a me pressionar. Não tenho mais para onde ir, não tenho um lugar para me esconder.
Talvez se eu ficar atrás desse sofá, eles não me verão. Mas o meu coração irá me trair novamente, como ele sempre faz.
Vejo a sombra de meu assassino em cima do sofá. Será meu fim.
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'Meu bem, o que você faz escondida atrás do sofá? Calma, não chore.'

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O terceiro

-Então sinta-se livre para perguntar. Prometo dizer tudo que você quiser. Tudo que sei eu vou te responder.
-Breno, você está certo disso? Você quer mesmo fazer isso? –perguntou Gabriel aflito.
Peter franze a testa. Ele sabe exatamente o que perguntar.
-Então responda. Miki Yuki existe?
-Miki Yuki é... – começa ele.
Porém, ele se curva um pouco para frente e coloca a mão no peito. Sua cara se fecha em uma careta. Ele derruba a mochila no chão, seus joelhos se curvam para frente, fazendo-o ajoelhar. Logo em seguida, ele cai de lado no chão. Ele começa a se contorcer e se encolhe todo. Gabriel solta sua mochila e ajoelha perto de Breno.
-Breno! Breno! – grita.

Peter arregala os olhos e não consegue se mover. Ele está em choque. El se recupera do choque e vai até os dois colegas. Breno está com as duas mãos no peito, segurando sua camiseta. Seus olhos estão arregalados, demonstrando dor. Sua cabeça está virada para o céu. Gabriel está ajoelhado perto de suas costas, ele segura no tronco de Breno, mas não sabe o que fazer. Ele olha chorando para Peter, que presencia a cena ainda de pé. Breno continua se contorcendo. Ele está babando e seus olhos estão se revirando. No canto dos olhos pode se ver nitidamente os vasos sanguíneos.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A verdade

Os três passam próximo ao rio da cidade. Eles estão na parte onde podem encostar na margem, pois essa parte é bem rasa. Há plantas em toda essa margem, a rua não é usada por carros, portanto ela é um pouco estreita. A ponte por onde circulam os carros e as pessoas não está longe, e a margem oposta é bem mais utilizada pelas pessoas.
-Para onde foram todos no 6º horário? – pergunta Peter.
-Fomos ao ginásio resolver alguns assuntos. Peter, desde que você chegou a essa cidade você passou por algumas experiências estranhas, não é?
Peter andava na frente. Nesse momento, ele parou e se virou para Gabriel.
-Você notou. Poderia me contar? – perguntou Peter ansioso.
Gabriel olhou para o lado do rio.
-Infelizmente não. A única coisa que posso dizer é que algo que irá acontecer nos próximos dias te deixará infeliz.
-O que você está dizendo?
-Durante a reunião no ginásio, Bruna disse que deveríamos discutir um assunto importante. Longe de você. Ela disse que coisas desagradáveis começaram a acontecer, e ela espera que possamos lidar com isso. Ela está acostumada a lidar com essas coisas. Entretanto, se odiar o que irá acontecer, eu peço que você seja forte e suporte. Lembre-se que você estará se sacrificando por todos nós.
-“Por todos nós?” – repete Peter. Ele se lembra de Bruna falando sobre algo para o bem de todos – por acaso essa é uma regra da turma?
Gabriel balança a cabeça afirmativamente.
-Eu não estou entendendo nada. – diz Peter, enquanto ele desce uma escada que leva à margem do rio. – posso pedir um favor a você?
-O que? – pergunta Gabriel.
-Eu quero uma cópia da lista de alunos da nossa turma.
-Você não recebeu uma, quando foi transferido?
Breno se aproximou de Gabriel.
-Isso não é justo com ele. Não concordo com os métodos da Bruna. Não é justo que ela decida essa solução. Peter, acredito que há muitas coisas que você não entende ou desconheça.
-Sim, exatamente.

Gabriel arregala um pouco os olhos e se aproxima de Breno.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Decisão

Peter saiu da sala e fechou a porta atrás de si. Ele volta a se lembrar dela e começa a  lacrimejar. O incontestável vazio que a morte trouxe está me matando, pensou ele. Ele anda silenciosa e pesarosamente pelo corredor, que parece mais escuro. Ele finalmente chega em sua sala e abre a porta. Porém, a sala está completamente vazia. Os alunos não estão na sala de aula, porém as mochilas e os cadernos estão nas carteiras. O nome de Bruna está escrito no quadro. Ele se lembra dela, de como sua personalidade é tão diferente da de Miki. Ela sempre está rodeada de pessoas, mas consegue assustar Peter, com seu jeito sério e quando fala de forma ameaçadora. Peter vai andando pela sala e para em frente à mesa de Miki. Ele passa os dedos pelas rachaduras e pelos traços que deixam a mesa dela ser tão velha. Por que só a mesa dela é velha? Pensa ele. Ele então desliza os dedos e sente um pouco de grafite. Ele retira a mão do lugar e vê uma escrita. “Quem será o morto?”. Ele arregala os olhos quanto às palavras que estão juntas, formando a frase.
-Peter – chama o professor, um pouco sério – os oficiais da polícia já terminaram o interrogatório?
-Sim
-Entendo. Bom, você está livre para ir para casa.
-Por favor, onde estão todos?
-A nova representante de classe foi eleita durante a chamada. Bruna foi a escolhida.
-Mas, onde estão todos?
-Eu sei que a notícia sobre a morte da irmã do João foi um choque, mas você não pode ficar deprimido. Tudo vai ficar bem – disse ele, abrindo um sorriso, um pouco forçado – se trabalharmos duro, nada será impossível. Então por favor, não se esqueça de cumprir as regras da classe.
Peter pega suas coisas no seu armário, mas espera o término das aulas para ir embora. Enquanto os alunos pegam as suas coisas na sala de aula e vão até a saída, Peter espera perto da porta, encostado em uma parede próxima aos armários. Gabriel e Breno passam conversando e Peter dá olá para eles. Eles o olham com uma expressão um pouco espantada. O silêncio passa a reinar neles, assim que Peter fala com eles.
-Vamos voltar juntos? – pergunta Peter.

Gabriel olha para baixo, um pouco triste.