Na escola, Peter é apresentado ao professor Tetsuo e à
professora assistente, Júlia. Eles o levam pelos corredores até chegar à sua
sala, a classe B. Ele se apresenta à turma e percebe que Bruna não está na
sala. O professor Tetsuo indica uma carteira situada mais ou menos no meio da
classe e fala:
- Faremos o possível para que todos possam se graduar em
março.
Ao se sentar, Peter
nota Miki, na última carteira, perto da janela. Ele nota também que a turma
inteira é muito quieta. Isso é normal quando as pessoas não se conhecem, mas já
se passou quase um trimestre desde o início das aulas. Além disso, todos falam que se
graduar é uma tarefa quase impossível. As aulas foram um pouco entediantes,
somada com a estranha quietude da sala, Peter começa a ficar sonolento. Bate o
sinal do intervalo. Seus colegas vão conversar com ele e o enchem de perguntas:
Como foi no hospital? O que você acha dessa cidade, comparada
com Londres? É verdade que seu pai é um professor em uma pesquisa no Canadá?
Como era sua antiga escola? Aqui é mais frio ou mais quente? Você acha aqui
muito barulhento? Em cidades pequenas não acontece nada, não, é? Você gosta da
professora Júlia? Gosta de mulheres mais velhas e inteligentes? Que tipo de
mulheres você gosta?
Peter olha para a mesa onde Miki estava, e nota que a mesa é
um pouco velha e rabiscada. Lucas pergunta se algo o incomoda. Peter apenas
responde:
-Eu estava procurando a outra garota que me visitou, a
Bruna. Ela não veio às aulas hoje?
-Parece que não veio – responde Lucas.
- Ei, como está na hora do almoço, quer que lhe apresentamos
a escola? – perguntou um garoto alegre, com cabelo claro – Eu sou Miguel.
- A sim, adoraria. É muito ruim não conhecer nada na escola
nova.
Após Miguel e Lucas mostrarem a escola, Peter fala:
-Ei Miguel, parece que você e Lucas são bem próximos.
-Exatamente – respondeu Miguel – eu e Lucas nos conhecemos
desde o jardim de infância, e sempre estudamos juntos.
- É mesmo – disse Lucas – o Miguel era chato e não cresceu
muito em maturidade.
- Em compensação, você ficou um nerd muito chato e sério,
Lucas – respondeu Miguel.
Porém a conversa tomou outro rumo, pois Miguel, com uma cara
muito séria, perguntou a Peter:
- Você acredita em fantasmas, espíritos, maldição, essas
coisas, Peter?
- E visões sobrenaturais – acrescentou Lucas, num tom um
tanto quanto sombrio – mas não apenas nisso, mas também em poderes psíquicos,
coisas que são atualmente inexplicáveis através de métodos científicos.
- Bom – respondeu Peter, um pouco assustado – eu basicamente
não acredito em nada disso.
- Não importa o que acontecer? – perguntou Lucas.
- Acho que... – responde Peter, um pouco apreensivo – se
algo surgisse na minha frente, e se houvesse alguma evidência provando a
“identidade” desse algo, talvez...
Lucas e Miguel trocaram olhares um pouco angustiados e
sombrios. Peter, não gostando do nível da conversa, despediu-se dos dois e ando
pelo corredor. Lucas e Miguel não entenderam porque ele saiu andando, e ficaram
se perguntando por que ele se foi.
Peter saiu do prédio e viu Miki sentada num banco embaixo de
uma árvore do jardim da escola. Ela estava com uma cara de indiferença a tudo,
segurando um livro. Peter chegou perto dela:
-Oi. Eu sou Peter, sou novo aluno na sua classe, então...
Ela olhou friamente para ele, levantou-se e falou com ele:
- É melhor você tomar cuidado.
E então fechou o livro e saiu andando.
-Hey, o que você está fazendo? – perguntou Miguel, da porta
do prédio – o sinal já tocou, nós vamos nos atrasar para a aula de educação
física.